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O Banco Central Europeu (BCE) tem injectado cada vez mais dinheiro na economia, através dos bancos, mas este não chega à economia real, pelo que pode ser necessário a instituição europeia passar a emprestá-lo directamente às grandes empresas.
A sugestão é feita por economistas contactados pela Lusa, numa altura em que a crise financeira continua a dificultar a concessão de crédito, gerando o perigo de um ciclo vicioso em que os bancos, por recearem emprestar dinheiro devido à crise, a agravam ainda mais.

"O BCE tem descido as taxas de juro e disponibilizado toda a liquidez e, mesmo assim, isso não se reflecte em maior crédito concedido", disse o professor da Faculdade de Economia do Porto e especialista em questões monetárias João Loureiro.

Margarida Abreu, professora do ISEG e responsável pela cadeira de Política Monetária, nota que os leilões semanais do BCE, em que havia rateio, passaram a ser substituídos por operações de mercado aberto, em que o BCE empresta aos bancos comerciais todo o dinheiro que eles queiram a uma dada taxa, desde que tenham garantias.

Embora essa taxa seja penalizadora, o mau funcionamento do mercado monetário e o aumento do risco levaram os bancos a pedirem cada vez mais dinheiro emprestado ao BCE.

O montante cedido pelo BCE aumentou 13 por cento, desde Setembro de 2008, totalizando 696,3 biliões de euros.

Esse dinheiro entra no sistema através da banca, recordou João Loureiro, mas como a desconfiança continua, muitos bancos preferem fazer depósitos junto do BCE do que emprestar o dinheiro a outras instituições, acabando por não o fazer chegar à economia real.

"Não está a ser eficiente injectar o dinheiro através dos bancos", reconheceu o mesmo professor, uma opinião partilhada por Margarida Abreu, que diz que "o dinheiro não está a chegar à economia real".

Segundo dados do BCE tratados pela Lusa, do montante injectado pelo banco central só 77 por cento está a chegar à economia real. Antes da queda da Lehman Brothers (Setembro de 2008), essa percentagem era de 100 por cento.

O crédito a empresas e famílias da Zona Euro tem desacelerado. Em Dezembro, o crédito ao sector não financeiro chegou mesmo a contrair-se pela primeira vez desde o início da crise financeira.

A maneira de contornar esta dificuldade na liquidez e no funcionamento do mercado monetário é o BCE passar a emprestar o dinheiro directamente às empresas, dentro de dados limites e sobretudo às grandes, defendeu o professor da Faculdade de Economia do Porto, uma ideia apoiada pela professora do ISEG.

Outra ideia, se os 27 Estados-membros se puserem de acordo, seria o BCE emprestar aos próprios governos, uma possibilidade hoje proibida pelo Tratado da União Europeia, segundo João Loureiro.

Sem estrutura para andar a emprestar pequenos montantes, o BCE não parece conseguir garantir que o crédito chegue às famílias, notou João Loureiro.

Para ultrapassar a crise, Margarida Abreu considera essencial aumentar a credibilidade do sistema financeiro e "abrir as portas da liquidez", algo que o BCE tem estado a tentar fazer.

A compra de activos, como sejam obrigações de dívida pública ou de empresas, pode servir também para melhorar a liquidez, acrescentou a mesma professora, embora teoricamente este instrumento acarrete riscos de tensões inflacionistas.

Na actual conjuntura esse risco é "pequeno", segundo Margarida Abreu, opinião partilhada por João Loureiro, já que o BCE consegue secar rapidamente a liquidez injectada no mercado.

SAPO/Lusa