Woodhare Escreveu:Branco ninguém é "wacko" só por discordar dos outros.
Mas eu pessoalmente estou a tentar perceber o que é que há de mal no presente sistema e o que aconteceria se os bancos fossem obrigados a manter reservas de 100% do capital.
A reserva não tem que ser 100% cash, basta que o colateral seja liquido e de qualidade aceitavel. Vamos fazer um exemplo para o comércio de pão e fazer um fluxo simplificado.
Agricultor -> Moleiro -> Padeiro -> Cliente
O agricultor cemeia o trigo e vende-o ao Moleiro que faz dele farinha. O moleiro começou agora a sua actividade e não tem dinheiro, como tal passa uma nota de crédito ao agricultor comprometendo-se a pagar, em moeda, daqui a 3 meses. O moleiro faz a farinha e vende ao padeiro que volta a fazer o mesmo (obviamente por um valor superior já que tem de cobrir a despesa do seu trabalho).
O cliente final paga em moeda ao padeiro, este usa essa moeda para pagar ao moleiro que por sua vez paga ao agricultor.
Este ciclo demora o seu tempo, e imaginemos que a mulher do agricultor tem um problema qualquer e que este não pode esperar os 3 meses que o moleiro lhe pediu. Graças ao sistema bancário este pode ir directamente ao banco e entregar a nota de crédito do moleiro que o banco pagará retirando obviamente o juro que lhe é devido até à data do vencimento da nota de crédito.
Isto é colateral perfeitamente válido por várias razões:
1) É liquido
2) Vence a curto prazo
3) Representa mercadoria a caminho do mercado (neste caso trigo/farinha/pão)
É preciso perceber que há uma grande diferença entre este tipo de material e, por exemplo, uma casa. Uma casa não é um bem liquido nem tem prazo de venda. O pão por outro lado é uma mercadoria que circula a alta velocidade no mercado, se por exemplo o padeiro não conseguir escoar o seu stock de pão nos três meses com que se comprometeu com o moleiro então é altamente duvidoso que alguma vez o venha a vender (já se estragou) e como tal tem de entrar em falência, o que além de ser um processo vergonhoso numa sociedade produtora também o impedirá de passar novas notas de crédito.
Este processo baseia-se em duas ideias chaves: Curto prazo das notas de crédito e o consumidor final ser sempre detentor de ouro/prata.Sobre a liquidez dos bens e sobre os empréstimos sobre eles Adam Smith diz ainda:
[...]o dinheiro que é obtido de empréstimo para somente ser pago após vários anos [fala de casas e material pesado para fábricas] não deveria ser emprestado por um banco, mas sim obtido contra um titulo de obrigação, ou de hiptoeca, junto de pessoas privadas que pretendem viver dos juros do seu dinheiro sem se darem elas próprias ao trabalho de empregarem os seus capitais estando por isso dispostas a emprestá-lo a pessoas de bom crédito. É certo que um banco que empresta o dinheiro [...] seria um credor muito cómodo para tais comerciantes e empresários. Estes é que seriam, sem dúvida, devedores extremamente incómodos para o banco
.
Vemos portanto que este método reduz em muito a circulação de moeda física (a moeda do consumidor final paga toda a cadeia de produção) e que permite ao banco estar sempre líquido apesar de não estar 100% em dinheiro. O pior que pode acontecer a um banco se houver uma corrida à banca com um sistema destes é demorar 3 meses a pagar aos seus credores porque na realidade ele está adequadamente capitalizado a não ser que um número anormal de comerciantes no país entrem em falência no espaço de três meses.
Edit: Obviamente um ponto também bastante importante a nível económico é que permite ao moleiro trabalhar com muito menos capital empatado ajudando assim ao crescimento económico.
Não é valido "rolar" a nota de crédito. Quando vence tem que ser paga em moeda.
Não é válido emitir nota de crédito sobre trigo que o agricultor tem no celeiro. Isso é mercadoria parada.