Intrusos queriam provar vulnerabilidade do sistema
Maior acelerador do mundo sofreu ataque de “hackers” durante experiência
12.09.2008 - 22h12 Romana Borja-Santos
As primeiras partículas estavam a circular no Grande Acelerador de Hadrões, perto de Genebra, onde nasceu a World Wide Web, quando um grupo de “hackers” grego invadiu o sistema com o único objectivo de mostrar a sua fragilidade. Ao que parece, se o regresso ao “Big Bang” foi um sucesso, os piratas informáticos também foram bem sucedidos no seu objectivo: mostrar aos cientistas que estes não passavam de “um bando de miúdos da escola”, segundo noticia o jornal britânico “Daily Telegraph”.
A “Equipa de Segurança Grega”, como se auto-intitularam os intrusos, entrou quarta-feira no sistema informático do LHC (como é conhecido em inglês) simplesmente para deixar a mensagem referida e provar a vulnerabilidade dos técnicos que estavam à frente daquela que foi considerada uma das maiores experiências do mundo. O objectivo foi simplesmente provar que era possível violar o sistema, mas nunca criar problemas, ainda de acordo com o jornal inglês.
“Estamos a baixar-vos as calças por não vos querermos ver a correr nus enquanto se tentam esconder quando o pânico chegar”, lê-se também na mensagem que os “piratas” deixaram no sistema informático do acelerador. E, ao que parece, a intrusão foi mais do que suficiente para alertar os cientistas, que impediram entretanto os cibernautas de aceder ao site
www.cmsmon.cern.ch.
Os cientistas envolvidos no projecto receberam também, ao longo dos dias, várias mensagens electrónicas e telefonemas do público em geral que se mostrou preocupado com os objectivos das experiências e com as potencialidades da máquina – produzir um buraco negro para engolir a terra, terramotos ou tsunamis foram apenas algumas das hipóteses colocadas.
Assustador
Os responsáveis explicaram que o acto só teria sido verdadeiramente perigoso se o grupo tivesse conseguido entrar numa outra rede onde, aí sim, teriam conseguido desligar algumas partes do sistema. Felizmente, apenas um ficheiro foi afectado, mas o incidente foi assustador para a comunidade.
A grande preocupação dos cientistas da organização europeia era de que os “hackers” entrassem em um dos maiores detectores da máquina, que pesa 12.500 toneladas e mede 21 metros de comprimento e 15 de altura. Entretanto, a área atacada pelos invasores foi o "Compact Muon Solenoid Experiment", um dos quatro detectores que analisam o choque das partículas.
O LCH, um projecto faraónico que juntou 6000 cientistas do mundo durante 20 anos, procura simular os primeiros milésimos de segundo do Universo, há cerca de 13,7 mil milhões de anos, e é considerado a experiência científica do século. Desde 1996, o CERN construiu, 100 metros debaixo da terra, perto de Genebra, na Suíça, um anel de 27 quilómetros, arrefecido durante dois anos para atingir 271,3 graus negativos.
À volta deste anel estão instalados quatro grandes detectores, no interior dos quais vão produzir-se colisões de protões numa velocidade próxima da da luz. Em plena força, 600 milhões de colisões por segundo irão gerar uma floração de partículas tal como aconteceu no início do mundo, algumas das quais nunca puderam ser observadas.
PÚBLICO