Ganhe 7% com os dividendos
A queda acentuada das cotações, conjugada com a política de remuneração atractiva das empresas portuguesas, torna a actual época de pagamento de dividendos ainda mais apetecível
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Jornal de Negócios Online
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As empresas vão entregar, este ano, menos dinheiro aos accionistas, reflectindo em parte a queda dos lucros de 2008 provocada pela crise económica. O que não significa que o rendimento dos dividendos vá baixar. A queda das cotações permite pagar um preço mais baixo para ter direito à remuneração, aumentando a rendibilidade dos dividendos.
A grande maioria das empresas portuguesas já anunciou o valor do dividendo a pagar este ano aos accionistas, referente ao exercício do ano passado. Entre estas, são oito as que apresentam uma remuneração cuja rendibilidade supera os 4%. Para os investidores que seguem uma estratégia de "caça" ao dividendo, o Negócios seleccionou uma carteira de cinco acções portuguesas que apresentam a remuneração mais atractiva. Esta é composta pela Portugal Telecom, Portucel, Brisa, Banif e EDP.
Um investimento de 10 mil euros nestas empresas oferece um retorno acima de 700 euros, o que representa um rendibilidade do dividendo superior a 7% e uma remuneração líquida próxima de 6%, o que compara, de forma favorável, com o valor das taxas de juro dos depósitos, apesar de o investimento em acções comportar um risco bem mais elevado.
Deve ter em conta que no dia em que as acções deixam de dar direito ao dividendo a cotação ajusta no mesmo montante, o que pode obrigar a esperar que o preço esteja pelo menos idêntico ao que pagou pelos títulos.
Seguir esta estratégia com um investimento de 10 mil euros na época de pagamento de dividendos - inicia em Abril e prolonga-se por Maio e Junho - resulta num retorno bruto superior a 700 euros, não tendo em conta a variação das cotações das acções, que historicamente é positiva (ver pág. VIII).
No ano passado, as acções portuguesas perderam cerca de metade do valor em bolsa, uma queda bem mais acentuada do que o verificado nos lucros. Entre as empresas que já anunciaram as contas do ano passado, os lucros desceram 31%. Nos dividendos o corte é também inferior, com a remuneração a cair cerca de 16%.
A conjugação destes factores explica a forte subida da rendibilidade dos dividendos e mostra que as cotadas portuguesas estão cada vez mais amigas dos accionistas. Resultado de compromissos antigos e também da política das cotadas de cativarem os investidores, numa altura de forte queda nas cotações.
A Portugal Telecom é a cotada portuguesa que paga o dividendo mais atractivo. A remuneração de 57,5 cêntimos, prometida aos accionistas no âmbito da OPA da Sonaecom, traduz-se num "dividend yield" de 9,76%. A Portucel surge em segundo lugar na lista, pois apesar de ter descido os lucros, manteve a remuneração aos accionistas, que apresenta uma rentabilidade superior a 7%.
O caso da Brisa (surge em terceiro lugar do "ranking") é ainda mais evidente do esforço das cotadas portuguesas em remunerarem os accionistas. A concessionária também manteve o dividendo apesar da queda nos resultados e vai entregar mais aos accionistas do que obteve em lucros. O "payout" da concessionária é de 122%, o mais elevado entre as cotadas portuguesas. Nas restantes duas empresas que integram a carteira dividendos, a justificação é distinta. Se a Portucel apresenta um elevado "dividend yield" devido à queda acentuada das cotações (-8,97%), a rendibilidade atractiva da EDP é sobretudo justificada pelo aumento do dividendo.
A eléctrica é das poucas que consegue aumentar a remuneração aos accionistas este ano. Um facto raro, não só em Portugal mas também na Europa e EUA. Devido ao forte impacto da crise nos resultados, muitas empresas optaram por cancelar o dividendo, com o objectivo de "guardarem" o dinheiro para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham.
Como ganhar com um investimento de 10.000 euros
Para seleccionar as acções que devem integrar a sua carteira dividendos, o Negócios escolheu, entre as cotadas nacionais as que já anunciaram a remuneração aos accionistas, as cinco que apresentam o dividendo mais rentável, tendo em conta as cotações actuais. Investindo um total de 10 mil euros em partes iguais pelas cinco empresas, a remuneração bruta em dividendos é de 716 euros, o que representa uma rendibilidade de 7,16%. Descontando os impostos, a remuneração líquida é de 573 euros, ou 5,7%. Uma taxa que compara de forma bastante favorável com a rendibilidade de outros produtos, como os depósitos a prazo e os certificados de aforro. Contudo, o nível de risco nas acções é muito mais elevado e, apesar do recebimento dos dividendos ser garantido, a cotação das acções pode desvalorizar. Entre as cinco cotadas, a Portugal Telecom a maior rendibilidade.
Conheça as diferentes políticas de renumeração
Quem aumenta dividendos?
Só duas empresas do mercado de capitais nacional vão aumentar o valor do dividendo. São elas a EDP e a Jerónimo Martins, reflectindo o crescimento dos lucros em 2008. A Galp Energia aumentou lucros, mas vai deixar inalterada a remuneração accionista. Ibersol, Portucel, Semapa e Portugal Telecom também mantêm o dividendo.
EDP: +12%
Jerónimo Martins: +12,6%
Quem corta na remuneração accionista?
A queda dos resultados líquidos, durante o ano passado, levou um total de seis empresas da bolsa de Lisboa a anunciar uma descida na remuneração aos accionistas. Os investidores do sector financeiro são os mais penalizados, mas ao "rol" das cotadas que vão entregar menos lucros junta-se ainda a Zon Multimédia e também a Media Capital.
CP: -48,9%
BES: -66,7
BPI: -62,8%
Banif: -46%
Media Capital: -68,1%
Zon Multimédia: -68%
Quem não distribui lucros aos accionistas
Seis cotadas da bolsa de Lisboa não vão remunerar os seus accionistas, decisão justificada quer pelos resultados líquidos negativos, quer pela política das próprias empresas, como acontece no caso da EDP Renováveis. A Teixeira Duarte e a Sonae Indústria não deverão pagar, assim como a Sonaecom, apesar dos lucros. A Corticeira Amorim e a Toyota Caetano anunciaram a suspensão da remuneração.
EDP Renováveis
Corticeira Amorim
Sonae Indústria
Sonaecom
Teixeira Duarte
Toyota Caetano
Quem ainda não anunciou o dividendo?
Há ainda 11 cotadas da bolsa de Lisboa que não revelaram o valor do dividendo a distribuir pelos accionistas. Destas, cinco são empresas do PSI-20, sendo que só a REN revelou, até ao momento, as contas relativas a 2008. Fora do índice principal falta conhecer a remuneração do Espírito Santo Financial, Estoril Sol, Orey Antunes, SAG, Finibanco e Cofina.
PSI-20: Altri, Cimpor,
Mota-Engil, REN
e Sonae SGPS.
PSI Geral: Cofina, Espírito Santo Financial, Estoril Sol, Finibanco, Orey Antunes, e SAG.
Quem entrega a maior "fatia" dos lucros?
Entre as cotadas da bolsa nacional, a Brisa destaca-se ao entregar mais lucros aos accionistas do que aqueles que, na realidade, obtém durante o exercício. Este ano, a concessionária apresenta um "payout" de 122,5%, enquanto a Zon Multimédia dá, em dividendos, praticamente a totalidade dos resultados líquidos de 2008.
Brisa: 122,5%
Media Capital: 100%
Zon: 98,5%
PT: 88,6%
Portucel: 61%
JN