
BANCOS BONS BANCOS MAUS
António Perez Metelo
Redactor principal
Não há duas crises financeiras exactamente iguais, mas é sempre possível aprender com as anteriores. Começa a chegar ao centro da discussão o estudo do caso sueco na primeira metade da década de 90. Cinco dos sete bancos daquele país, responsáveis por 90% do mercado, foram dando sinais de crescente vulnerabilidade pela detenção de maus créditos imobiliários, cada vez mais incobráveis. A conta calada atingiu valores astronómicos, face a uma economia em recessão de 4% do produto interno.
Tal como tem sido feito nos EUA, na Zona Euro ou no Reino Unido, o Governo da Suécia tentou a injecção pontual de capitais, até que, em 1992, se decidiu pela criação de dois chamados "bancos maus", o Securum e o Retriva, aos quais os bons bancos foram forçados a vender todos os seus activos tóxicos a preços realistas, ou seja, baixos. O Estado entrou no capital de todos aqueles que precisavam de ser fortalecidos depois da limpeza total do seu balanço, ao mesmo tempo que os depósitos e os contratos eram garantidos pelo Estado. O efeito foi fulminante: os bons bancos voltaram aos seus negócios normais, voltando a fluir o crédito a preços comportáveis para empresas e famílias, enquanto especialistas em incobráveis reestruturavam as carteiras dos dois bancos maus e conseguiam, no espaço de cinco anos, minimizar o custo para os contribuintes para menos de 2% do PIB. As participações accionistas do Estado nos bancos bons foram sendo vendidas ao longo de dois anos, com lucro. Os anteriores accionistas, expropriados pelas nacionalizações, acabaram por pagar o grosso dos custos de uma política creditícia temerária.
Será extrapolável este exemplo para todo um sector financeiro na Europa e nos EUA, no qual impera ainda a desconfiança do malparado escondido? É difícil responder taxativamente. Já que a operação na Suécia só foi possível graças ao consenso nacional estabelecido, com o apoio de sociais-democratas e centristas, dos sindicatos e da opinião pública. Entre nós, nada disto parece ser necessário. O que pode estar a minar a imagem da banca é a sucessão de casos de actividades delituosas, ao mais alto nível, em instituições que deviam honrar sem falhas a confiança dos depositantes. A criação de bancos maus na Zona Euro poder-nos-á ajudar a dinamizar o crédito no grande espaço monetário de que fazemos parte. Mas, em Portugal, o que é verdadeiramente urgente é que a justiça actue, antes que a paciência da população se esgote.|
Diário Noticias
António Perez Metelo
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Não há duas crises financeiras exactamente iguais, mas é sempre possível aprender com as anteriores. Começa a chegar ao centro da discussão o estudo do caso sueco na primeira metade da década de 90. Cinco dos sete bancos daquele país, responsáveis por 90% do mercado, foram dando sinais de crescente vulnerabilidade pela detenção de maus créditos imobiliários, cada vez mais incobráveis. A conta calada atingiu valores astronómicos, face a uma economia em recessão de 4% do produto interno.
Tal como tem sido feito nos EUA, na Zona Euro ou no Reino Unido, o Governo da Suécia tentou a injecção pontual de capitais, até que, em 1992, se decidiu pela criação de dois chamados "bancos maus", o Securum e o Retriva, aos quais os bons bancos foram forçados a vender todos os seus activos tóxicos a preços realistas, ou seja, baixos. O Estado entrou no capital de todos aqueles que precisavam de ser fortalecidos depois da limpeza total do seu balanço, ao mesmo tempo que os depósitos e os contratos eram garantidos pelo Estado. O efeito foi fulminante: os bons bancos voltaram aos seus negócios normais, voltando a fluir o crédito a preços comportáveis para empresas e famílias, enquanto especialistas em incobráveis reestruturavam as carteiras dos dois bancos maus e conseguiam, no espaço de cinco anos, minimizar o custo para os contribuintes para menos de 2% do PIB. As participações accionistas do Estado nos bancos bons foram sendo vendidas ao longo de dois anos, com lucro. Os anteriores accionistas, expropriados pelas nacionalizações, acabaram por pagar o grosso dos custos de uma política creditícia temerária.
Será extrapolável este exemplo para todo um sector financeiro na Europa e nos EUA, no qual impera ainda a desconfiança do malparado escondido? É difícil responder taxativamente. Já que a operação na Suécia só foi possível graças ao consenso nacional estabelecido, com o apoio de sociais-democratas e centristas, dos sindicatos e da opinião pública. Entre nós, nada disto parece ser necessário. O que pode estar a minar a imagem da banca é a sucessão de casos de actividades delituosas, ao mais alto nível, em instituições que deviam honrar sem falhas a confiança dos depositantes. A criação de bancos maus na Zona Euro poder-nos-á ajudar a dinamizar o crédito no grande espaço monetário de que fazemos parte. Mas, em Portugal, o que é verdadeiramente urgente é que a justiça actue, antes que a paciência da população se esgote.|
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