O pântano
29/01/09 00:01 | António Costa
--------------------------------------------------------------------------------
Portugal está em risco de cair num pântano, ainda mais pantanoso do que aquele que levou António Guterres a demitir-se de primeiro-ministro na ressaca das eleições autárquicas de 2001.
A crise económica e o desemprego, os sucessivos ‘casos de polícia' que minam a confiança no sistema bancário e a crise política associada a um ano atípico de eleições e ao caso Freeport são os condimentos de um caldeirão que torna o ar quase irrespirável.
Neste momento, os portugueses assemelham-se a um suicida que está à beira do precipício e que julga ter no passo em frente a solução para todos os seus problemas. Impõe-se, por isso, mais do que nunca a emergência de liderança, no fundo das elites políticas e económico-empresariais que façam regressar a confiança dos portugueses nas instituições e no próprio regime político e democrático.
Justifica-se, primeiro, uma nota: nem a crise económica nem a crise política devem limitar ou condicionar a capacidade e a autonomia das autoridades judiciais nas investigações em curso ou a fazer, seja a bancos ou a qualquer político. E também não devem limitar a legitimidade da oposição de discordar das políticas do Governo e a propor alternativas. Mas, dito isto, impõe-se que os agentes políticos e as autoridades judiciais sejam os primeiros a defender o país e não os primeiros responsáveis, por omissão ou acto, a contribuir para o estado de sítio a que se chegou. Um exemplo concreto: a cabala política contra o Governo não é a existência de uma investigação ao caso Freeport, muito menos por autoridades inglesas, e José Sócrates não deve seguir o mesmo caminho. Mas o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, tem de garantir que um trabalho de investigação desta natureza, que envolve uma suspeita implícita sobre o primeiro-ministro de Portugal, não cai na praça pública como está a cair. Porque o que está em causa não é apenas a credibilidade de um governante, mas de um país. E esta reflexão serve, também, para os casos de buscas judiciais a bancos, por exemplo.
Não há uma fórmula óbvia para sair deste clima de suspeição generalizada em que o país caiu, em que ninguém confia em ninguém ou, se quisermos, em que todos desconfiam de todos e que, pior, está a espalhar-se como um vírus descontrolado. Há um pedido generalizado de todos para que, nos casos judiciais, as autoridades investiguem de forma célere o que está em causa e há o desejo, também generalizado, de que a crise económica não seja tão funda como parece ser. Mas, em qualquer destes casos, não há ninguém que possa assegurar nem uma coisa nem outra.
Qual é, então, a alternativa? Continuar a acreditar no país, nos governantes que elegemos, nas autoridades judiciais que têm de zelar pela legalidade e pelo cumprimento da justiça, nas empresas que têm de criar riqueza. E, especialmente, não continuar a acreditar em fatalidades e resignações.
--------------------------------------------------------------------------------
http://www.economico.pt/noticias/o-pantano_2262.html