Estive a ler o artigo de opinião da Alexandra Maximiano onde esta senhora faz uma análise ao consumo de aplicações a prazo simultaneamente com crédito a curto prazo.
Ao ler o artigo achei que podemos extrapolar partes do raciocínio para o mercado de acções. Ficam aqui indícios científicos que somos muito mais racionais quando investimos a longo prazo do que quando investimos a curto prazo.
as decisões de curto prazo envolvem sistemas cerebrais distintos dos usados em decisões de longo prazo. Mais especificamente, as escolhas que envolvem algum "trade-off" de curto prazo usam sistemas analíticos e emocionais, enquanto que decisões que envolvem apenas decisões de longo prazo usam apenas sistemas analíticos.
Para quem quiser ler o texto completo:
http://www.jornaldenegocios.pt/index.ph ... &id=329364
Sandra Maximiano
Mudam-se os "tempos", mudam-se as vontades
"O valor dos depósitos a prazo cresceu 12% no espaço de um ano. Estima-se que em cada 10 clientes, 4 tenham depósitos a prazo". A notícia de há alguns dias não espanta. A época é de crise. Poupar algum, ajuda. E para quem investe, reduzir a exposição ao risco, diminuindo, por exemplo, a participação em fundos de investimento ...
E para quem investe, reduzir a exposição ao risco, diminuindo, por exemplo, a participação em fundos de investimento em prol de aplicações mais seguras coaduna-se com a presente instabilidade e incerteza nos mercados financeiros. Não consigo, no entanto, dissociar esta notícia de uma outra, também ela recente. Nesta, lia-se: "Os Portugueses estão cada vez mais endividados e, apesar da crise, têm recorrido ao crédito ao consumo, liderando já a lista dos países da zona euro com mais dinheiro pedido". Em que ficamos? Poupa-se ou pede-se emprestado?
Sendo nós alguns milhões, com diferentes preferências quanto ao consumo no presente e no futuro, assim como com diferentes restrições orçamentais, é natural que haja quem poupe e quem se endivide. Tudo depende da paciência (e do dinheiro) de cada um. Por exemplo, há quem prefira 6 dias de férias já, a 7 dias de férias daqui a um mês. Consumidores mais impacientes são os mais propensos a recorrer ao crédito por forma a obter uma gratificação imediata. Já os mais pacientes são mais propensos à poupança. Mas muitos são aqueles que simultaneamente poupam e recorrem ao crédito para o consumo. Dado que, em geral, o juro a receber é menor que o juro a pagar, como explicar esta aparente contradição?
Comprar a crédito e poupar em simultâneo poderá resultar de preferências temporais inconsistentes. Quando confrontados com decisões com consequências imediatas, como por exemplo a decisão entre a escolha de 6 dias de férias já, ou 7 dias de férias daqui a um mês, os indivíduos revelam, tipicamente, um elevado grau de impaciência, optando, na sua maioria, pelo prazer imediato de tirar uns dias de férias o quanto antes. Contudo, os indivíduos parecem não apresentar o mesmo nível de impaciência quando no presente tomam decisões para o futuro. Assim, ao ter de decidir hoje entre 6 dias de férias daqui a duas semanas, ou 7 dias em dois meses e meio, há quem agora prefira os 7 dias mais tarde.
A neurociência poderá ajudar a clarificar o porquê desta inconsistência em decisões "intertemporais". Samuel McCluere, George Loewestein, Jonathan D. Cohen e David Laibson mostram, através de imagens cerebrais capturadas por ressonâncias magnéticas, que as decisões de curto prazo envolvem sistemas cerebrais distintos dos usados em decisões de longo prazo. Mais especificamente, as escolhas que envolvem algum "trade-off" de curto prazo usam sistemas analíticos e emocionais, enquanto que decisões que envolvem apenas decisões de longo prazo usam apenas sistemas analíticos. Estes resultados sugerem que os indivíduos escolhem uma gratificação instantânea porque o sistema emocional – sistema límbico – valoriza ganhos imediatos, mas responde fracamente a ganhos futuros.
Andrea Repetto, Jeremy Tobacman e David Liabson mostram que preferências por uma gratificação instantânea podem explicar a coexistência de poupança e do uso de cartões de credito que envolvem taxas de juro elevadas. Em números, estimam que os consumidores descontam o curto prazo a 30% e o longo prazo a 5%. Por outras palavras, adiar o consumo por um ano reduz o valor desse consumo em 30%, mas adiar o mesmo consumo por mais um ano gera apenas uma desvalorização adicional de 5%.
Poupar e pedir emprestado simultaneamente é, assim, menos paradoxal, ao percebemos, em parte graças à neurociência, que os indivíduos são, por natureza, mais analíticos quando decidem sobre o longo prazo e mais emocionais e impulsivos nas decisões de curto prazo. O acréscimo dos depósitos a prazo pode revelar a necessidade de mecanismos de autocontrolo sobre comportamentos consumistas. Ao depositar dinheiro a prazo, os consumidores adicionam um custo extra ao recurso ao crédito. Não só pagam os juros do cartão, como perdem também os juros dos depósitos.
McClure, D. Laibson, G. Loewenstein and J. D. Cohen, "Separate Neural Systems Value Immediate and Delayed Monetary Rewards, "Science 306 (October 15, 2004), pp. 503-7.
D. Laibson, A. Repetto and J. Tobacman, "Estimating Discount Functions with Consumption Choices over the Lifecycle," NBER Working Paper, forthcoming.
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