Re: Re

nunofaustino Escreveu:Cem pt Escreveu:My friends,
Não sou defensor de ninguém nem conheço o Sr. Manuel Fino de algum lado.
No entanto deixo aqui algumas pistas que poderão esclarecer o que se pode ter passado.
1)- Empréstimos de Bancos a grandes Empresas e grandes investidores privados:
É comum em Portugal os maiores Bancos emprestarem com um colateral adicional de mais 25%.
Isto é, se pedir 1.000 Euros para comprar acções o Banco que fornece o crédito ao cliente vai pedir de garantias um valor de activos de 1.250 Euros, que poderão ser os 1.000 Euros transformados em acções mais 250 Euros de outro qualquer activo elegível.
2)- O que se passou hipoteticamente é que o valor das acções mais o valor do colateral adicional de mais 25% já não cobria, a preços de mercado actuais, o total do empréstimo inicial.
3)- Nessa eventualidade o Banco emprestador tem de renegociar com o cliente novo colateral adicional para que cubra pelo menos o diferencial para a totalidade do empréstimo inicial que fez ao cliente.
Para simplificar, vamos supor um cliente X pediu por exemplo 100.000 Euros para comprar acções da empresa "Patulisses Caldeireiras", lol, confessem que este nome dos nossos amigos que não têm nada a ver com esta história está bem apanhado!
O que fez o Banco? Disse: " Ok, o seu pedido de empréstimo foi aprovado nas seguintes condições: o Banco vai comprar em seu nome com os 100.000 Euros as acções "PC" que vão ficar presas neste Banco enquanto não pagar o empréstimo e vai simultaneamente cativar da sua conta existente no Banco mais 25.000 Euros para efeitos de garantia adicional."
Se as acções "PC" passarem a valer 75.000 Euros, o Banco e o cliente obrigam-se a negociar novas condições: ou o cliente efectua novo reforço de colateral para cobrir sempre os 100.000 Euros do empréstimo inicial ou então o Banco executa-lhe as garantias!
4)- Com toda a probabilidade o sr. Fino não conseguiu fornecer, porque não conseguiu na altura ou não quis dar mais activos do seu património, novos colaterais para cobrir o valor do seu empréstimo.
Neste cenário o Banco só tinha um caminho: executar as garantias, ou seja, passar a ficar detentor das acções do cliente e do colateral inicial dos 25%.
5)- Daí que o Banco não esteja propriamente a fazer um negócio ruinoso, está apenas a dizer que a operação final foi neutra:
- Para o cliente o valor de mercado actual das acções que comprou com dinheiro do Banco mais o colateral inicial que deu como garantia do empréstimo deixaram de ser suas (na realidade perdeu na prática o colateral inicial dos 25%).
- Para o Banco o valor do colateral inicial e o valor actual das acções deverá ter rondado o valor do empréstimo concedido ao cliente e portanto não ganhou nem perdeu.
6)- Já menos clara me parece a operação da opção de compra da Cimpor, que pode ser exercida nos próximos 3 anos, ao preço de mercado actual da Cimpor acrescido de 25%.
Do meu ponto de vista esta situação equipara-se à compra de uma opção Call para o número de acções detidas pelo Sr. Fino do tipo out-of-the-money mas com uma maturidade bastante longa, enfim, barata pelo lado do strike mas cara pelo prazo.
Talvez esta "compra" de opções Call da Cimpor pelo Sr. Fino tenha sido a contrapartida oferecida pelo Banco pela troca do detentor correspondente à aquisição de uma posição estratégica do Sr. Fino na Cimpor.
Resta acrescentar que esta operação terá sido certamente feita em mercado OTC, uma vez que não existem opções Cimpor negociadas no mercado de derivados e este valor do brinde da opção tenha sido, estou a especular e pode não corresponder à verdade, o valor do "prémio" oferecido pela aquisição da posição estratégica detida pelo Sr. Fino na Cimpor.
Falta muita informação mas por aquilo que a notícia deu a entender poderá ser uma achega ou uma explicação possível.
Bons negócios a todos.
Cem
Cem, não percebi bem a tua resposta. Vamos imaginar que o Fino comprou 60 milhões de acções a 4.75€, tendo entregue 71M€ como colateral e pedido 214M€ à CGD para pagar esta compra.
Neste momento, as acções valem 215M€ ou seja, estava na altura de re-negociar o empréstimo pois estamos a chegar à altura em que as acções valem o que foi pedido emprestado.
Ou seja, pela lógica, se fosse eu ou tu, teríamos de repor 25% de colateral (ou seja, 50M€) ou as acções seriam vendidas para pagar a dívida. Mas não foi isto que ocorreu.
O que ocorreu foi que a CGD comprou as acções ao Fino a 4.75€ (ou seja, lucrou com isto os juros pagos), dando um bónus ao Fino de 71M€ (o que ele tinha entregue de colateral). Dá ainda uma opção de compra ao Fino que impede a CGD de vender as acções (ou seja, o risco da descida fica para a CGD) para os próximos 3 anos.
Quer dizer, o Fino pôde estar na CPR durante este tempo todo a custo 0 (apesar de ter perdido 70M€), tem uma opção de compra para 3 anos de graça, e a CGD fica exposta à descida (à subida estará limitada pelo valor da opção de compra do Fino) da Cimpor.
Onde é que eu posso assinar para fazer um negócio igual? Assim é impossível perder, porra!
Desculpem o desabafo, mas acho que estas re-negociações com Berardos, Finos, TDUs e afins que se endividaram para lutar por castelos de ar dão um exemplo fantástico para quem trabalha e paga impostos em Portugal. Dão tb um excelente exemplo do que é especular em Bolsa em Portugal e é mais uma razão pela qual eu acho que é desigual investir na bolsa em Portugal.
Um abr
Nuno
Oi, Nuno, estou cada vez mais convencido que o que ocorreu foi o cenário que referi.
Repara, procurando responder ao cenário que traçaste por ordem cronológica, do meu ponto de vista:
1) O Sr. Manuel Fino pede à Caixa um empréstimo de 285 M€ para comprar 60 milhões de acções da Cimpor a 4,75.
2) A Caixa satisfaz o pedido através de compra feita pelo Banco em nome do cliente e retém da conta do Sr. Fino mais 71 M€ para colateral adicional de segurança.
3) Evidentemente que antes das acções passarem a valer 285 M€ - 71 M€ = 214 M€ (ponto de alarme amarelo do Banco para renegociar a dívida) o cliente terá de ir pagando a taxa de juro do empréstimo acordado, que desconheço qual tenha sido mas temos de admitir que os juros estavam a ser pagos à parte.
4) Ao atingir os 214 M€, como bem disseste, a Caixa chamou o Sr. Fino que transmitiu ao Banco que não tinha hipóteses de reforçar a sua garantia colateral dos 71 M€.
5) Restou à Caixa executar as garantias do empréstimo: o Banco passou para novo titular dos 60 milhões das acções que eram do sr. Fino e tomou como sua nova propriedade o colateral da garantia inicial de 71 M€.
6) Para registar esta operação no balanço teve de ser feita uma operação equivalente maquilhada, isto é, é como se a Caixa comprasse ao Sr. Fino a sua dívida de 285 M€ pelo somatório de 60 milhões de acções ao preço de:
A) 3,57 cada (= 214 M€)
B) Acrescida do valor do colateral inicial de 71 M€, que equivalem a um preço adicional por acção da Cimpor de 71 M€ / 60 milhões de acções = 1,18 €/acção
7) Ou seja, por um preço total equivalente por acção de 4,75 €/acção = preço a que foram compradas inicialmente as acções, perfazendo o empréstimo inicial de 285 M€! Um nota final: como esta operação de mudança de titular das acções ocorreu fora de Bolsa, pelo facto das garantias das acções terem mudado de dono e se tratar de uma posição qualificada, o novo adquirente (a Caixa) é obrigado a informar o mercado.
8) A opção Call de compra oferecida ao sr. Fino será talvez, como afirmei, o único bónus que o Banco concedeu ao cliente para poder exercer no prazo de 3 anos, provavelmente pelo facto de ter adquirido a preços actuais de mercado a sua posição anterior qualificada que tinha na Cimpor.
Para isso a Caixa o que terá feito para cobrir este risco foi comprar em mercado feito à medida uma Call de 3 anos da Cimpor para 60 milhões de acções com o strike de 4,75 €/acção e registar como detentor dessas opções o Sr. Manuel Fino.
Se o Sr. Fino exercer a respectiva opção dentro de 3 anos, no caso das acções da Cimpor cotarem supostamente nessa altura a 6 Euros, o Sr. Fino beneficia com o diferenial da cotação acima dos 4,75 € através da mais-valia da opção Call tendo no entanto o Sr. Fino de pagar ainda à Caixa mais 285 M€ com capital vindo de outros lados, agora onde vai arranjar o dinheiro para isso se calhar vai pedir ao Totta, ou até poderá contrair novo empréstimo na Caixa para o efeito se tiver um colateral suficiente!
9) Para todos os efeitos o actual detentor ou novo titular dos 60 milhões de acções da Cimpor à data presente deixou de ser o Sr. Fino, passou a ser a Caixa!
10) O Sr. Manuel Fino portanto deixou de ser detentor de um empréstimo, terminado com a execução das garantias! Para os media e para salvar a face do Sr. Fino chamam-lhe pomposamente um "acordo de venda de acções ao Banco"!
11) À data presente o Sr. Manuel Fino é apenas detentor de opções Call de compra de 60 milhões de acções a 4,75 €/acção, isto é, só tira algum proveito desta situação se a cotação da Cimpor dentro de 3 anos estiver acima dos 4,75 € por acção, quanto mais melhor, estamos perante um simples negócio de opções ou warrants que nos habituámos a ver todos os dias.
Não sei se desta forma expliquei melhor a forma como os Bancos contabilizam nos créditos dos seus balanços as execuções deste tipo de garantias quando os clientes deixam de pagar ou reforçar as novas garantias que lhes seriam devidas.
Esta é a minha interpretação do que se passou mas admito perfeitamente estar errado!
Abraço para ti e também para o Crómio, Marco António ligeiramente mais rico e Majomo,
Cem