Vem aí uma “mini-tempestade perfeita”. Preços do petróleo e do carvão disparam perante a escassez de gás na Europa
Por Fábio Carvalho da Silva 07:00, 28 Set 2021
Perante as notícias de escassez de gás na Europa, durante o dia de ontem tanto o petróleo West Texas Intermediate WTI como o Brent – este último referência para o mercado europeu – estiveram a negociar em níveis significativamente mais altos, impulsionados pela perspetiva de uma crise global de energia, motivada pelo aumento da procura em muitas nações.
A escassez de petróleo em grande parte da Europa, devido à crescente procura por viagens, agora que as restrições foram suspensas, estão a empurrar os mercados de petróleo para novos máximos.
Tecnicamente falando, o WTI superou o nível dos 73,35 dólares, transformando-o, como refere a ActivTrades, “numa zona de suporte, o que abre caminho para um novo máximo em torno dos 76,15 dólares (76,40% Fibonacci)”. No mercado londrino, os futuros sobre o Brent, para find de setembro bateram nos 79,16 dólares por barril, o valor mais alto desde há três anos.
No que toca ao carvão térmico, tanto os preços no mercado spot, como os futuros com entrega prevista para o próximo ano têm subido, como não era visto desde 2008. Os futuros sobre este material, no mercado norte-americano, registaram uma subida de 242% desde o último ano, uma tendência seguida esta segunda-feira, com um crescimento de 12% no preço, de acordo com os dados da Bloomberg.
Para Nuno Sousa Pereira, Head of Investments da Gestora de Ativos Mobiliários, Sixty Degrees, esta dinâmica de subida constante desde meados de maio tem sido alimentada “numa primeira fase pela grande procura de metais para construção, como o aço onde o carvão é essencial para a sua produção e pela pressão relativa ao controlo das emissões de gases que, com a quebra da procura de energia durante o período de abrandamento da atividade económica e da mobilidade devido à pandemia, tem acentuado o fecho de minas e centrais de produção a carvão por todo o mundo”.
O analista frisa ainda que “ultimamente este fenómeno têm-se acentuado também na China”.
“Num segunda fase, a falta de energia disponível, nomeadamente na Europa para o próximo Inverno, que levou a Europa a enfrentar as objeções dos EUA na construção do gasoduto com a Rússia, o Nordstream 2 e que também tem levado a uma subida acentuada do preço do gás natural no mercado internacional (duplicou desde abril)”.
“Do Reino Unido também surgem notícias preocupantes, devido a um incêndio num cabo de ligação elétrico a França, mercado de onde o Reino Unido contava importar energia, como habitualmente, durante o Inverno”, acrescenta Nuno Sousa Pereira.
“Assim, parecem reunidas as condições para uma ‘mini-tempestade’ perfeita nos mercados de energia, inclusive no preço do petróleo”, remata o especialista.
Em desespero, Europa vira-se para o carvão
A crise do gás está a alastrar-se pelo mundo. Perante a escassez, os produtores europeus de eletricidade são obrigados a colocar as metas climáticas de lado e a recorrerem ao carvão. Segundo a Bloomberg, um grande Hub europeu prevê a chegada de um novo carregamento deste material a 200 dólares a tonelada métrica já no próximo mês, o maior desde 2008. A agência recolheu os dados da plataforma globalCOAL, mas a empresa em questão pediu para não ser identificada.
A Europa está a enfrentar uma crise de energia se precedentes, depois de um longo inverno que deixou o bloco sem stock. A compra desenfreada das nações asiáticas, e o fornecimento limitado da Rússia e da Noruega, têm levado as empresas do velho continente a lutar a “ferro e fogo”, por gás liquefeito no mercado Spot.
Durante uma conferência no Dubai esta semana, Marco Saalfrank, responsável pelos negócios da gigante Axpo Solutions AG na Europa foi claro: “Já começámos a recorrer ao mercado do carvão, mas também aqui começamos a sentir um aperto”.
“Estamos observando algum aperto também no mercado de carvão”, disse Marco Saalfrank, chefe de comércio comercial continental da Europa na Axpo Solutions AG, em entrevista na conferência Gastech em Dubai esta semana. Os lucros das centrais a carvão “tornaram-se positivos, aumentando a produção”.
A oferta de carvão também caiu à medida que os principais produtores da Colômbia e da Indonésia fazem de tudo para combater as chuvas fortes e os transtornos causados pela pandemia. Segundo o executivo, devido às novas metas climáticas de grandes potências, como a Europa com o seu pograma “Fit for 55” que estabelece a neutralidade carbónica até 2030, o investimento em novos projetos de mineração quase parou nos últimos anos, com os bancos a cortarem nos empréstimos concedidos a este tipo d empresas.