Bad Banks: má solução
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Bad Banks: má solução
Bad Banks: má solução
Os "Bad Banks" são a mais recente experiência na categoria dos "planos para salvar o sistema bancário" e, à primeira vista, parecem apelativos porque sugerem um fim para o ciclo vicioso do crédito, em contraponto às medidas dos Bancos Centrais que, apesar de todos os esforços - cortes de taxas dos Bancos Centrais, disponibilização massiva de liquidez adicional, injecção de dinheiro dos contribuintes directamente nos bancos - continuam aquém da eficácia esperada.
Com os "Bad Banks", os bancos com activos de má qualidade limpariam os seus balanços, retirando-os do sistema e permitindo aos "Bancos Bons" voltar a emprestar, enquanto os activos tóxicos permaneceriam bem fechados em entidades financiadas pelos Governos.
Os defensores dizem que a solução funcionou na Suécia, no início dos anos 90, e que os contribuintes saíram a ganhar mas não é claro que as condições que viabilizaram o sucesso do plano sueco prevaleçam noutros países: os bancos suecos eram maioritariamente nacionais, com clientes domésticos e o "Bad Bank" levou à nacionalização de todo o sistema bancário - uma situação que a maioria dos Governos prefere evitar.
Write-offs, capital angariado
e perda de postos de trabalho a nível global
Fonte: Thomson Datastream, Schroders em 25/02/09
Preço de transferência dos activos é problema central
A experiência da TARP, nos EUA - uma espécie de plano para um "Bad Bank" -, sublinhou o seu problema central: o preço de transferência dos activos. Se o "Banco Mau" pagar acima dos preços de mercado, os bancos vão tentar passar os seus piores activos para os contribuintes, o que poderia expô-los a graves perdas. Se pagar abaixo, os bancos terão de fazer writedowns adicionais, o que poderá levar a problemas de solvência. Parece, pois, que comprar activos tóxicos a preços de mercado seria a melhor ideia mas, ainda assim, os bancos não estarão dispostos a assumir as perdas.
Primeiro, porque muitos destes activos estão em carteiras de crédito, onde as regras contabilísticas só exigem amortizações quando eles deixem efectivamente de ter desempenho. Assumi-las antecipadamente poderia levar a muitas falências - como se uma seguradora pagasse hoje as indemnizações dos próximos anos, antes de receber os prémios que contrabalançam as perdas.
Segundo, porque os preços de mercado são afectados por dois factores: a expectativa de perdas e o custo de fornecer liquidez para deter o activo. Em condições financeiras normais, este custo é reduzido mas, na actual, é muito elevado, o que faz diminuir os valores dos activos. Mas à medida que os activos de duração fixa se aproximam da maturidade, o custo de liquidez regista um decréscimo acentuado, pelo que os bancos prefeririam vendê-los daqui a dois ou três anos.
Preço das acções dos bancos
europeus e norte-americanos
Fonte: Thomson Datastream, Schroders em 25/02/09
"Bad Banks" e nacionalizações ou esquema de seguro?
Para que os bancos aceitassem uma estratégia abrangente de "Bad Banks", os Governos teriam provavelmente de nacionalizá-los, ou porque o custo de assumir as avaliações dos activos de má qualidade esgotaria o seu capital próprio, ou porque seria a única forma dos bancos aceitarem o plano. As consequências seriam graves, em particular para os bancos multinacionais, e os Governos não têm nem a dimensão de gestão, nem, em alguns casos, os meios financeiros para lidar com elas. Esperamos pois, que os "Bad Banks" sejam o último recurso.
A estratégia alternativa é um esquema de seguro dos activos que os deixa nos balanços dos bancos, evitando assumir custos de liquidez. Estruturado da forma adequada - como uma apólice de seguro com um limite de perdas que forneceria protecção à solvência dos bancos, com um prémio do seguro pago ao longo do tempo ou mesmo fixado em níveis baixos para evitar maior diluição do capital dos accionistas - este esquema poderia ser mais viável.
Subsiste, no entanto, uma questão: será que qualquer destas estratégias consegue reparar o sistema bancário e fazer com os bancos voltem a conceder crédito? Na resposta há que considerar dois outros factores, talvez mais relevantes, para acabar com o aperto do crédito: os bancos precisam de clientes novos, com credibilidade para conceder empréstimos e necessitam eles próprios de fundos para emprestar.
Em muitos países, os padrões de concessão de crédito tornaram-se muito pouco rigorosos no período que antecedeu o aperto do crédito e, no futuro, terão de ser estruturalmente mais rigorosos; este é um elemento chave do ajuste do sistema financeiro que só será marginalmente afectado pela criação de "Bad Banks" ou por um esquema de seguro. Paralelamente, o financiamento dos bancos continua a constituir um problema e embora a remoção do risco dos activos deva libertar significativamente o mercado (por exemplo, de obrigações hipotecárias alemãs), bancos de países como o Reino Unido e Espanha terão falta de instrumentos de financiamento grossista que funcionem, mesmo que os "Bad Banks" sejam criados.
Parece-nos, pois, que os "Bad Banks" não serão a panaceia e, independentemente das alternativas, há ainda um longo caminho a percorrer para concluir o processo de desalavancagem e conseguir a necessária reestruturação do sector financeiro.
Fonte: Newsletter BCP
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