Entrevista a Adarsh Sinha
BCE vai colocar os juros nos 0,50% até Maio
Adarsh Sinha, estratega do Barclays Capital do mercado cambial, acredita que o euro vai continuar sob pressão nos próximos meses, mas no final do ano já deverá ter invertido e deverá terminar o ano 1,45 dólares. O responsável acredita que as economias da Zona Euro e dos EUA vão recuperar as duas no segundo semestre deste ano e que até Maio o BCE vai colocar os juros nos 0,50%.
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Sara Antunes
saraantunes@negocios.pt
Adarsh Sinha, estratega do Barclays Capital do mercado cambial, acredita que o euro vai continuar sob pressão nos próximos meses, mas no final do ano já deverá ter invertido e deverá terminar o ano 1,45 dólares. O responsável acredita que as economias da Zona Euro e dos EUA vão recuperar as duas no segundo semestre deste ano e que até Maio o BCE vai colocar os juros nos 0,50%.
Em entrevista ao Negócios, Adarsh Sinha, afirmou que o Banco Central Europeu (BCE) deverá colocar os juros nos 0,50%, até Maio, e que o euro estará agora sob pressão devido a dois factores: a desalavancagem, que está a beneficiar o dólar, e os receios de que o BCE tenha de reduzir os juros para um nível próximo dos zero.
O euro caiu no ano passado contra o dólar e mantém essa tendência este ano. O que podemos esperar para 2009 e 2010?
Penso que o euro vai continuar a cair contra o dólar e há duas principais razões para isso. Uma prende-se com a razão pela qual o euro/dólar caiu tanto o ano passado (processo de desalavancagem) que foi positivo para o dólar contra o euro. Muitas pessoas compraram o dólar e depois investiram em produtos de risco, como os mercados emergentes. Esta tendência deverá continuar nos próximos dois a três meses, pelo menos.
A segunda razão é mais fundamental, que está relacionado com o que o BCE vai fazer nos próximos três meses. Até agora o BCE é um dos principais bancos centrais que ainda não colocou os juros perto dos 0%.
O BCE cai cortar os juros na próxima reunião [hoje]. Vai cortar os juros para 1%. Não em Março, mas nos próximos meses. Em Março vão cortar 50 pontos, e em mais 100 pontos base até Maio.
Acredita que a recuperar da economia da Zona Euro vai ser mais lenta do que dos EUA?
Não necessariamente. Acho que a recuperação vai demorar o seu tempo. Acredito que provavelmente a recuperação da economia comece na segunda metade de 2009.
Pode-se argumentar que a economia dos EUA será mais rápida a recuperar por que tem havido muito mais estímulos nos EUA (juros mais baixos, os estímulos fiscais são mais abrangentes...), mas no fim não penso que a diferença seja assim tão grande, por que os problemas nos EUA são muito mais sérios do que na Zona Euro.
Acho que com a desalavancagem e a diferença nos juros, com o BCE a poder a vir cortar os juros muito mais do que o mercado espera [além de 1%], o euro/dólar vai continuar a subir e negociar abaixo dos 1,23 o que não é muito longe de onde está (no prazo de três meses)
E depois?
Acho que vamos ver uma grande inversão, com o euro/dólar a recuar para 1,45 dólares no fim do ano.
O plano de Obama deverá levar o défice para níveis recorde. Pode ser um problema para o dólar?
É um grande problema. E é por isso que temos a previsão de 1,45 dólares para 12 meses. Os outros países também têm estímulos, mas há uma grande diferença entre os EUA e as outras economias. A primeira diferença é que eles tiveram défices orçamentais muito grandes no passado, por isso o ponto de partida dos EUA é muito pior do que o ponto de partida da Alemanha ou de outros países da Zona Euro.
A outra é que os EUA têm um défice de conta corrente que precisa de ser financiado, e grande parte do financiamento é através do Tesouro, por exemplo. Será muito mais difícil financiar isso se as pessoas estiverem preocupadas com o facto do Governo estar a emitir muita dívida nos próximos anos, e eles terão de o fazer.
E em 2010, onde estará o euro?
É mais difícil. É improvável que o euro/dólar regresse aos máximos do ano passado (1,16 dólar), é mais improvável que se regresse a esses níveis, mas acredito que se fixe entre 1,40/1,50 ao longo de 2010.
Considera possível que o euro supere a libra?
Não, por acaso acreditamos que o euro vai ter um desempenho muito fraco contra a libra ao longo de 2009. Prevejo 0,80 para o euro/libra o final deste ano. A principal razão para isso não passa por esperarmos boas notícias do Reino Unido.
Parte da razão do euro se ter aproximado muito da paridade contra a libra, no ano passado, é por que não havia liquidez. Isto não vai persistir. Quando as condições de liquidez melhorarem acho que a libra vai recuperar contra o euro. O valor justo do euro/libra, para nós, em torno dos 0,80.
Qual é, na sua perspectiva um bom investimento cambial nesta altura?
Um é o euro/esterlina, o que estamos a recomendar aos nossos clientes institucionais. Vender euro/esterlina. A outra recomendação muito importante é a compra do iene no curto prazo contra o dólar e contra o euro (três meses).
Pensa que o Reino Unido pode vir a adoptar o euro?
Penso que é muito improvável. O facto da moeda ter enfraquecido é bom para o Reino Unido, desde que não haja um colapso, desde que não aconteça o que aconteceu na Islândia, por exemplo. A libra não está nessa situação. Talvez pudéssemos estar perto dessa situação quando a esterlina esteve perto de 1. Até agora a fraqueza da libra tem estado ligada à fraqueza da economia, o que é bom, por que ajuda a economia, ajuda as exportações. Acho que as pessoas no Reino Unido não vão apoiar a adopção do euro, num tempo próximo.
E vê a possibilidade de outros países aderirem ao euro?
Muitos países da Europa de Leste (Polónia, Hungria...). Acho que para esses países há uma possibilidade, mas terão de cumprir as regras.
E a Islândia?
Não agora. Estão numa situação muito difícil. Se recuperarem e as coisas melhorarem talvez.
Vê algum país sair da Zona Euro?
Fizemos um inquérito aos nossos clientes e uma das questões era: qual é o maior risco que não está descontado no euro? A maioria disse que seria a saída de um país da Zona Euro. Creio que muitas pessoas responderam isso por que o euro se fortaleceu, não contra o dólar mas contra muitas moedas. Concordo que é um risco que não está reflectido, por que se um país saísse da Zona Euro a moeda cairia bastante. Mas não é algo que eu espero que aconteça. Seria num cenário desastroso e acho que seria ainda pior para um país que decidisse sair do chapéu da Zona Euro.
Acredita que a Fed ainda vai implementar mais medidas?
Sim. Terão de o fazer. A próxima grande questão é quando é que começam a comprar obrigações do Tesouro. E tem havido muita especulação em relação a esta questão. Acho que acontecerá nos próximos meses.
E o que espera do BCE?
É difícil. Têm sido muito relutantes em falar sobre outras medidas além do corte de juros. O BCE já tem estado comprometido em resolver problemas de liquidez, com as medidas que já tomaram. É menos provável que o BCE se comprometa com medidas menos convencionais como o Banco de Inglaterra ou a Fed. A primeira medida seria descer mais a taxa de juro, em vez de começarem a comprar dívida, por exemplo. Não há um único governo, são vários países, os sistemas bancários são muito diferentes. É muito mais difícil o BCE se comprometer com este tipo de medidas.
Acredita que os EUA podem intervir se o dólar cair muito?
Acredito que os EUA fiquem muito felizes. Um dos problemas dos EUA é o dólar estar muito forte. Se houver esse ajuste ficarão muito felizes.
1,45 dólares é o valor mais alto que prevê para o euro para este ano?
Sim. Talvez 1,50 dólares.
JN