Hoje ficámos todos um pouco mais pobres.
António Sergio, para alguns um desconhecido, foi o nome maior da rádio portuguesa nos últimos 30 anos. Difusor incansável de novas tendencias, deu novos mundos ao mundo, tendo feito muito iliteratia musical que aqui vingou até meados da década de 70...
Sendo uma pena, pois para lá de pesquisador e trabalhador incansável, era uma excelente pessoa.
De certa forma sempre fez parte do meu imaginário juvenil, pois sempre fui muito ligado às coisas da música; existem certas memórias visuais que nunca nos deixam, acompanham toda a nossa vida, sobre alguns momentos que consideramos especiais. Sobre o António Sérgio sempre que o seu nome me vinha à mente (bastando para isso vir a más horas do emprego e sintonizar a Radar no caminho de regresso a casa), recordo-me sempre de um cenário, já tão longincuo: por volta de 84/85 estudava eu no nono ano, tinha as tardes livres, dado as aulas serem matinais; quando necessitava de estudar recorria à cozinha da casa dos meus pais, pois possuia uma mesa enorme e era a divisão mais solarenga da casa. Como companhia havia um rádio enorme, daqueles ainda de madeira, que demoravam vários minutos a aquecer, outros tempos...
Nesse periodo a Radio Comercial era a frequencia habitual, pois possuia uma sequencia de programas notável, ao longo de toda a tarde. Começava (peço que me desculpem mas já não me recordo com exactidão das horas, nomes e títulos) com um programa do Adelino Gonçalves, salvo erro de nome Discoteca, entre as 13 e as 15, depois havia outro cujo nome me escapa, e por volta das 16 entrava o enigmatico tema de introdução do Som da Frente. Houve vários jingles de abertura ao longo dos anos: um dos germanicos Propaganda, outro dos Xutos, outro ainda - mais tarde, preparado pelo Ricardo Camacho da Sétima Legião. Quem (como eu) à data vivia imerso na mediocridade cultural do Portugal dos anos 80, que oferecia pouco e invariavelmente do mesmo, recebe subitamente um cocktail de sons, cheiros e sabores completamente distinto do habitual, pasma...
Em particular se tiver 15 anos...
A partir daí segui sempre o seu percurso, e as suas sugestões, que me permitiram ter uma biblioteca musical, e de certa forma cultura musical, "anormal". Uns anos mais tarde andei também pelas radios, obviamente a plagiar-lhe o estilo (

), enquanto duraram as piratas.
Ao António Sérgio a minha gratidão por tudo aquilo que me (nos) deu, sem nada nos ter pedido em troca. Talvez tenha pedido um Benfica mais vezes campião...
Até sempre António Sérgio, agora tens o teu direito à diferença.