isso de dizerem que o Scolari n renovou e' uma grande treta desculpem la'....
Um dos vários argumentos para o eminente falhanço queirosiano (que nunca engloba a culpa própria ou a incompetência), é a ausência de renovação feita por Luiz Felipe Scolari ao longo dos seis anos que ocupou o cargo de seleccionador nacional.
Um seleccionador não é responsável, em primeira instância, pelo sucesso ou insucesso, competência ou incompetência dos jogadores e dos treinadores das equipas nacionais e dos seus escalões de formação. Qual é o papel e a responsabilidade de Scolari, ou de qualquer seleccionador português, pelo desenvolvimento do escalão juvenil do Benfica? Aqui é difícil atribuir responsabilidades ao seleccionador, mas é isso mesmo que Queiroz tem tentado fazer transparecer. No entanto, um seleccionador tem responsabilidade mais que directa nos escalões de formação das selecções jovens, onde não se podem apontar grandes feitos a Scolari, devido à sua quase despreocupação e demissão de responsabilidade, como naquele caso em que disse "o chefe das sub-21 sou eu!", antes de um Europeu de má memória.
Por isso mesmo, para verificar que o argumento da ausência de renovação da selecção na Era Scolari é falso, faço uma lista dos jogadores introduzidos por Felipão que conseguiram ganhar um posto na equipa de todos nós, ou que não o tendo ganho, tinham condições para tal. Divido a Era Scolari (num total de 61 jogadores utilizados, creio) em 3 períodos.
Do Mundial 2002 ao Euro 2004
Após o desaire no Mundial do Oriente, a selecção nacional apresentava-se aos olhos dos adeptos como "velha e cansada". A geração que tanto prometia parecia estar a acabar sem deixar uma marca importante no futebol sénior. A equipa herdada de António Oliveira continha um lote de jogadores que não andava muito longe disto: Baía, Nélson, Ricardo, Jorge Costa, Fernando Couto, Beto, Jorge Andrade, Abel Xavier, Caneira, Rui Jorge, Frechaut, Petit, Paulo Sousa, Paulo Bento, Figo, Capucho, Rui Costa, Hugo Viana, Pedro Barbosa, Sérgio Conceição, João Pinto, Pauleta, Nuno Gomes, Sá Pinto, Simão, Quim e Secretário.
Com a chegada de Scolari, deste lote de 27 jogadores, apenas 12 aguentaram a transição do Mundial do Oriente para o Euro-2004. Nestes dois anos, e fruto das boas campanhas europeias do FC Porto e do futebol atractivo do Benfica, vários jogadores foram lançados, dando novo sangue à selecção. Entre 2002 e 2004, Scolari promoveu várias chamadas, sendo as de maior destaque Moreira, Paulo Ferreira, Miguel, Nuno Valente, Ricardo Carvalho, Costinha, Maniche, Tiago, Cristiano Ronaldo, Deco e Hélder Postiga. Onze jogadores! Em menos de dois anos! Se isto não é renovação é o quê? Ainda por cima tudo jogadores de qualidade inquestionável (tirando o Costinha, vá, que fez carreira com base numa ideia de super-jogador quando era um super-calhau).
Do Euro 2004 ao Mundial 2006
A primeira fase de renovação, de todas elas a mais difícil e arriscada, foi muito bem sucedida. Mas não bastava ficar por aqui: com um grupo novo, e preparando os novos ciclos, a selecção tinha de combinar duas vertentes: ganhar e renovar. Ambas foram muito bem conseguidas. Durante os amigáveis, fase de qualificação e Mundial de 2006, muitos jogadores de qualidade foram lançados, ou relançados, por Scolari. São casos disso Marco Caneira, Jorge Ribeiro, Ricardo Rocha, Fernando Meira, Manuel Fernandes, Hugo Viana e Hugo Almeida. Falamos de mais 7 jogadores. Deste grupo, Caneira, Meira e Hugo Viana já tinham sido convocados por outros seleccionadores, mas nunca tinham verdadeiramente jogado pela selecção, tendo feito apenas parte das convocatórias. Jorge Ribeiro e Ricardo Rocha, apesar de terem uma passagem efémera pelas quinas, não conseguiram dar continuidade às chamadas de Scolari não por falta de qualidade ou potencial, mas por terem escolhido rumos para as suas carreiras que os prejudicaram bastante (a saída do Benfica para o Tottenham no caso de defesa-central e a ida para a Rússia por parte do irmão de Maniche). Manuel Fernandes foi lançado, quem sabe, demasiado cedo, sendo demasiado jovem para se impor na equipa, apesar de eu manter a convicção de que é um jogador com um potencial e qualidade tremendas. Hugo Almeida, lançado neste tempo, não conseguiu afirmação imediata, derivado de haver outros pontas-de-lança com maior qualidade, casos de Pauleta e Nuno Gomes, mas começa agora a mostrar serviço, tendo já alinhado como titular em alguns jogos importantes, com Queiroz.
Do Mundial 2006 ao Euro 2008
Muita gente apontou este período como o mais difícil da Era Scolari. Foi-o, efectivamente. Já não havia o elã de anos anteriores. A selecção tinha perdido os verdadeiros líderes dentro de campo, Luís Figo, Rui Costa e Fernando Couto, ficando agora entregue a um conjunto de jogadores de grande qualidade como Simão, Nuno Gomes, Ronaldo, Ricardo e Ricardo Carvalho, mas sem o carisma dos anteriores. Contudo, é mais uma vez errado afirmar que neste período não houve renovação. Naquele período foram lançados Rui Patrício, Bosingwa, Pepe, Bruno Alves, Tonel, Miguel Veloso, Raul Meireles, Nani, Ricardo Quaresma, João Moutinho e Makukula. São mais 11 jogadores. Patrício, apesar de não ter jogado, ou te ter feito apenas um jogo, não sei ao certo, tem qualidade e pode muito bem vir a ser o futuro guarda-redes na baliza da selecção. Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Moutinho, com relativa facilidade, conquistaram o seu espaço, actuando como titulares em algumas ocasiões. Tonel e Makukula, por razões diferentes, não conseguiram impor-se: para Tonel havia demasiada competitividade no seu sector, enquanto para Makukula a perda da titularidade foi fundamental para a perda, também, do comboio dos escolhidos. Veloso e Meireles, foram conquistando o seu espaço (e ainda hoje o fazem) a pouco e pouco. Num sector onde, desde a saída de Petit, não houve ninguém a pegar de estaca, estes jogadores de Sporting e Porto, respectivamente, têm mostrado qualidade para poderem ser titulares. Por fim, Nani e Quaresma, que lançados como alternativas a Simão e Ronaldo, tiveram dificuldades em assumir-se como escolhas para o onze, devido à boa forma dos outros dois atletas, apesar de ser unânime que ambos têm qualidade.
Resumindo, nesta renovação scolariana, ao contrário do que Carlos Queiroz tenta escamotear, a selecção nacional ganhou cerca de 25 jogadores, ou seja, no período de seis anos, a selecção foi totalmente renovada por Scolari. Inegável.
Uma coisa é renovação. Outra coisa bem diferente disso é experimentar. Edinho, Brandão, Eliseu, entre outros, não são exemplos de renovação, mas sim de experiências, ainda por cima falhadas. Um seleccionador tem de saber trabalhar com o material que lhe dão, e isso não parece estar ao alcance de Queiroz. Tão grave como não conhecer as próprias limitações, é afirmar que Scolari não fez a dita renovação e propor a seguir que se naturalize todo o brasileiro que souber jogar à bola. E custa pensar que este foi o pai da formação, o pai da Geração d'Ouro.