Análise BPI 2008-08-22 12:00
Bolsas: compras sustentadas ou correcção à queda anterior?
A configuração gráfica dos principais índices bolsistas norte-americanos e europeus tem sido nitidamente bearish, desde os níveis máximos verificados em Outubro/Novembro de 2007. Até ao momento, 2008 é um ano de tomada de proveitos, de reconversão de carteiras e mesmo de fuga das Bolsas.
Agostinho Leal Alves, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
Genericamente, a conjuntura vivida nas economias desenvolvidas está a ser descontada nestes mercados: quebras acentuadas de actividade, iniciada nos EUA e repercutida nos motores económicos europeus, agravadas com a crise do subprime e com o encarecimento das principais commodities. Conjuntamente, generalizou-se a desconfiança e cresceu a aversão ao risco. Deste modo, muitos índices registaram recentemente valores mínimos dos últimos 3 anos, no seguimento da construção de tendências que levaram a quedas acumuladas na ordem dos 30%, índices americanos, 45%, índices europeus, e mais de 70% do PSI 20.
Após os mínimos, o período do Verão foi propício a uma dinâmica compradora, gerando-se um movimento de correcção ao acentuado movimento de queda anterior. Poderá esta evolução ser indicadora, de alguma forma, de alteração de sentimento de mercado ou de início de uma atitude compradora mais sustentada, numa altura de menor liquidez? Parece-nos prematuro, já que nada se alterou em termos de fundamentos económicos e a incerteza e a falta de confiança ainda estão bem presentes nos mercados financeiros. Nos últimos dias, voltou a falar-se de crise financeira, ou melhor, no facto de não ter ainda terminado, bem pelo contrário. O fantasma de falências de bancos norte-americanos surgiu no discurso pessimista relativo à evolução do sistema financeiro e às consequências para a economia mundial proferido pelo antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para Kenneth Rogoff, é previsível que outras instituições financeiras, para além do Bear Stearns, da Freddie Mac e da Fannie Mae, venham a falir. Por outro lado, aguarda-se por uma atitude pragmática por parte da Administração Bush para salvar estas duas últimas entidades, depois do Bear Stearns ter sido sujeito à ajuda sem precedentes por parte da Reserva Federal (Fed), no início da crise. Especula-se sobre o tipo de intervenção a efectuar, quando crescem os receios de poder acontecer o equivalente a um processo de nacionalização das duas empresas, o que levaria à destruição do valor das respectivas acções. Atento a esta possibilidade, o mercado adoptou uma postura vendedora e estas duas instituições acumularam perdas bolsistas de mais de 40%, só na última semana. Outros bancos tentam outras formas sair da actual situação de fragilidade, através da captação de novos capitais vindos sobretudo do exterior, das ricas economias emergentes, ou tentam vender carteiras de activos a preços de saldo.
Acresce ainda que a Goldman Sachs, nas previsões para o terceiro trimestre do ano, reduziu substancialmente os resultados dos cinco maiores bancos de investimento dos EUA: Citigroup, JPMorgan, Lehman Brothers, Merrill Lynch e Morgan Stanley. O cenário é de abrandamento da actividade bancária e de amortização de activos relacionados com o mercado de hipotecas.
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