A banca vai ter de ser nacionalizada...
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A banca vai ter de ser nacionalizada...
Artigo de opinião de Nicolau Santos no Expresso
http://clix.expresso.pt/a_banca_vai_ter ... ..=f500059
As cotações dos maiores bancos americanos dispararam quinta-feira, após ser conhecido o primeiro orçamento federal da Administração Obama. Motivo para a euforia: o orçamento prevê um novo pacote de 250 mil milhões de dólares para apoio ao sector financeiro, embora não tenha ainda a autorização do Congresso.
Contudo, parafraseando Mark Twain, as notícias do fim da crise no sector financeiro norte-americano parecem-me muito excessivas. Em primeiro lugar, porque o primeiro pacote anunciado é bem maior, de 787 mil milhões de dólares - e os mercados reagiram pessimamente pela falta de clareza que lhe está implícita. Ora, sobre isso, nada mudou.
Em segundo, porque estamos muito longe de saber se as necessidades de capital dos bancos americanos ficam satisfeitas com estes montantes. Há estimativas (Nouriel Roubini, CEO da RGE Monitor) que sustentam que sem um reforço do capital dos bancos americanos na ordem dos 1,5 mil milhões de dólares não será restaurada a concessão de crédito ao sector privado. E sem isso acontecer, muitas empresas continuarão a falir, agravando a situação dos bancos, que já sofrem violentamente com a queda contínua dos preços das habitações, que lhes têm sido entregues em catadupa por as famílias não conseguirem pagar os empréstimos que contraíram.
Em terceiro, porque não é nada evidente que os bancos não prefiram manter os fundos que agora estão a ser disponibilizados para manterem a sua solidez em vez de os emprestarem.
Como se resolve isto? Recapitalizando os bancos, ao mesmo tempo que se limpam os seus balanços, e se canalizam os activos tóxicos para 'bancos maus', geridos pelo Estado? Compra pelo sector privado dos activos tóxicos, com uma garantia estatal? Ou a nacionalização dos bancos em manifestas dificuldades e, após a sua recuperação, a venda a novos investidores privados?
Em crises semelhantes, o modelo que melhor provou foi o sueco. Na sequência de uma grave crise financeira no início dos anos 90, a Suécia nacionalizou todo o sector bancário, reprivatizando-o após a recuperação das instituições e quando tal se tornou seguro. Isso permitiu acabar cerce com a crise e minimizar os custos para os contribuintes.
O pacote Obama segue outro caminho e aposta em que uma enorme injecção de capital permitirá resolver a situação. Não resolve, contudo, dois problemas: um, decisivo, que é a questão da confiança; e outro, crucial, que é a recuperação da economia real. Sem isso, a administração Obama arrisca-se a ir deitando dinheiro sobre os bancos americanos para que estes continuem a caminhar, embora se encontrem efectivamente insolventes (assim como grande parte do sistema bancário inglês e irlandês, bem como muitos bancos da Europa Ocidental). >São os já chamados bancos zombies.
Aquilo a que assistimos neste momento é à paralisação do sistema de crédito a nível global, acarretando o colapso de milhares de empresas não financeiras dos mais diversos sectores, ao mesmo tempo que a esmagadora maioria das economias entra em recessão mais ou menos profunda. É, pois, decisivo, voltar a garantir que o crédito flui e chega à economia real, nomeadamente às pequenas e médias empresas, ao mesmo tempo que se torna imperioso injectar dinheiros públicos na economia, através de investimento com efeito imediato nas áreas das infra-estruturas, educação e saúde.
Contudo, os bancos em todo o mundo estão nervosos e desconfiados. Pretendem ter a garantia absoluta do retorno dos seus financiamentos e, por isso, apenas estão disponíveis para negociar com instituições solidamente capitalizadas. Só que a crise descapitalizou todas as instituições e mesmo aquelas que hoje parecem de uma solidez a toda a prova amanhã podem ruir fragorosamente, de bancos a grandes empresas não financeiras.
Neste quadro, torna-se imperioso perceber que o sistema financeiro é o coração das economias modernas. O seu colapso acarreta o colapso de toda a sociedade. A nacionalização dos bancos em dificuldades é, pois, a bala de prata que matará a desconfiança que está a fragilizar a cada dia que passa as instituições financeiras em todo o mundo e a conduzir inúmeros países a recessões cada vez mais violentas. Deve ser praticada sem nenhuns pruridos ideológicos, desde que haja a garantia clara de que se procederá à reprivatização logo que a situação o permitir. E torna-se cada vez mais evidente que, sem essa solução, a crise será muito mais longa e dolorosa.
Paul Krugman, prémio Nobel da Economia, prevê que a situação se aproximará cada vez mais da plena nacionalização temporária de uma parte significativa do sistema financeiro. E sublinha que "agora o importante é aliviar o mercado de crédito recorrendo a todos os meios disponíveis, sem incorrer no logro de impasses ideológicos", com receio de estas medidas serem acusadas de "socialistas".
Quanto a Portugal, talvez antes do final do ano um grande banco venha a precisar de ajuda do Estado ou tenha mesmo de ser nacionalizado. Nesse caso, não haverá que hesitar.
Afinal somos felizes
Uma sondagem divulgada pela "Visão" apresenta um resultado surpreendente: os portugueses consideram-se felizes. E não é uma felicidade qualquer: 73,5% dizem que são felizes e apenas 3,2% que são infelizes! Além disso, não há saudades do passado (68,6% dizem que os portugueses são agora mais ou muito mais felizes que há 50 anos) e há muita esperança no futuro (64,1% consideram que dentro de 10 anos serão mais ou muito mais felizes).
A verdade é que, entre 190 países, Portugal está entre os 30 mais ricos. Quando olhamos para 1974, constatamos que demos um enorme pulo em 35 anos. Que passámos de uma sociedade rural (30% da população activa na agricultura), pobre (metade do rendimento europeu), analfabeta (a taxa de analfabetismo era a da Inglaterra do séc. XIX), machista (só 15% das mulheres tinham vida activa) e desconfortável (metade das habitações não tinham água, esgotos e luz eléctrica) para uma sociedade muitíssimo melhor.
Passámos de uma das piores taxas de mortalidade infantil para a quarta mais baixa a nível mundial. E somos líderes mundiais na tecnologia de transformadores de energia, nas máquinas de corte por jacto de água, nos painéis derivados de madeira, no papel de escritório de alta qualidade, no sector de cortiça e transformados, na tecnologia para calçado, no software para contact centers, nos feltros para chapéus (3º produtor mundial), nos têxteis-lar (3º exportador mundial), nas embalagens de plástico (5º a nível mundial), nas energias renováveis (4º produtor mundial)...
Chega para sermos felizes? Não. Mas ajuda. E mostra que os portugueses têm algumas boas razões para ter orgulho no país em que vivem.
Nicolau Santos
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Cumprimentos,
Cap. Nemo
Cap. Nemo
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