Galp refina capacidade exportadora para combater a depressão ibérica 17 Novembro2011 21:00
O CEO da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, fala amanhã ao Negócios na Hora H. Com olhos postos em 2012, a petrolífera joga as fichas todas em dois tabuleiros, apostando na exploração do pré-sal brasileiro e na renovada refinação em Portugal para contornar a queda do consumo de combustíveis. Miguel Prado
miguelprado@negocios.ptMais 800 a 1.200 milhões de euros em exportações. É este um dos impactos esperados com a reconversão das refinarias da Galp em Sines e Matosinhos, que a partir do próximo ano dotarão a petrolífera nacional de uma capacidade de produção de maior valor acrescentado. Essa é uma das vias que a Galp Energia seguirá para combater a conjuntura de baixas margens de refinação ditada pelo mercado.
A modernização empreendida em Sines e Matosinhos poderá ainda tornar a produção de refinados da Galp numa receita exportadora que permita ao grupo compensar a queda de vendas de combustíveis que se tem vindo a registar em Portugal e Espanha, os mercados-chave da Galp na distribuição de produtos petrolíferos.
Da crise económica que se faz sentir na Península Ibérica, com especial expressão em Portugal, poderão vir os principais constrangimentos nos resultados da Galp do próximo ano.
Exportações da Galp em 2012 poderão subir 800 a 1.200 milhões de euros, admite o grupo. Em 2011, a operação africana do grupo cresceu a dois dígitos. Em 2012, África, que ainda tem um peso residual no resultado da Galp, pode bem voltar a ser a excepção numa tendência de decréscimo do mercado dos combustíveis.
Mas há outro grande "input" que promete gerar resultados crescentes nas contas da Galp do próximo ano. A produção no Brasil tem, com efeito, uma agenda definida para 2012. No início do próximo ano o navio-plataforma Cidade de Angra dos Reis deverá atingir 100% da sua capacidade de produção, de 100 mil barris por dia, o que se traduzirá em cerca de 10 mil barris diários para a Galp, atendendo à posição detida no consórcio com a Petrobras e a BG. Os reservatórios do campo Lula (antes conhecido como Tupi) "vão influenciar positivamente, e de forma relevante, os resultados de 2012", assegurava o presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, no final de Outubro.
Do lado da exploração, 2012 será marcado pelas perfurações na bacia marítima de Santos. No segundo semestre será feito o poço de avaliação do campo Júpiter (onde a posição da Galp é de 20%). No próximo ano será entregue às autoridades brasileiras o plano de desenvolvimento do bloco 8 (onde está o campo Bem-Te-Vi, detendo a Galp 14% do consórcio). A intensificação dos trabalhos no "offshore" brasileiro poderá, em caso de sucesso, alimentar a cotação das acções da Galp.
Se ao nível do "upstream" o financiamento ficou resolvido com a recente parceria com a chinesa Sinopec, no que respeita ao chamado "downstream" (refinação e distribuição) as perspectivas são menos claras, com as cotações petrolíferas a flutuar ao sabor dos mercados.
Que desafios e oportunidades reserva o próximo ano para a Galp Energia?
Brasil (Exploração)
O negócio da China vai trazer mais barris A Galp Energia está hoje a produzir 4 mil barris de petróleo por dia a partir do Brasil, ou seja, um terço da sua produção total (o resto vem de Angola). Mas em 2012 o cenário muda. Com a ligação de um quarto poço ao navio Cidade de Angra dos Reis, na bacia de Santos, no Brasil, o consórcio da Galp atingirá no início do próximo ano o pico da capacidade daquela plataforma flutuante, que será de 100 mil barris por dia, dos quais 10% são para a petrolífera nacional. E se o pré-sal do Brasil já era visto como um "negócio da China" para a Galp, a partir de 2012 ainda mais o será, já que a entrada da chinesa Sinopec em 30% da Petrogal Brasil alivia totalmente a necessidade de financiar o Brasil por parte da casa-mãe, em Lisboa.
Sines e Matosinhos (Refinação)
Investimentos impulsionam exportações A refinação deverá ser o segundo grande "driver" de crescimento da Galp em 2012. A reconversão das unidades de Sines e Matosinhos, visando produzir mais gasóleo e menos fuel e optimizar o processamento de crudes pesados, produz efeitos no "cash flow" da petrolífera já no próximo ano. Com a refinaria no Norte já inaugurada, Sines deve arrancar em Janeiro, ficando a 100% no fim de Março de 2012. A partir daí a Galp deixa de ter nas suas contas o peso dos elevados investimentos na refinação (1,4 mil milhões de euros no total), passando a encaixar um fluxo de receitas em Sines e Matosinhos que se prevê mais elevado. O grupo espera em 2012 aumentar as suas exportações em 800 a 1.200 milhões de euros.
Península Ibérica (Distribuição)
Pressão no consumo puxa por diversificação Nas suas previsões de curto prazo, ao olhar para o último trimestre de 2011, a Galp já assumia um "contexto macro-económico adverso na Península Ibérica", a pressionar o negócio de refinação e distribuição. Olhando para 2012, não será previsível que Portugal e Espanha, os principais mercados de venda de produtos petrolíferos da Galp, consigam já no próximo ano inverter a tendência negativa de consumo de combustíveis evidenciada até agora. Nos primeiros nove meses de 2011 o consumo de produtos petrolíferos desceu 6% em Portugal e 3% em Espanha (a gasolina registou quedas de 10% e 7%, respectivamente). Para atenuar o efeito negativo que a Ibéria pode ter no negócio de distribuição em 2012, a Galp poderá apostar mais em África, que gera ainda uma pequena fatia das vendas, e na venda de refinados para novos mercados, cujas economias estejam em fase de crescimento.
Petróleo (Mercados)
O incontornável factor externo Por maior que seja a capacidade da equipa de gestão de acelerar projectos, cancelar investimentos, encontrar oportunidades e reduzir custos operacionais, há um factor totalmente incontornável: as cotações do mercado. A volatilidade do preço do petróleo e das margens de refinação dificultam a previsão de resultados. Isso será um dos maiores condicionantes do desempenho financeiro da Galp em 2012. Em 2011, até Setembro, a procura mundial de petróleo foi maior do que no ano passado e o preço do "brent" também, mas nem por isso a margem de refinação da Galp subiu: na verdade a margem do grupo no processamento de crude caiu quase 70% e não chega este ano a um dólar por barril. Para 2012 a Galp já estará a trabalhar as suas próprias perspectivas, mas os pressupostos de mercado ficam nos escritórios da sede da companhia. Prognósticos, só no fim do jogo.