Já lá vão 4 meses desde que vos contei a parte 1 do próximo filme de Estêvão Cigala - "River Bail Out" (tradução provável para português: "Estrilho no Ribatejo"). Embora tivesse elaborado no dia seguinte a narrativa da parte 2 do filme, a falta de tempo e alguma preguiça fizeram com que não passasse ao papel (digo, computador) senão agora. Então aqui está, emprimeiríssima mão a parte 2 do filme, a cujas filmagens assisti ao vivo. recomendo, antes de mais, que leiais a parte 1, que é o post anterior, para poderdes seguir no contexto esta parte 2.
RIVER BAIL OUT - PARTE 2
Cerca de um mês após a festa de Nossa Senhora do Castelo, portanto, em meados de Setembro, Estêvão Cigala cumpriu uma vez mais a tradição: rumou a pé, em peregrinação a Santo Estêvão, seu padroeiro, para lhe prestar homenagem na sua festa anual. Santo Estêvão fica 20 km a sudoeste de Coruche, partindo pela estrada desde o Monte da Barca, junto à fábrica, onde ele se encontrou com a sua amiga Alzira, que o acompanhou nessa jornada.
Na festa, muito conhecida pelas costumeiras largadas de touros, Estêvão rezava a seu padroeiro na igreja local (digo rezava, porque se encontrava de joelhos, de cabeça baixa, olhos fechados e em silêncio demorado, pelo que não devia estar a fazer outra coisa!), quando cá fora, os altifalantes anunciavam coisa desagradável para ele:
Altifalante – Hoje teremos a honra de apresentar uma vez mais uma fabulosa largada de touros, que este ano serão oriundos da ganaderia de Zé Bull, que promete festa brava para todos!
Desde que Estêvão desancara os capangas de Zé Bull na ponte metálica um mês antes, que Zé Bull não via a hora de se vingar, e ele bem sabia que era uma questão de tempo que isso acontecesse, pois o Bull era teimoso que bastasse… E apesar dos capangas ainda estarem em convalescença, Cigala não demorou a perceber que ia haver sarilhos outra vez…. De facto, ao fazer “shopping” com a amiga nas barraquinhas da festa, aconteceram encontros imediatos…
CIGALA – Dê-me uma saquinha de coentros, se faz favor. São frescos?
VENDEDORA – Aqui está, senhor! Isto é do melhor, um arrozinho com isto fica de chorar por mais!
ALZIRA – Estêvão, olha quem está ali: o Zé Bull, e pelos vistos aqueles tipos com ele são capangas novos!
CAPANGA – (para o patrão) – Então esse é que é o xau-xau? Com uma fita na cabeça e uma pena, jurava que era um índio, ah ah! Não fossem os olhos em bico… ah ah ah!
Este comentário, propositadamente em voz alta, foi uma primeira manobra de desestabilização para intimidar Cigala, mas este, no seu estilo, fez como se não fosse nada com ele, embora comentando com a amiga:
ESTÊVÃO – Já vi este filme antes…
ALZIRA – Mas como é possível, Estêvão? O filme ainda está a ser rodado!!!
A amiga não percebera que ele referia-se à semelhança desta cena com a que se passou na festa de Nossa Senhora do Castelo, em Coruche, um mês antes, onde também foi provocado. Por causa disto, a cena teve que ser repetida, para raiva do realizador.
Momentos depois, estava Cigala com a saca de coentros e a amiga a mirarem um cartaz da festa, onde exibia o cabeça de cartaz, um acordeonista de bigode e chapéu, quando os capangas do Zé Bull voltaram à carga, cantarolando.
CAPANGA 1 – Eu sou o mestre da coentrada, e sei enfeitar a terrina!…
CAPANGA 2 – Com tanto arroz, com tanto arroz, com tanto arroz, devias era ir a correr prá China!
Cigala virou-se para eles e pôs-se a olhá-los fixamente, sem dizer uma palavra, por algum tempo… Ali à volta, começava-se a adivinhar alguma tensão, e vários dos presentes começaram a prever que iria sair lambada a qualquer momento… Um deles era o disc jockey da festa, que até decidiu pôr música a condizer.
Cigala foi apreçar melões e melancias numa barraca onde o cheiro convidava a uma prova dos suculentos frutos… E os capangas continuavam as provocações, enquanto ele apalpava os melões e a amiga ficava com um pouco de ciúmes.
ALTIFALANTE – Lambando istará, ao lembrá dji um amô, qui um djia não soubi cuidá-á-á!
CAPANGA – Ó Pingo Doce, cuidado como apalpas, que isso não é a tua garina! Ah, ah ah!
Esta boca foi a gota d’água para Estêvao! Como já se sabe, o pior que lhe podem fazer é apelidá-lo de marca branca! Subitamente deu meia volta, lançando um melão direitinho ao capanga do Zé Bull, que apesar de ir a girar, a câmara de filmar que levava mostrou a testa do capanga a vir de encontro ao ecrã, até enchê-lo todo e… PAAFFF!!!!… capanga desmaiado no chão e um melão esborrachado e partido em três ali à volta…
Enquanto o povo em volta ficava espantado com o sucedido, comentários eram feitos e um cão veio provar os pedaços do melão esborrachado, Cigala sorriu para a vendedora dos melões, e perguntou quanto era.
VENDEDORA – Ó Senhor, sem pesar, não sei! E agora já não posso…
ESTÊVÃO – Olhe, faça de conta que pesava 3 quilos… Tome, fique com o troco, e logo passamos por aqui para levar mais um.
Zé Bull, à distância, estava pior que um cão, ao ver mais um de seus capangas fora de combate… Sim, porque o cão, ao menos, refastelava-se com um belo melão, e ele, por seu turno, até fumegava!
Ao início da tarde, Estêvão retirou-se com sua amiga para a beira da ribeira de Santo Estêvão… O dia soalheiro e tranquilo convidava a repousar o olhar no curso de água com o nome do seu santo padroeiro, no seu curso sossegado, a caminho do estuário do Tejo, onde desaguava mais adiante, entre Vila Franca e Alcochete. Ao chegar junto à ribeira, Estêvão e a amiga tiveram uma visão deprimente… Um pouco a montante, perto dos atrelados e camiões da ganaderia do Zé Bull, uma enorme mancha castanha horrível espalhava-se na água em redor, por muitos metros à volta! Não havia dúvidas de quem era o responsável por mais aquele atentado às águas calmas ribatejanas… Para piorar a desilusão, chegou um homem com meia dúzia de crianças junto à ribeira.
HOMEM – Eu não vos disse? Aquilo ali é Cola Cao! Depois de brincarmos, vamos lanch…
MENINA – Eu não gosto! Só bebo Ovomaltine!!!
HOMEM – E vais ver que vai ser também isso, a partir das 5 da tarde, vais ver!
MENINO – Então e porque é que não é Suchard Express???
HOMEM – Isso vai ser depois!… Vá, venham brincar, vou ensinar-vos umas brincadeiras novas!
A pedido da amiga, Estêvão resolveu intervir:
ESTÊVÃO – Ó artista, antes que te ponhas a dizer que aquilo também vai ser Milo ou Toddy, queres que te mande já lá para dentro para provares, ou queres pôr-te a mexer daqui?
O tipo, tendo de manhã presenciado a destreza de Cigala com os melões, meteu o rabo entre as pernas (na verdade, não conheço outro lugar para ele!) e desandou, despedindo-se sumariamente das crianças, alegando necessidades fisiológicas repentinas.
(FIM DA PARTE II – tempo de intervalo)
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