Presidente BPI Fernando Ulrich dá Interessante Entrevista
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Ulrich critica Governo
"Não vejo nenhuma vantagem em andarmos a atirar pedras uns aos outros"
O presidente do Banco BPI, em entrevista ao "Público", critica as declarações do Governo e de vários líderes de opinião, como Jorge Sampaio e Belmiro de Azevedo, sobre a actuação da banca no financiamento à economia. Fernando Ulrich considera que as criticas são "injustas" e que "andarmos a atirar pedras uns aos outros não vai ajudar a resolver os problemas".
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Jornal de Negócios Online
negocios@mediafin.pt
O presidente do Banco BPI, em entrevista ao “Público”, critica as declarações do Governo e de vários líderes de opinião, como Jorge Sampaio e Belmiro de Azevedo, sobre a actuação da banca no financiamento à economia. Fernando Ulrich considera que as criticas são “injustas” e que “andarmos a atirar pedras uns aos outros não vai ajudar a resolver os problemas”.
Na entrevista ao jornal “Público” o presidente executivo do BPI diz que primeiro-ministro e o ministro das Finanças não aguentaram a pressão e lançaram um conjunto de críticas "injustas" aos bancos.
José Sócrates e Teixeira dos Santos chegaram a ameaçar retirar as garantias aos bancos caso estes não concedessem financiamento às empresas.
Alertando que “nem todos os grandes projectos são financiáveis”, Ulrich avisa que esta “crise é muito séria e vai demorar tempo a ser ultrapassada e o que é necessário é que haja uma concertação de esforços dos principais responsáveis, seja dos líderes do Governo, da oposição, das empresas ou dos bancos”.
Por isso diz que “todos temos que estar disponíveis para nos sentarmos à volta da mesa e discutir quais são as melhores soluções. Não vejo nenhuma vantagem em andarmos a atirar pedras uns aos outros. Isso não vai ajudar a resolver os problemas”.
O presidente do BPI classifica de “infelizes” as declarações de Sócrates e Teixeira dos Santos e justifica a posição do Governo com o “stress a que devem estar submetidos”.
Isto depois de terem sido vários os responsáveis a atacar a banca. Ultich citou as declarações de Mário Soares, Jorge Sampaio, Belmiro de Azevedo e Henrique Granadeiro. “Tenho grande admiração por todos, mas lamento que tenham dito certas coisas, porque não ajudam”.
“A sugestão que faço é que se fale menos e que, sobretudo, não atiremos pedras uns aos outros”, acrescentou.
"Não vejo nenhuma vantagem em andarmos a atirar pedras uns aos outros"
O presidente do Banco BPI, em entrevista ao "Público", critica as declarações do Governo e de vários líderes de opinião, como Jorge Sampaio e Belmiro de Azevedo, sobre a actuação da banca no financiamento à economia. Fernando Ulrich considera que as criticas são "injustas" e que "andarmos a atirar pedras uns aos outros não vai ajudar a resolver os problemas".
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O presidente do Banco BPI, em entrevista ao “Público”, critica as declarações do Governo e de vários líderes de opinião, como Jorge Sampaio e Belmiro de Azevedo, sobre a actuação da banca no financiamento à economia. Fernando Ulrich considera que as criticas são “injustas” e que “andarmos a atirar pedras uns aos outros não vai ajudar a resolver os problemas”.
Na entrevista ao jornal “Público” o presidente executivo do BPI diz que primeiro-ministro e o ministro das Finanças não aguentaram a pressão e lançaram um conjunto de críticas "injustas" aos bancos.
José Sócrates e Teixeira dos Santos chegaram a ameaçar retirar as garantias aos bancos caso estes não concedessem financiamento às empresas.
Alertando que “nem todos os grandes projectos são financiáveis”, Ulrich avisa que esta “crise é muito séria e vai demorar tempo a ser ultrapassada e o que é necessário é que haja uma concertação de esforços dos principais responsáveis, seja dos líderes do Governo, da oposição, das empresas ou dos bancos”.
Por isso diz que “todos temos que estar disponíveis para nos sentarmos à volta da mesa e discutir quais são as melhores soluções. Não vejo nenhuma vantagem em andarmos a atirar pedras uns aos outros. Isso não vai ajudar a resolver os problemas”.
O presidente do BPI classifica de “infelizes” as declarações de Sócrates e Teixeira dos Santos e justifica a posição do Governo com o “stress a que devem estar submetidos”.
Isto depois de terem sido vários os responsáveis a atacar a banca. Ultich citou as declarações de Mário Soares, Jorge Sampaio, Belmiro de Azevedo e Henrique Granadeiro. “Tenho grande admiração por todos, mas lamento que tenham dito certas coisas, porque não ajudam”.
“A sugestão que faço é que se fale menos e que, sobretudo, não atiremos pedras uns aos outros”, acrescentou.
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
Presidente BPI Fernando Ulrich dá Interessante Entrevista
Presidente do BPI
Fernando Ulrich avisa que pode não haver financimento para todas as grandes obras públicas
22.12.2008 - 21h53
Por Cristina Ferreira
O presidente do BPI, Fernando Ulrich, diz que nem todos os projectos anunciados pelo governo são financiáveis e que os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dessas grandes obras, do que prejudicar as PME.
Entrevista na íntegra
O Primeiro-Ministro, José Sócrates, e o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, têm razão quando acusam os bancos de não estarem a conceder crédito às empresas e ameaçam retirar o aval do Estado [de 20 mil milhões de euros] que lhes permite ir levantar fundos nos mercados internacionais?
Neste momento o único banco a que pode tirar a garantia é à CGD, que foi o único que a utilizou. É uma questão interna entre o Governo e o seu banco. Mas como tenho dito várias vezes, penso que esta crise é muito séria e vai demorar tempo a ser ultrapassada. E sendo muito séria o que é necessário é que haja uma concertação de esforços dos principais responsáveis, seja dos líderes dos governos, da oposição, das empresas ou dos bancos. Todos temos que estar disponíveis para nos sentarmos à volta da mesa e discutir quais são as melhores soluções. Por isso não vejo nenhuma vantagem em andarmos a atirar pedras uns aos outros pois isso não vai ajudar em nada a resolver os problemas.
O sentido das declarações, e tendo em conta a sua gravidade, resume-se a uma pedra atirada por José Sócrates e Teixeira dos Santos aos bancos?
Acho que as autoridades portuguesas têm, reagido bem para procurarem encontrar soluções e que o tem feito num quadro europeu dado que Portugal é membro da UE. E também constatei que nos últimos dias houve alguns líderes de opinião e algumas pessoas com especial responsabilidade na vida portuguesa que fizeram algumas declarações que eu considero um pouco injustas.
Está a falar de quem?
Estou a falar do dr. Mário Soares, do dr. Jorge Sampaio, do engº Belmiro de Azevedo, do dr. Henrique Granadeiro. Tenho grande admiração e até amizade por todos eles, mas lamento que tenham dito certas coisas que disseram porque não ajudam e penso que vários políticos também não têm ajudado nos comentários que fazem.
Está a falar de dois ex-Presidentes da República, do maior empresário português (Sonae) e do chairman da maior empresa privada. Pergunto-lhe: eles não sabem do que estão a falar?
Perante esta pressão muito grande de líderes de opinião e de políticos e até de membros do Partido Socialista, como o dr. Manuel Alegre, penso que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças não reagiram da melhor maneira. E todos foram infelizes, quer estes líderes de opinião a que me refiro, quer o primeiro-ministro, quer o ministro das Finanças. Portanto a sugestão que faço é que se fale menos e que, sobretudo, não atiremos pedras uns aos outros. Recuso-me a assumir o papel de banco ofendido e responder, apesar da oportunidade que me dá, a essas afirmações pois essa é a pior atitude que podemos ter agora. Se há problemas sentemo-nos à mesa e encontremos as soluções.
Tendo em conta o actual quadro de crise, muito grave e prolongada, acha que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, que sabem exactamente o que se passa, ou se não sabem deviam saber, falam sem fundamento quando afirmam que os bancos não estão a dar crédito às empresas?
Acho que já respondi à sua pergunta quando disse que eles reagiram mal à pressão que surgiu por parte da opinião pública e de vários quadrantes da sociedade, de figuras de dentro do PS, até a pessoas da oposição e às figuras já referidas. E perante toda essa pressão e pelo stress com que devem andar reagiram mal.
Falam por ignorância?
Nem é por ignorância, nem por má-fé. Eles são humanos e reagiram mal à pressão mediática.
Mas essa é uma explicação grave. Como é que um primeiro-ministro e um ministro das Finanças podem, nas suas actuações de Estado, ser permeáveis a pressões que os levam a dar sinais, como diz errados, ao País?
Foram infelizes e reagiram mal à pressão.
Mas as afirmações de Mário Soares, de Jorge Sampaio, de Belmiro de Azevedo e de Henrique Granadeiro não podem ser explicadas por pressões. Falaram à toa?
Pode ter existido nesses casos deficiências de informação.
Como é que explica, e porque estão em causa dois ex-PR, que nenhum se tenha preocupado em informar-se da situação real?
Sei lá. Estão a pronunciar-se com base em preconceitos ideológicos ou então é uma atitude negocial que pode surgir da parte de algumas associações empresariais.
“BPP pode ser mandado liquidar”
As reacções de José Sócrates e de Teixeira dos Santos podem ser explicadas pela necessidade de desviar as atenções da decisão de “salvar” o Banco Privado Português (BPP)?
Não. Daquilo que sei o BPP não está a ser ajudado pelo Governo. Esse é um equívoco que grassa por aí pois, porventura, o Governo e o BdP não terão explicado bem o que fizeram. Porque não está a ser dada nenhuma ajuda ao BPP e na minha opinião não está excluído que desta intervenção que está a ser feita não venha a resultar a liquidação do banco.
Sexta-feira, no final da assembleia-geral do BPP, João Rendeiro, o ex-CEO e fundador, declarou que o banco era viável.
Essa é a opinião dele, terá de a demonstrar. O que digo, daquilo que tenho lido e daquilo que conheço, é que não está excluído que o BPP tenha que ser liquidado e não está excluído que o BPP tenha capitais próprios negativos. Todos os comentários que têm estado a ser feitos sobre a intervenção no BPP e todas as críticas à actuação do Governo partem de uma premissa que não é verdadeira é que não há ajuda nenhuma ao banco.
Mas o Banco de Portugal não deveria ter deixado o mercado funcionar e o banco falir?
E isso não está excluído que venha a acontecer. É preciso que fique claro que a única coisa que o Estado fez foi disponibilizar uma garantia, tendo recebido em colateral activos do BPP, para que um conjunto de bancos proporcionasse ao BPP meios financeiros para fazer face aos depósitos e a dívidas no mercado interbancário. E só isto! E isto só por si não garante nem de perto, nem de longe, o salvamento do BPP. Participei em várias reuniões com as autoridades em que estes temas foram discutidos, dado que o BPI é um dos bancos que entrou no sindicato [que financia o BPP], e em momento algum o Governo ou o BdP disseram que queriam salvar o BPP. O que eles queriam era salvar os depositantes em linha com uma afirmação feita pelo Governo desde que a crise se agravou e a que o Governo quis ser fiel.
“O grande desafio do Governo é financiar o défice da BTC, um dos maiores do mundo”
O Governo também já acusou os bancos de usarem o dinheiro levantado com base na garantia do Estado para resolverem problemas internos. Quer comentar?
Essa afirmação é muito infeliz. E até me custa comentá-la porque até agora, e tirando o BPP que usa uma garantia diferente, ao abrigo da garantia de 20 mil milhões só houve um banco que a utilizou e foi a CGD, que é pública. Essa afirmação nem tem correspondência à realidade actual. Mas o ponto que é importante sublinhar é que Portugal tem um défice da Balança de Transacções Correntes (BTC) muito significativo e esse défice nas nossas trocas com exterior, compramos muito mais ao exterior em bens e serviços do que vendemos, é que tem que ser financiado. E além disso ainda temos dívida que quer os bancos, quer a República Portuguesa contraíram no passado e essa dívida também tem que ser refinanciada todos os anos. E é bom que as pessoas tenham consciência que Portugal é um dos países com um dos maiores défices da BTC do mundo. Quer em percentagem do PIB, quer em valor absoluto, é uma realidade que poucos conhecem. O país com maior défice da BTC é os EUA, o segundo é a Espanha. E Portugal está nos 10 primeiros. E o desafio é este, pois financiar este défice vai ser muito mais difícil do que foi até aqui. E pode até não ser possível.
E se não for possível?
Terá consequências negativas quer nos programas de investimento que queremos fazer em Portugal, quer no nível de vida dos portugueses. A questão central que todos, quer os líderes políticos, quer os empresários, quer os bancários, temos que ter consciência é que é disto que se trata: a necessidade de financiar um dos défices da BTC maiores do mundo e de refinanciar a divida que emitimos no passado. Em condições do boom financeiro dos últimos dez anos isto era facílimo, em condições de uma crise de crédito, como esta, é muito complicado. Devemo-nos concentrar nestes problemas que são muito sérios. Procuremos as soluções e depois não podemos vacilar quando estamos a executar as medidas que adoptamos. Só para lhe dar um indicador para ter consciência. Nas obrigações emitidas no mercado internacional pela República Portuguesa, que é o melhor rating que existe, para se financiar antes de começar a crise financeira, há cerca de um ano, Portugal tinha que pagar 0,2 por cento a mais do que pagava a Alemanha. Neste momento as obrigações a 10 anos emitidas pela República Portuguesa já pagam mais um por cento do que a divida alemã. Este é um sinal claríssimo do como o mercado está a fazer a selecção dos vários países. Na Grécia a situação ainda é pior pois paga mais de dois por cento a mais do que a Alemanha, quando há um ano pagava mais 0,3 por cento, enquanto a Espanha paga quase tanto como Portugal, e a Itália e a Irlanda, que há um ano pagavam o mesmo que Portugal, agora até pagam mais. Os problemas dos países do sul da Europa, Portugal, Espanha, Itália e Grécia, e agora mais a Irlanda, são muito sérios, pois todos têm em comum défices enormes. O mercado está a penalizá-los no sentido de que está a exigir um preço cada vez maior para os continuar a financiar. É um problema que está muito para além do problema dos bancos.
“Alguns dos grandes projectos não são financiáveis”
Concorda com o ex-ministro das Finanças de José Sócrates Campos e Cunha que diz que os grandes projectos do Governo vão absorver os recursos dos bancos que deveriam servir para financiar as PME e o resto da economia?
Percebo que numa situação de crise e de recessão económica os governos queiram estimular a economia e o investimento. Mas esta atitude voluntarista pode não ser suficiente, pois alguns destes grandes projectos podem não ser financiáveis. Ninguém pode garantir que vai haver financiamento, nem mesmo o Tesouro português o pode garantir, por isso admito que alguns dos grandes projectos venham a ter que ser repensados.
Está a pensar nalgum?
Não. Estou apenas a dizer que poderá não ser possível executar todos, pois poderá não haver resposta dos mercados financeiros para financiar todos as obras que foram anunciadas. As PME são um segmento a que os bancos atribuem grande prioridade comercial. São clientes interessantes para os bancos, mesmo do ponto de vista da racionalidade económica e da própria lógica do nosso negócio. A questão colocada pelo professor Campos e Cunha tem sentido, do ponto vista económico, mas penso que os bancos não irão por aí.
Os bancos estão ou não a dar crédito à economia?
Os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dos projectos, do que prejudicar as PME. Alguns dos projectos, uma vez acabado não tem mais negócio para os bancos. Repare que as PME estão cá sempre, são permanentes, tem negócio recorrente, temos o negócio do dono da PME, dos empregados. É uma actividade muito importante para os bancos.
“O aumento do rácio de capital e a fórmula usada para definir o custo das garantias acabam por encarecer o preço do crédito”
Há quem defenda que o facto de o Governo não ter subido fasquia do Tier 1 para nove por cento, como fez o Governo inglês, aumentando apenas para o patamar dos oito por cento, está a penalizar os bancos portugueses na medida em que encarece os financiamentos internacionais. Concorda?
As medidas tomadas pelos Governo para combater a crise são boas, e quem deu o pontapé de saída foi o primeiro-ministro inglês, e a Inglaterra é que apresentou o esquema mais coerente e que viria a ser seguido pela generalidade dos países europeus e também por Portugal. E isso foi feito num espaço de tempo muito curto e num quadro muito difícil pois a situação que se viveu nos mercados bancários em Setembro e princípio de Outubro foi de quase caos. E talvez as pessoas não se tenham apercebido mas estivemos à beira de um caos generalizado nos sistemas bancários europeus. E numa situação destas a rapidez de actuação e o impacto das medidas é fundamental e a resposta foi boa. Mas considero que tem erros. Discordo, por exemplo, da subida da fasquia dos capitais, Inglaterra subiu já o Tier 1 para nove por cento. Portugal subiu para oito por cento para vigorar em Setembro de 2009. Mas isto é um erro enorme, porque é contraditória com a situação que vivemos.
Porquê?
Chegamos a esta situação toda porque houve excesso de crédito. Está a dizer-se aos bancos que têm que ser mais prudentes, têm que correr menos riscos e têm que desalavancar e que o crédito não pode crescer ao mesmo ritmo do passado. E o mercado de acções tem tido quedas acentuadas, os investidores estão muito retraídos e não querem comparar acções e é difícil realizar aumentos de capital. Numa altura destas vir subir a fasquia do capital mínimo para operar é contraditório e vai ter uma consequência, pois se os bancos têm que ter mais capital e se ainda por cima vão ter de ser mais prudentes e correr menos riscos, então para remunerar esse capital vão ter que cobrar preços mais altos. A medida que devia ter sido tomada era quase a oposta. Devia dizer-se aos bancos que têm que ter capital para cobrir eventuais prejuízos resultantes da crise, e se calhar a três ou cinco anos o rácio até pode subir um pouco, mas não exigir uma subida em plena crise e quando não há fontes onde ir buscar o capital. A não ser que seja para caminhar até à nacionalização e ainda por cima sem pagar o preço certo, pois esta medida contribui para a desvalorização.
Em Portugal há essa intenção?
A medida foi tomada no quadro europeu. Houve talvez algum medo de que, tendo os ingleses colocado a fasquia nos nove por cento e Portugal nada fizesse, isso fragilizasse a posição negocial do sistema. Mas não concordo. Também não concordo com a fórmula adoptada pelo governo inglês para definir o preço das garantias públicas, e que depois foi adoptada pelos outros países. A garantia, que alguns políticos vêm agora dizer que é uma grande ajuda aos bancos, tem como consequência um aumento significativo do custo da intermediação bancária e que vai ser pago pelos clientes numa altura em que a situação económica é difícil.
Pode concretizar melhor essa sua ideia?
Num empréstimo, de emissão de obrigações, que um banco português faça com a garantia do Estado, o custo tem duas componentes: uma é o que o banca paga ao Estado pela garantia, e depois é o spread que o banco paga aos investidores para eles comprarem esses títulos. Para os grandes bancos portugueses há garantias mas o custo da garantia anda entre 0,85 e um por cento. Em cima disso há o spread que pagam aos investidores. A CGD mesmo com garantia teve que pagar um spread de 0,85 por cento em cima de 0,9 que pagou pela garantia o que dá 1,7 ou 1,8 por cento, que é o que custou o uso da garantia. E depois ainda tem outros custos adicionais. O custo final para os bancos fica em quase dois por cento. E por isso os bancos têm que cobrar mais do que isso aos clientes para terem alguma rentabilidade com esses recursos financeiros. E esta é uma das razões que está a contribuir para algum ruído nesta matéria, não é tanto que os bancos estejam a cortar o crédito, mas provavelmente estão a aumentar os spreads que cobram aos clientes. Mas isso, em parte, e não é só, resulta de que o mercado em geral fez uma reavaliação do risco de crédito e também tem que ver com as medidas que os governos tomaram. O facto do rácio de capital ser mais alto e de a fórmula usada para definir o custo das garantias acabam por encarecer o preço do crédito. Portanto os Governos deviam rever estas medidas que são uma má contribuição para o crescimento económico. Aliás, nos EUA o custo das garantias pago pela banca norte-americana ao Estado é mais baixo do que o pago na Europa.
Mas o Governo não percebeu as consequências das medidas?
O ministro das Finanças é uma pessoa muito sabedora e com certeza que sabe. Mas perante tanta pressão e tanto stress tiveram uma resposta menos boa. Tinha sido mais útil se tivessem explicado aos seus opositores as razões das suas decisões. É bom que as pessoas entendam que as garantias que estão a ser proporcionadas aos bancos para emitirem são generalizadas em todo o mundo ocidental, existem nos EUA, na Grã-Bretanha, em Espanha, na Irlanda e, portanto, não é nenhum favor que o Governo faz aos bancos portugueses.
“CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo”
Como é que vê o facto de a CGD ter realizado em menos de um ano três aumentos de capital directos e um indirecto, no valor de dois mil milhões de euros, sem que o Governo tenha justificado a decisão, apenas dizendo que é para repor os rácios?
Tenho dito, por diversas vezes, que a relação da CGD com o seu accionista deve ser um exemplo de rigor e de transparência e não tem sido. Não se percebe que a CGD no espaço de um ano faça três aumentos de capital e uma operação de venda de activo que equivale, do ponto de vista económico, a um aumento de capital. A CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo ou não pode deixar que se fique com essa ideia. A CGD serve para financiar a economia? Ou é para cobrir os prejuízos que tem no financiamento de acções cujo sentido não se entende? Ou é para cobrir prejuízos de posições accionistas em empresas de sentido duvidoso? Para que as dúvidas não assolem permanentemente os contribuintes, deveria haver uma estrutura de controlo da CGD, ou no quadro do Parlamento, como agora está na moda, ou por via de uma comissão superior. A par de muita coisa bem feita, a CGD tem um conjunto de operações de que se desconhece qual o interesse público que visam satisfazer.
O Governo fez bem em intervir no BPN?
Com base nas informações, a decisão pareceu-me correcta.
O BPI foi uma das entidades que alertou as autoridades de supervisão para a existência de irregularidades nas contas do BCP. Como avalia as acusações do BdP e da CMVM aos ex-gestores do BCP?
Não tenho conhecimento dos processos para poder fazer um juízo, mas parece-me importante que as autoridades estejam a levar o seu trabalho até às últimas consequências.
“Soube do negócio entre o BCP e Isabel dos Santos na véspera de ser anunciado”
Isabel dos Santos, filha do Presidente da República de Angola, adquiriu a semana passada quase dez por cento do BPI, passando a ser o terceiro maior accionista. Já disse que a operação era bem-vinda. Quando é que tomou conhecimento?
Ao longo das negociações e das conversas que tivemos sobre a abertura do capital do BFA a questão de uma eventual entrada da engª Isabel dos Santos, ou da sua empresa, no capital do BPI foi conversada, mas não fez parte das negociações.
Foi sugerida pelo BPI ou por Isabel dos Santos?
Não gostava de responder directamente a essa pergunta. Mas foi conversada. Nem me lembro bem às vezes de quem toma a iniciativa. E a concretização do interesse na compra da posição do BPI detida pelo BCP foi tratada directamente entre as duas partes envolvidas. O BPI não teve qualquer intervenção nessa negociação.
Quando é que foi informado do acordo entre o BCP e Isabel dos Santos.
Soube na véspera do acordo. Eu não sabia que estavam a decorrer entre as duas partes conversas com o BCP para a venda das acções do BPI.
O BCP não vos informou?
Nem tinha que informar. Mas gostava de dizer que desde que entrou no BCP, o dr. Carlos Santos Ferreira teve várias conversas comigo. O presidente do BCP conhecia o que eu pensava sobre estas matérias e pôde incorporar esse conhecimento nos passos que foi dando.
E incorporou?
Já lhe respondo. Mas a prioridade dele foi defender os interesses do BCP e dos investidores. Mas sabia o que é que eu pensava sobre isto.
Mas o presidente do BCP incorporou na decisão de venda das acções do BPI, aIsabel dos Santos, as conversas que os dois tiveram?
Já disse que considero positiva a entrada da engª Isabel dos Santos no BPI, para a parceria que temos em Angola e para o desenvolvimento do nosso projecto. Mas o que eu queria dizer é que o dr. Santos Ferreira e o BCP não tinham que fazer uma transacção que viesse ao encontro do que nós queríamos. Estou a dizer é que nas conversas que tivemos ele teve o cuidado de ouvir o que eu tinha a dizer sobre esta problemática.
Fernando Ulrich avisa que pode não haver financimento para todas as grandes obras públicas
22.12.2008 - 21h53
Por Cristina Ferreira
O presidente do BPI, Fernando Ulrich, diz que nem todos os projectos anunciados pelo governo são financiáveis e que os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dessas grandes obras, do que prejudicar as PME.
Entrevista na íntegra
O Primeiro-Ministro, José Sócrates, e o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, têm razão quando acusam os bancos de não estarem a conceder crédito às empresas e ameaçam retirar o aval do Estado [de 20 mil milhões de euros] que lhes permite ir levantar fundos nos mercados internacionais?
Neste momento o único banco a que pode tirar a garantia é à CGD, que foi o único que a utilizou. É uma questão interna entre o Governo e o seu banco. Mas como tenho dito várias vezes, penso que esta crise é muito séria e vai demorar tempo a ser ultrapassada. E sendo muito séria o que é necessário é que haja uma concertação de esforços dos principais responsáveis, seja dos líderes dos governos, da oposição, das empresas ou dos bancos. Todos temos que estar disponíveis para nos sentarmos à volta da mesa e discutir quais são as melhores soluções. Por isso não vejo nenhuma vantagem em andarmos a atirar pedras uns aos outros pois isso não vai ajudar em nada a resolver os problemas.
O sentido das declarações, e tendo em conta a sua gravidade, resume-se a uma pedra atirada por José Sócrates e Teixeira dos Santos aos bancos?
Acho que as autoridades portuguesas têm, reagido bem para procurarem encontrar soluções e que o tem feito num quadro europeu dado que Portugal é membro da UE. E também constatei que nos últimos dias houve alguns líderes de opinião e algumas pessoas com especial responsabilidade na vida portuguesa que fizeram algumas declarações que eu considero um pouco injustas.
Está a falar de quem?
Estou a falar do dr. Mário Soares, do dr. Jorge Sampaio, do engº Belmiro de Azevedo, do dr. Henrique Granadeiro. Tenho grande admiração e até amizade por todos eles, mas lamento que tenham dito certas coisas que disseram porque não ajudam e penso que vários políticos também não têm ajudado nos comentários que fazem.
Está a falar de dois ex-Presidentes da República, do maior empresário português (Sonae) e do chairman da maior empresa privada. Pergunto-lhe: eles não sabem do que estão a falar?
Perante esta pressão muito grande de líderes de opinião e de políticos e até de membros do Partido Socialista, como o dr. Manuel Alegre, penso que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças não reagiram da melhor maneira. E todos foram infelizes, quer estes líderes de opinião a que me refiro, quer o primeiro-ministro, quer o ministro das Finanças. Portanto a sugestão que faço é que se fale menos e que, sobretudo, não atiremos pedras uns aos outros. Recuso-me a assumir o papel de banco ofendido e responder, apesar da oportunidade que me dá, a essas afirmações pois essa é a pior atitude que podemos ter agora. Se há problemas sentemo-nos à mesa e encontremos as soluções.
Tendo em conta o actual quadro de crise, muito grave e prolongada, acha que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, que sabem exactamente o que se passa, ou se não sabem deviam saber, falam sem fundamento quando afirmam que os bancos não estão a dar crédito às empresas?
Acho que já respondi à sua pergunta quando disse que eles reagiram mal à pressão que surgiu por parte da opinião pública e de vários quadrantes da sociedade, de figuras de dentro do PS, até a pessoas da oposição e às figuras já referidas. E perante toda essa pressão e pelo stress com que devem andar reagiram mal.
Falam por ignorância?
Nem é por ignorância, nem por má-fé. Eles são humanos e reagiram mal à pressão mediática.
Mas essa é uma explicação grave. Como é que um primeiro-ministro e um ministro das Finanças podem, nas suas actuações de Estado, ser permeáveis a pressões que os levam a dar sinais, como diz errados, ao País?
Foram infelizes e reagiram mal à pressão.
Mas as afirmações de Mário Soares, de Jorge Sampaio, de Belmiro de Azevedo e de Henrique Granadeiro não podem ser explicadas por pressões. Falaram à toa?
Pode ter existido nesses casos deficiências de informação.
Como é que explica, e porque estão em causa dois ex-PR, que nenhum se tenha preocupado em informar-se da situação real?
Sei lá. Estão a pronunciar-se com base em preconceitos ideológicos ou então é uma atitude negocial que pode surgir da parte de algumas associações empresariais.
“BPP pode ser mandado liquidar”
As reacções de José Sócrates e de Teixeira dos Santos podem ser explicadas pela necessidade de desviar as atenções da decisão de “salvar” o Banco Privado Português (BPP)?
Não. Daquilo que sei o BPP não está a ser ajudado pelo Governo. Esse é um equívoco que grassa por aí pois, porventura, o Governo e o BdP não terão explicado bem o que fizeram. Porque não está a ser dada nenhuma ajuda ao BPP e na minha opinião não está excluído que desta intervenção que está a ser feita não venha a resultar a liquidação do banco.
Sexta-feira, no final da assembleia-geral do BPP, João Rendeiro, o ex-CEO e fundador, declarou que o banco era viável.
Essa é a opinião dele, terá de a demonstrar. O que digo, daquilo que tenho lido e daquilo que conheço, é que não está excluído que o BPP tenha que ser liquidado e não está excluído que o BPP tenha capitais próprios negativos. Todos os comentários que têm estado a ser feitos sobre a intervenção no BPP e todas as críticas à actuação do Governo partem de uma premissa que não é verdadeira é que não há ajuda nenhuma ao banco.
Mas o Banco de Portugal não deveria ter deixado o mercado funcionar e o banco falir?
E isso não está excluído que venha a acontecer. É preciso que fique claro que a única coisa que o Estado fez foi disponibilizar uma garantia, tendo recebido em colateral activos do BPP, para que um conjunto de bancos proporcionasse ao BPP meios financeiros para fazer face aos depósitos e a dívidas no mercado interbancário. E só isto! E isto só por si não garante nem de perto, nem de longe, o salvamento do BPP. Participei em várias reuniões com as autoridades em que estes temas foram discutidos, dado que o BPI é um dos bancos que entrou no sindicato [que financia o BPP], e em momento algum o Governo ou o BdP disseram que queriam salvar o BPP. O que eles queriam era salvar os depositantes em linha com uma afirmação feita pelo Governo desde que a crise se agravou e a que o Governo quis ser fiel.
“O grande desafio do Governo é financiar o défice da BTC, um dos maiores do mundo”
O Governo também já acusou os bancos de usarem o dinheiro levantado com base na garantia do Estado para resolverem problemas internos. Quer comentar?
Essa afirmação é muito infeliz. E até me custa comentá-la porque até agora, e tirando o BPP que usa uma garantia diferente, ao abrigo da garantia de 20 mil milhões só houve um banco que a utilizou e foi a CGD, que é pública. Essa afirmação nem tem correspondência à realidade actual. Mas o ponto que é importante sublinhar é que Portugal tem um défice da Balança de Transacções Correntes (BTC) muito significativo e esse défice nas nossas trocas com exterior, compramos muito mais ao exterior em bens e serviços do que vendemos, é que tem que ser financiado. E além disso ainda temos dívida que quer os bancos, quer a República Portuguesa contraíram no passado e essa dívida também tem que ser refinanciada todos os anos. E é bom que as pessoas tenham consciência que Portugal é um dos países com um dos maiores défices da BTC do mundo. Quer em percentagem do PIB, quer em valor absoluto, é uma realidade que poucos conhecem. O país com maior défice da BTC é os EUA, o segundo é a Espanha. E Portugal está nos 10 primeiros. E o desafio é este, pois financiar este défice vai ser muito mais difícil do que foi até aqui. E pode até não ser possível.
E se não for possível?
Terá consequências negativas quer nos programas de investimento que queremos fazer em Portugal, quer no nível de vida dos portugueses. A questão central que todos, quer os líderes políticos, quer os empresários, quer os bancários, temos que ter consciência é que é disto que se trata: a necessidade de financiar um dos défices da BTC maiores do mundo e de refinanciar a divida que emitimos no passado. Em condições do boom financeiro dos últimos dez anos isto era facílimo, em condições de uma crise de crédito, como esta, é muito complicado. Devemo-nos concentrar nestes problemas que são muito sérios. Procuremos as soluções e depois não podemos vacilar quando estamos a executar as medidas que adoptamos. Só para lhe dar um indicador para ter consciência. Nas obrigações emitidas no mercado internacional pela República Portuguesa, que é o melhor rating que existe, para se financiar antes de começar a crise financeira, há cerca de um ano, Portugal tinha que pagar 0,2 por cento a mais do que pagava a Alemanha. Neste momento as obrigações a 10 anos emitidas pela República Portuguesa já pagam mais um por cento do que a divida alemã. Este é um sinal claríssimo do como o mercado está a fazer a selecção dos vários países. Na Grécia a situação ainda é pior pois paga mais de dois por cento a mais do que a Alemanha, quando há um ano pagava mais 0,3 por cento, enquanto a Espanha paga quase tanto como Portugal, e a Itália e a Irlanda, que há um ano pagavam o mesmo que Portugal, agora até pagam mais. Os problemas dos países do sul da Europa, Portugal, Espanha, Itália e Grécia, e agora mais a Irlanda, são muito sérios, pois todos têm em comum défices enormes. O mercado está a penalizá-los no sentido de que está a exigir um preço cada vez maior para os continuar a financiar. É um problema que está muito para além do problema dos bancos.
“Alguns dos grandes projectos não são financiáveis”
Concorda com o ex-ministro das Finanças de José Sócrates Campos e Cunha que diz que os grandes projectos do Governo vão absorver os recursos dos bancos que deveriam servir para financiar as PME e o resto da economia?
Percebo que numa situação de crise e de recessão económica os governos queiram estimular a economia e o investimento. Mas esta atitude voluntarista pode não ser suficiente, pois alguns destes grandes projectos podem não ser financiáveis. Ninguém pode garantir que vai haver financiamento, nem mesmo o Tesouro português o pode garantir, por isso admito que alguns dos grandes projectos venham a ter que ser repensados.
Está a pensar nalgum?
Não. Estou apenas a dizer que poderá não ser possível executar todos, pois poderá não haver resposta dos mercados financeiros para financiar todos as obras que foram anunciadas. As PME são um segmento a que os bancos atribuem grande prioridade comercial. São clientes interessantes para os bancos, mesmo do ponto de vista da racionalidade económica e da própria lógica do nosso negócio. A questão colocada pelo professor Campos e Cunha tem sentido, do ponto vista económico, mas penso que os bancos não irão por aí.
Os bancos estão ou não a dar crédito à economia?
Os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dos projectos, do que prejudicar as PME. Alguns dos projectos, uma vez acabado não tem mais negócio para os bancos. Repare que as PME estão cá sempre, são permanentes, tem negócio recorrente, temos o negócio do dono da PME, dos empregados. É uma actividade muito importante para os bancos.
“O aumento do rácio de capital e a fórmula usada para definir o custo das garantias acabam por encarecer o preço do crédito”
Há quem defenda que o facto de o Governo não ter subido fasquia do Tier 1 para nove por cento, como fez o Governo inglês, aumentando apenas para o patamar dos oito por cento, está a penalizar os bancos portugueses na medida em que encarece os financiamentos internacionais. Concorda?
As medidas tomadas pelos Governo para combater a crise são boas, e quem deu o pontapé de saída foi o primeiro-ministro inglês, e a Inglaterra é que apresentou o esquema mais coerente e que viria a ser seguido pela generalidade dos países europeus e também por Portugal. E isso foi feito num espaço de tempo muito curto e num quadro muito difícil pois a situação que se viveu nos mercados bancários em Setembro e princípio de Outubro foi de quase caos. E talvez as pessoas não se tenham apercebido mas estivemos à beira de um caos generalizado nos sistemas bancários europeus. E numa situação destas a rapidez de actuação e o impacto das medidas é fundamental e a resposta foi boa. Mas considero que tem erros. Discordo, por exemplo, da subida da fasquia dos capitais, Inglaterra subiu já o Tier 1 para nove por cento. Portugal subiu para oito por cento para vigorar em Setembro de 2009. Mas isto é um erro enorme, porque é contraditória com a situação que vivemos.
Porquê?
Chegamos a esta situação toda porque houve excesso de crédito. Está a dizer-se aos bancos que têm que ser mais prudentes, têm que correr menos riscos e têm que desalavancar e que o crédito não pode crescer ao mesmo ritmo do passado. E o mercado de acções tem tido quedas acentuadas, os investidores estão muito retraídos e não querem comparar acções e é difícil realizar aumentos de capital. Numa altura destas vir subir a fasquia do capital mínimo para operar é contraditório e vai ter uma consequência, pois se os bancos têm que ter mais capital e se ainda por cima vão ter de ser mais prudentes e correr menos riscos, então para remunerar esse capital vão ter que cobrar preços mais altos. A medida que devia ter sido tomada era quase a oposta. Devia dizer-se aos bancos que têm que ter capital para cobrir eventuais prejuízos resultantes da crise, e se calhar a três ou cinco anos o rácio até pode subir um pouco, mas não exigir uma subida em plena crise e quando não há fontes onde ir buscar o capital. A não ser que seja para caminhar até à nacionalização e ainda por cima sem pagar o preço certo, pois esta medida contribui para a desvalorização.
Em Portugal há essa intenção?
A medida foi tomada no quadro europeu. Houve talvez algum medo de que, tendo os ingleses colocado a fasquia nos nove por cento e Portugal nada fizesse, isso fragilizasse a posição negocial do sistema. Mas não concordo. Também não concordo com a fórmula adoptada pelo governo inglês para definir o preço das garantias públicas, e que depois foi adoptada pelos outros países. A garantia, que alguns políticos vêm agora dizer que é uma grande ajuda aos bancos, tem como consequência um aumento significativo do custo da intermediação bancária e que vai ser pago pelos clientes numa altura em que a situação económica é difícil.
Pode concretizar melhor essa sua ideia?
Num empréstimo, de emissão de obrigações, que um banco português faça com a garantia do Estado, o custo tem duas componentes: uma é o que o banca paga ao Estado pela garantia, e depois é o spread que o banco paga aos investidores para eles comprarem esses títulos. Para os grandes bancos portugueses há garantias mas o custo da garantia anda entre 0,85 e um por cento. Em cima disso há o spread que pagam aos investidores. A CGD mesmo com garantia teve que pagar um spread de 0,85 por cento em cima de 0,9 que pagou pela garantia o que dá 1,7 ou 1,8 por cento, que é o que custou o uso da garantia. E depois ainda tem outros custos adicionais. O custo final para os bancos fica em quase dois por cento. E por isso os bancos têm que cobrar mais do que isso aos clientes para terem alguma rentabilidade com esses recursos financeiros. E esta é uma das razões que está a contribuir para algum ruído nesta matéria, não é tanto que os bancos estejam a cortar o crédito, mas provavelmente estão a aumentar os spreads que cobram aos clientes. Mas isso, em parte, e não é só, resulta de que o mercado em geral fez uma reavaliação do risco de crédito e também tem que ver com as medidas que os governos tomaram. O facto do rácio de capital ser mais alto e de a fórmula usada para definir o custo das garantias acabam por encarecer o preço do crédito. Portanto os Governos deviam rever estas medidas que são uma má contribuição para o crescimento económico. Aliás, nos EUA o custo das garantias pago pela banca norte-americana ao Estado é mais baixo do que o pago na Europa.
Mas o Governo não percebeu as consequências das medidas?
O ministro das Finanças é uma pessoa muito sabedora e com certeza que sabe. Mas perante tanta pressão e tanto stress tiveram uma resposta menos boa. Tinha sido mais útil se tivessem explicado aos seus opositores as razões das suas decisões. É bom que as pessoas entendam que as garantias que estão a ser proporcionadas aos bancos para emitirem são generalizadas em todo o mundo ocidental, existem nos EUA, na Grã-Bretanha, em Espanha, na Irlanda e, portanto, não é nenhum favor que o Governo faz aos bancos portugueses.
“CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo”
Como é que vê o facto de a CGD ter realizado em menos de um ano três aumentos de capital directos e um indirecto, no valor de dois mil milhões de euros, sem que o Governo tenha justificado a decisão, apenas dizendo que é para repor os rácios?
Tenho dito, por diversas vezes, que a relação da CGD com o seu accionista deve ser um exemplo de rigor e de transparência e não tem sido. Não se percebe que a CGD no espaço de um ano faça três aumentos de capital e uma operação de venda de activo que equivale, do ponto de vista económico, a um aumento de capital. A CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo ou não pode deixar que se fique com essa ideia. A CGD serve para financiar a economia? Ou é para cobrir os prejuízos que tem no financiamento de acções cujo sentido não se entende? Ou é para cobrir prejuízos de posições accionistas em empresas de sentido duvidoso? Para que as dúvidas não assolem permanentemente os contribuintes, deveria haver uma estrutura de controlo da CGD, ou no quadro do Parlamento, como agora está na moda, ou por via de uma comissão superior. A par de muita coisa bem feita, a CGD tem um conjunto de operações de que se desconhece qual o interesse público que visam satisfazer.
O Governo fez bem em intervir no BPN?
Com base nas informações, a decisão pareceu-me correcta.
O BPI foi uma das entidades que alertou as autoridades de supervisão para a existência de irregularidades nas contas do BCP. Como avalia as acusações do BdP e da CMVM aos ex-gestores do BCP?
Não tenho conhecimento dos processos para poder fazer um juízo, mas parece-me importante que as autoridades estejam a levar o seu trabalho até às últimas consequências.
“Soube do negócio entre o BCP e Isabel dos Santos na véspera de ser anunciado”
Isabel dos Santos, filha do Presidente da República de Angola, adquiriu a semana passada quase dez por cento do BPI, passando a ser o terceiro maior accionista. Já disse que a operação era bem-vinda. Quando é que tomou conhecimento?
Ao longo das negociações e das conversas que tivemos sobre a abertura do capital do BFA a questão de uma eventual entrada da engª Isabel dos Santos, ou da sua empresa, no capital do BPI foi conversada, mas não fez parte das negociações.
Foi sugerida pelo BPI ou por Isabel dos Santos?
Não gostava de responder directamente a essa pergunta. Mas foi conversada. Nem me lembro bem às vezes de quem toma a iniciativa. E a concretização do interesse na compra da posição do BPI detida pelo BCP foi tratada directamente entre as duas partes envolvidas. O BPI não teve qualquer intervenção nessa negociação.
Quando é que foi informado do acordo entre o BCP e Isabel dos Santos.
Soube na véspera do acordo. Eu não sabia que estavam a decorrer entre as duas partes conversas com o BCP para a venda das acções do BPI.
O BCP não vos informou?
Nem tinha que informar. Mas gostava de dizer que desde que entrou no BCP, o dr. Carlos Santos Ferreira teve várias conversas comigo. O presidente do BCP conhecia o que eu pensava sobre estas matérias e pôde incorporar esse conhecimento nos passos que foi dando.
E incorporou?
Já lhe respondo. Mas a prioridade dele foi defender os interesses do BCP e dos investidores. Mas sabia o que é que eu pensava sobre isto.
Mas o presidente do BCP incorporou na decisão de venda das acções do BPI, aIsabel dos Santos, as conversas que os dois tiveram?
Já disse que considero positiva a entrada da engª Isabel dos Santos no BPI, para a parceria que temos em Angola e para o desenvolvimento do nosso projecto. Mas o que eu queria dizer é que o dr. Santos Ferreira e o BCP não tinham que fazer uma transacção que viesse ao encontro do que nós queríamos. Estou a dizer é que nas conversas que tivemos ele teve o cuidado de ouvir o que eu tinha a dizer sobre esta problemática.
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
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