Relativamente ao plano Paulson, tem-se tentado avaliar a sua eficácia e a sua imperatividade.
Há quem defenda que é o mal menor e que tem de ser implementado de imediato de forma a salvar o que pode ser salvo - julgo que o próprio Paulson tem esta posição, bem como os principais dirigentes das instituições financeiras internacionais, BCE incluído.
Há quem defenda que tal Plano é ineficaz e poderá adiar o problema por umas semanas, criando uma ilusão de normalidade e iniciando um processo de "habituação" que deverá requerer quantias crescentes de fundos - posição defendida por liberais e monetaristas para quem este plano é inaceitável.
O que me interessa discutir é :
1. quem são os beneficiários do plano?
2. quem o paga?
OS BENEFICIÁRIOS DO PLANO SÃO OS ACCIONISTAS DAS EMPRESAS QUE COMETERAM OS ERROS.
Enquanto as empresas realizaram as operações (créditos hipotecários, CDS, etc.) as empresas floresceram, os accionistas encaixaram os dividendos, os gestores facturaram os prémios, etc. Tudo normal.
Obviamente que as provisões técnicas não foram constituídas porque se calhar os resultados não seriam tão brilhantes, os prémios e os dividendos não seriam tão chorudos, etc.
E quando os incumprimentos acontecem em série, o que é de esperar? Pois, as empresas que cometeram o erro fecham, havendo quem adquira os créditos que estas detém, descontando o seu risco de cobrança. A isto há quem chame de "lei da selva". Se a probabilidade de vir a cobrar um crédito é de 50%, só estou disposto a pagar menos de 50 cêntimos por cada dólar de crédito.
As instituições financeiras que fizeram uma adequada gestão do risco - e que não tiveram os desempenhos fabulásticos das que arriscaram - terão aqui um papel decisivo... a ameaça para uns é a oportunidade para outros.
O plano Paulson vai impedir que tal aconteça, pois vai ser concorrente no processo - e é um concorrente desleal. Pagará eventualmente 60 cêntimos por cada dólar de crédito. Haverá portanto quem venha a receber 60 cêntimos por algo que o mercado avalia em 50 cêntimos. PONTO.
O PLANO É PAGO POR TODOS OS CONSUMIDORES.
Já que os tax payers não conseguem pagar o actual nível de despesas do orçamento nacional americano, à FRS não restará alternativa que não a de emitir moeda.
A consequência óbvia é a desvalorização do USD e o aumento da inflação que afectará também os cidadãos que nada têm a ver com a raíz do problema - os que têm poupanças que passam a valer menos em termos reais e aqueles que têm níveis de dívida controlados terão maior dificuldade em cumprir as suas responsabilidades porque o custo de vida aumentará mais do que o rendimento... o que levará á necessidade do plano Paulson II !
Parece-vos uma solução justa em termos sociais?
