É capital, ninguém leva a mal
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É capital, ninguém leva a mal
Pedro Santos Guerreiro
É capital, ninguém leva a mal
psg@negocios.pt
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A Caixa aumenta capital mas diz que não. O BCP não aumenta mas diz que sim. O BES aumenta, diz que sim e faz desconto. Em terra de endividados, quem tem capital é rei; quem tem bons contabilistas é consorte.
A Caixa aumenta capital mas diz que não. O BCP não aumenta mas diz que sim. O BES aumenta, diz que sim e faz desconto. Em terra de endividados, quem tem capital é rei; quem tem bons contabilistas é consorte.
Os bancos portugueses contornaram primeiro o Bojador da liquidez e enfrentam agora as Tormentas do capital. Na liquidez, ajudaram-se uns aos outros (com a Caixa à frente da armada) e contraíram empréstimos a taxas impróprias para cardíacos. Dois pequenos bancos sucumbiram (não só por causa disso) mas o sistema aguentou melhor que muitos navios possantes. Ainda hoje não valorizámos bem a resistência dos nossos grandes bancos a esta crise.
Agora, o capital. Não há dúvidas de que serão os bancos mais capitalizados que resistirão melhor. Nem que o aumento dos rácios mínimos veio cedo demais.
Precipitadas, as autoridades inglesas aumentaram os rácios de capital. Precipitado, o Banco de Portugal correu atrás e obrigou a rácios de 8% até Setembro. Precipitado, o Banco de Portugal ligou a um administrador da Caixa e tornou facultativo por telefone o que era obrigatório por escrito (os 8% passaram a ser opcionais e os bancos ficaram a sabê-lo através da Caixa: "a mim ninguém ligou", riu-se Santos Ferreira dias depois).
A Caixa vai libertar capital transferindo participações em empresas para uma "holding". É uma habilidade que os outros bancos já fazem, quando colocam essas participações em fundos de pensões.
O BCP vai socorrer-se de valores mobiliários em até 1,2 mil milhões (talvez apenas metade disso), no que bem podia chamar Emissões Mário de Sá-Carneiro, pois entre capital próprio ou alheio, não são nem um nem são o outro, são "qualquer coisa de intermédio, pilar da ponte de tédio que vai de mim para o outro". É outra habilidade, que o Banco de Portugal merece por ter sido equívoco.
Agora é o BES. Dinheiro vivo e em saldos, que fará provavelmente deste o maior banco privado em Portugal, ultrapassando o BCP. É um "quem ri por último ri melhor" de Ricardo Salgado, a quem o tempo veio dar razão: construir organicamente foi melhor que destruir por aquisição.
Foi com um aumento de capital, de 1,4 mil milhões em 2006, que o BES entrou no mapa dos investidores bolsistas. É com outro aumento, de 1,2 mil milhões agora, que ultrapassa o BCP.
Se você tivesse um milhão de euros, investia-o em capital de um banco? Não. Nem você nem ninguém no mundo. Excepto se, por esse milhão, lhe derem o que vale muito mais do que isso. É o caso.
Todos os bancos estão a fazer descontos brutais para aumentar o capital - até a Inglaterra, e em nacionalizações! Sem superstições, o BES emite o cabalístico número de 666.666.666 acções a um preço 68% inferior ao de ontem e 42% menor que o preço ajustado ao aumento. É o custo de garantir que UBS e JP Morgan tomam firme o aumento que ficar por realizar.
Hoje já nem se olha para a relação entre cotações e valor nominal das acções mas para aquilo que os analistas chamam de "capital tangível", incluindo perdas em fundos de pensões e imparidades. Nesse rácio, o aumento de capital do BES qualifica bem. Tão bem, supõe-se, que as acções do BES têm transaccionado com uma liquidez surpreendente e sem queda da cotação, como seria plausível face a um aumento de capital. Quem está a "fazer" este mercado? Para começar, a própria gestora do banco, a ESAF, que comunicou há dias ter comprado 2% do BES. É o que se chama acreditar no accionista.
JN
É capital, ninguém leva a mal
psg@negocios.pt
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A Caixa aumenta capital mas diz que não. O BCP não aumenta mas diz que sim. O BES aumenta, diz que sim e faz desconto. Em terra de endividados, quem tem capital é rei; quem tem bons contabilistas é consorte.
A Caixa aumenta capital mas diz que não. O BCP não aumenta mas diz que sim. O BES aumenta, diz que sim e faz desconto. Em terra de endividados, quem tem capital é rei; quem tem bons contabilistas é consorte.
Os bancos portugueses contornaram primeiro o Bojador da liquidez e enfrentam agora as Tormentas do capital. Na liquidez, ajudaram-se uns aos outros (com a Caixa à frente da armada) e contraíram empréstimos a taxas impróprias para cardíacos. Dois pequenos bancos sucumbiram (não só por causa disso) mas o sistema aguentou melhor que muitos navios possantes. Ainda hoje não valorizámos bem a resistência dos nossos grandes bancos a esta crise.
Agora, o capital. Não há dúvidas de que serão os bancos mais capitalizados que resistirão melhor. Nem que o aumento dos rácios mínimos veio cedo demais.
Precipitadas, as autoridades inglesas aumentaram os rácios de capital. Precipitado, o Banco de Portugal correu atrás e obrigou a rácios de 8% até Setembro. Precipitado, o Banco de Portugal ligou a um administrador da Caixa e tornou facultativo por telefone o que era obrigatório por escrito (os 8% passaram a ser opcionais e os bancos ficaram a sabê-lo através da Caixa: "a mim ninguém ligou", riu-se Santos Ferreira dias depois).
A Caixa vai libertar capital transferindo participações em empresas para uma "holding". É uma habilidade que os outros bancos já fazem, quando colocam essas participações em fundos de pensões.
O BCP vai socorrer-se de valores mobiliários em até 1,2 mil milhões (talvez apenas metade disso), no que bem podia chamar Emissões Mário de Sá-Carneiro, pois entre capital próprio ou alheio, não são nem um nem são o outro, são "qualquer coisa de intermédio, pilar da ponte de tédio que vai de mim para o outro". É outra habilidade, que o Banco de Portugal merece por ter sido equívoco.
Agora é o BES. Dinheiro vivo e em saldos, que fará provavelmente deste o maior banco privado em Portugal, ultrapassando o BCP. É um "quem ri por último ri melhor" de Ricardo Salgado, a quem o tempo veio dar razão: construir organicamente foi melhor que destruir por aquisição.
Foi com um aumento de capital, de 1,4 mil milhões em 2006, que o BES entrou no mapa dos investidores bolsistas. É com outro aumento, de 1,2 mil milhões agora, que ultrapassa o BCP.
Se você tivesse um milhão de euros, investia-o em capital de um banco? Não. Nem você nem ninguém no mundo. Excepto se, por esse milhão, lhe derem o que vale muito mais do que isso. É o caso.
Todos os bancos estão a fazer descontos brutais para aumentar o capital - até a Inglaterra, e em nacionalizações! Sem superstições, o BES emite o cabalístico número de 666.666.666 acções a um preço 68% inferior ao de ontem e 42% menor que o preço ajustado ao aumento. É o custo de garantir que UBS e JP Morgan tomam firme o aumento que ficar por realizar.
Hoje já nem se olha para a relação entre cotações e valor nominal das acções mas para aquilo que os analistas chamam de "capital tangível", incluindo perdas em fundos de pensões e imparidades. Nesse rácio, o aumento de capital do BES qualifica bem. Tão bem, supõe-se, que as acções do BES têm transaccionado com uma liquidez surpreendente e sem queda da cotação, como seria plausível face a um aumento de capital. Quem está a "fazer" este mercado? Para começar, a própria gestora do banco, a ESAF, que comunicou há dias ter comprado 2% do BES. É o que se chama acreditar no accionista.
JN
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
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