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O Verão quente
10/08/09 00:10 | António Costa
O país está a viver um Verão quente, e não é por causa do defeso futebolístico, nem sequer por causa de uma oferta hostil de um banco sobre outro banco.
É uma agitação que envolve a comunicação social e a televisão e uma figura central como José Eduardo Moniz. Por isso, tem também a exposição mediática que se viu, ouviu e leu nas últimas semanas.
Faço, desde já, uma declaração de interesses: escrevo sobre um tema no qual o accionista único do Diário Económico - a Ongoing - está envolvido, directa e indirectamente, ao contrário de outros, com os mesmos conflitos de interesse ou mais, mas que escrevem como se não tivessem nada a ver com o assunto. Sob a forma de notícia e opinião.
A agitação deste mês de Agosto, o caso Moniz, a TVI e a Ongoing, têm algumas explicações de fundo, nenhuma delas virtuosa para os que a promovem: a Impresa, dona da SIC e do Expresso, precisa de reforçar a sua estrutura financeira para crescer. Poderia fazê-lo de duas formas: em primeiro lugar, através da geração de recursos pela sua actividade; em segundo lugar através de um aumento de capital. Ora, os resultados operacionais mostram como é difícil seguir o primeiro caminho e Francisco Balsemão não tem condições, sozinho, para assegurar a segunda opção. Sobra assim um reforço de capital que a Ongoing propôs e que resultaria na diminuição do peso accionista de Balsemão na empresa que fundou, em conjunto com históricos como Luís Vasconcellos, já desaparecido.
O problema não é Francisco Balsemão ter outras ideias para o futuro da Impresa, e recusar esta proposta. O principal problema é que, sem declarações de interesses, surgem notícias que apenas servem para desviar as atenções e para distrair, para catalogar a Ongoing como uma peça de outros interesses menos claros, quando são elas próprias portadoras de interesses claros e óbvios.
Serve, por exemplo, para distrair ou desviar as atenções o apelo implícito ao envolvimento dos partidos da oposição na decisão da Media Capital e de José Eduardo Moniz de rescindirem o contrato. À melhor maneira do Bloco de Esquerda e do PCP, discute-se o silêncio dos partidos, que, presume-se, deveriam pronunciar-se. Mas pronunciar-se sobre quê? Deveriam eles, incluindo o PSD, defender a nacionalização da TVI? Deveriam, eles, incluindo o PSD, defender uma intervenção administrativa na gestão de uma empresa privada? Servem ainda para o mesmo efeito as preocupações bondosas de fim-de-semana sobre os efeitos da saída de Moniz nas contas e nas audiências da Media Capital e da TVI, como se a Media Capital não soubesse cuidar dos seus interesses...
O que já se percebeu, e isso é um facto, é que o sector da comunicação social não vai ficar como está. Não estamos apenas perante uma tempestade de Verão. Ainda não é possível perceber o seu futuro, mas já é possível perceber que o seu presente mudou. Para quem está instalado, as ondas são indesejáveis, mas convém que se habituem a elas, porque vão continuar a agitar um mar que estava, até aqui, muito tranquilo, mas apenas à superfície.
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António Costa, Director
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