As obrigações devem fazer parte de qualquer carteira de investimento equilibrada, oferecendo protecção em momentos de maior turbulência, como os que o mundo atravessa. Para fugirem ao risco, os investidores têm encontrado refúgio no mercado de dívida, em particular na pública. Nele encontram segurança e certeza. Mas também oportunidades de ganhos. A partir de agora, dizem os especialistas, ainda mais nas obrigações emitidas por empresas
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Jornal de Negócios Online
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A crise actual nasceu no mercado de crédito, mas muito fugazmente alastrou-se às bolsas. A grande incerteza fez disparar os níveis de desconfiança e aversão ao risco, que alimentaram a fuga de investidores dos mercados de acções para activos de menor risco. Nos últimos meses, tem sido notório o refúgio dos investidores na dívida emitida pelos Estados. O que se revelou, até agora, uma aposta certeira. Mas existem novas oportunidades neste mercado tão díspar, em particular nas emissões de empresas.
Os especialistas nacionais acreditam que o maior potencial deste mercado reside agora na dívida de empresas e bancos, nomeadamente na dívida sénior de banca. E são unânimes na convicção de que as obrigações continuam a ser uma boa aposta para 2009. O segredo está em fazer a escolha acertada.
"Neste momento, a dívida de empresas e bancos está particularmente barata, com os emitentes a pagar prémios de risco em níveis historicamente muito elevados, já que esta é a única forma de conseguirem emitir num ambiente de forte aversão ao risco", explicou ao Negócios a gestora de carteiras da Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF), Paula Araújo.
Apesar dos níveis atractivos a que estão a negociar, a responsável alerta para a elevada volatilidade que deverá continuar a afectar o segmento, pelo menos enquanto continuarem a chegar notícias preocupantes ao mercado. Por isso, afirma ser necessária uma "cuidada selecção de emitentes e avaliação de risco de crédito".
O Santander Gestão de Activos mostra-se mais optimista para a dívida de empresas ("corporate") com maturidades mais curtas. "A classe de activos desconta um nível nunca anteriormente verificado de potenciais falências que julgamos ser exagerada para alguns nomes em particular", destaca a instituição.
Madalena Teixeira, do Barclays Asset Management, sublinha que "o ciclo de descida de taxas de juro está a trazer novamente as empresas ao mercado, uma vez que conseguem refinanciar a sua dívida agora a níveis bastante mais baixos". "A actividade do mercado primário disparou nos últimos dois meses e com muito boa aceitação por parte dos investidores", adianta.
Já o gestor de obrigações do Banif Gestão de Activos, António Serra, destaca a dívida sénior de banca, lembrando que "os bancos centrais já mostraram que vão fazer tudo para proteger os bancos". Ainda assim, considera que os investidores devem optar pelos prazos mais curtos, "entre os dois e os quatro anos, pois o prémio de risco é o que melhor se adapta para prevenir potenciais riscos".
Não há "bolha" na dívida pública
No último ano e meio, a preferência por activos com menor risco de perda de capital levou a uma forte procura de dívida pública, nomeadamente de países de referência neste mercado, como os Estados Unidos e a Alemanha, o que levou a rentabilidade destes títulos para valores históricos. Mas quererá isso dizer que está formada uma "bolha" especulativa nos títulos do Tesouro prestes a rebentar? Não. Pelo menos, na opinião dos especialistas contactados.
A descida das taxas de juro está a trazer novamente as empresas ao mercado, onde se financiam a níveis bastante mais baixos
Madalena Teixeira rejeita esta possibilidade. "Ainda estamos longe desse cenário! Os prémios de risco ainda são elevados e longe dos níveis habituais, apesar de assistirmos a um estreitamento. Não nos podemos esquecer que a incerteza e falta de liquidez ao longo de 2008 levaram os prémios de risco para máximos históricos, logo não estamos numa bolha, mas sim a voltar às condições habituais", explica.
Paula Araújo, da ESAF, considera que, dadas as actuais expectativas de crescimento fraco e inflação controlada, os valores da dívida pública estão fora dos fundamentais.
O rigor na selecção é, no entanto, fundamental. Além do risco de deterioração do crédito da empresa, os investidores não devem esquecer a liquidez e a facilidade de vender a obrigação num momento futuro. "Por vezes, os prémios elevados que determinados títulos apresentam, pagam-se na dificuldade de desfazer o investimento", destaca a responsável do Barclays AM.
E cumprindo essa necessidade, Paula Araújo defende que "as taxas de longo prazo (dez anos) têm potencial para atingir novos mínimos históricos e fixarem-se entre 2,50 e 2%". "Nos próximos três a seis meses, a dívida governamental alemã a dez anos pode ter uma valorização em preço de perto de 5% no cenário central para 2009, com recessão generalizada, desemprego em alta, consumo em baixa e queda abrupta dos preços das matérias-primas", exemplifica.
JN