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Caldeirão da Bolsa

E Depois da Crise?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

E Depois da Crise?

por luiz22 » 6/10/2008 19:48

Análise BPI 2008-10-06 11:45

E Depois da Crise?

Quando já se dava como certo o desanuviamento das tensões nos mercados financeiros, um ano depois da eclosão da crise do 'subprime', eis que a sucessão de acontecimentos em catadupa no sistema bancário acaba por pôr em causa todos os cenários traçados. No final, o impacto desta crise dependerá sobretudo da rapidez com que se restaurar a confiança no sistema bancário – quer dos próprios bancos entre si quer dos utentes do sistema.

Paula Carvalho, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI

O impacto potencial desta crise sobre a economia global e os países desenvolvidos em particular, está ainda por aferir. No final deste forte movimento regenerador, o sistema financeiro encolherá, a disponibilidade para conceder crédito será menor e o desenho do sistema bancário e do seu activo global será provavelmente mais simples. Os efeitos na economia serão significativos.

Para além do impacto negativo imediato visível no afundamento dos níveis de confiança, mais tarde, a menor facilidade em obter financiamento implicará ritmos de crescimento de actividade menores por parte de famílias e empresas que, em vez de anteciparem consumos, terão de crescer à conta de fundos gerados internamente – por recurso aos lucros gerados, no caso das empresas, e das poupanças acumuladas, no caso das famílias. Uma mudança de paradigma, um arrefecimento significativo mas também possivelmente um crescimento mais saudável e mais justo do ponto de vista inter-geracional.

Nos EUA, a intensificação da crise no sistema bancário ao longo do mês de Setembro veio enegrecer substancialmente o cenário macroeconómico. E repare-se que as estatísticas actualmente disponíveis já reflectem um clima significativamente deprimido: em Junho já era visível a quase estagnação do crédito a empresas e particulares (crescimento homólogo de 1,4%, mínimo desde início da década de 50); o rendimento dos particulares, medido em termos reais, está em contracção há já alguns meses quando expurgado o efeito do pacote fiscal; e o ritmo de degradação dos indicadores no mercado de trabalho sugere que este dificilmente será um factor de suporte no curto prazo. Finalmente, o mercado imobiliário continua em acentuado processo de correcção (alguns sinais muito ténues mais positivos que se começavam a desenhar serão certamente invertidos depois do período fortemente conturbado que atravessamos).

O recuo do preço do petróleo, o fim da correcção do imobiliário e a saúde do sector empresarial fora da banca, do imobiliário e da construção, são os principais elementos positivos de suporte à economia num horizonte de médio prazo (1-2 anos). Não obstante, os EUA atravessarão certamente um período prolongado

de crescimento abaixo da tendência. Até porque o desenho e a flexibilidade (leia-se, pouca regulação) do sistema financeiro, que agora desapareceu, constituíram um dos principais propulsores do crescimento nas últimas décadas.

Relativamente à União Económica e Monetária, embora os países da região estejam globalmente mais resguardados que os EUA neste capítulo, há grandes divergências regionais que terão implicações no comportamento futuro de cada economia. Assim países como Espanha, Irlanda e UK (fora do espaço euro mas com laços estreitos com a região) verão o impacto da crise de crédito enfatizado pelos fortes movimentos de correcção nos respectivos mercados imobiliários; outros países com elevados níveis de endividamento, como a Holanda e Portugal, terão o crédito cada vez menos a funcionar como catalisador do crescimento; entretanto a economia francesa tem estado também muito assente no recurso ao financiamento apesar de ter uma base produtiva mais diversificada e estar menos exposta ao segmento do imobiliário e construção. Finalmente, a Alemanha será provavelmente a economia menos afectada directamente pela crise no mercado de crédito: a poupança privada é elevada, o mercado imobiliário tem estado estagnado e os níveis de endividamento são dos menores entre as economias desenvolvidas. Aliás, este é também um dos factores de conforto da economia italiana.

Enfim, tempos difíceis e trajectos diferentes se perspectivam no futuro.




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