Há trinta anos as fraldas descartáveis eram um produto de Luxo, hoje são consideradas por muitos um produto de 1ª necessidade.
Naturlink Escreveu:Fraldas de algodão ou fraldas descartáveis, que opção utilizar?
Uma criança usa mais de 6000 fraldas até aos 2 anos. Se forem fraldas descartáveis, isto corresponde a mais de 5 árvores abatidas, para uma utilização por um período inferior a 2 horas, que cria um resíduo com mais de 500 anos de persistência.
Maria Carlos Reis
Apesar do início da produção massiva das fraldas descartáveis datar de 1961, o conceito surgiu muito antes, quando em 1946 foi colocada uma protecção de nylon à volta de uma fralda de algodão. Todavia, esta solução milagrosa para a maioria das mães só viria a singrar nos anos 70 e 80, quando as novas fraldas passaram de produtos ocasionais para produtos de utilização praticamente exclusiva na higiene dos bebés. Nasceu, assim, um dos produtos que revolucionou a vida doméstica, principalmente nos países industrializados, integrado no contexto de simplificação de hábitos e tarefas.
No entanto, nos finais dos anos 80, os produtos de "deitar fora depois de usados" tornaram-se um símbolo da degradação ambiental. As fraldas descartáveis foram dos alvos mais atingidos pelos activistas, que as encararam como o emblema de uma sociedade consumista e como uma das maiores fontes individuais de resíduos acumulados em lixeiras e aterros.
O debate entre defensores de fraldas descartáveis e de algodão tem decorrido desde então, mas aparentemente chegou a um impasse, resultante de conclusões contraditórias extraídas de inúmeros estudos realizados. Apesar deste aparente beco sem saída, os fabricantes, por um lado, e os ambientalistas (agora auxiliados pelas lavandarias de fraldas, que conquistam terreno em muitos países) por outro, não se poupam a esforços para fazerem da sua perspectiva a mais aceite. É que numa sociedade de consumo, controlada pela publicidade, o poder de argumentação revela-se fundamental para o sucesso de qualquer actividade ou iniciativa.
Uma análise que pode auxiliar no esclarecimento desta questão é a "avaliação do ciclo de vida" dos produtos. É uma tentativa de quantificar todos os benefícios e prejuízos por que um produto pode ser responsável ao longo de toda a sua existência, analisando todos os recursos utilizados, a energia consumida e os desperdícios originados, desde a produção dos materiais, passando pela utilização, até à deposição final ou eliminação. Pode-se imaginar que esta não é uma tarefa fácil, tanto no caso das fraldas de algodão, como no das descartáveis, já que se tem de examinar a cultura do algodão e a produção da pasta de papel e do plástico, respectivamente. No primeiro caso, por exemplo, há que contabilizar a produção de fertilizantes químicos e pesticidas, a extracção e transporte da água para irrigação, os fornecimentos de energia para o cultivo e a colheita, o processamento das matérias primas, o fabrico, a manutenção (lavagem), a deposição (em estações de compostagem, aterros, incineradores, etc.), os custos do transporte entre qualquer estágio e a energia requerida para cada um deles. Algumas destas análises revelam não existir qualquer diferença, em termos ambientais, de um produto sobre o outro, pois as fraldas são sempre prejudiciais, embora qualquer um dos sistemas possa ser melhorado.
Mas vamos conhecer alguns dos argumentos e contra-argumentos utilizados nesta questão. Os proponentes das fraldas de tecido trazem para a discussão motivos relacionados com as enormes quantidades de resíduos sólidos produzidos. Se pensarmos que uma criança até aos 30 meses utiliza mais de 6000 fraldas, é fácil perceber a dimensão do problema. Uma vez que estas fraldas apresentam como tempo de decomposição mais de 500 anos em aterros sanitários (pois 30% da sua constituição é plástico), a proporção de fraldas descartáveis só tende a aumentar. Mesmo as fraldas descartáveis biodegradáveis, nas quais é adicionado amido ao plástico para aumentar a sua fragmentação, não são a solução. É que, apesar de reduzido em partículas mais pequenas, a quantidade de plástico e o seu volume continua a ser o mesmo. Para além disso, alguns plásticos que poderiam entrar em processos de reciclagem, deixam de poder sê-lo quando misturados com o açúcar, já que este interfere no processo, deteriorando a qualidade e consistência dos produtos reciclados. Nestes casos, a designação de "biodegradável" não tem qualquer consequência em termos ambientais.
A contaminação por que uma fralda usada pode ser responsável é também citada como potencial problema. Os materiais fecais humanos contêm bactérias e vírus responsáveis por perturbações intestinais e doenças, como a poliomielite. Apesar de actualmente pouco comum, o vírus da poliomielite desprende-se do intestino de qualquer bebé que tenha recebido a vacina contra a doença. A deposição destes materiais pode conduzir à contaminação das reservas de água subterrâneas, assim como atrair insectos vectores de doenças, problema mais preocupante nos países em desenvolvimento.
Todas estas questões referem-se à fase terminal do ciclo de vida do produto, mas a fase de produção é igualmente problemática, já que estamos a falar de produtos fabricados à base de papel e plástico, ou seja, que têm como matéria prima recursos como a celulose (o que implica o abate de árvores) e o petróleo.
É quando se fala no consumo de recursos que os defensores das fraldas descartáveis apontam para o dispêndio de água na lavagem das fraldas reutilizáveis, para além dos detergentes e branqueadores, muitos dos quais contendo substâncias tóxicas como o cloro. Mas aqui os ambientalistas podem contra-argumentar, já que muita água, energia, branqueadores e outras substâncias químicas poluentes são utilizadas na produção da pasta celulósica e do plástico. Para além deste aspecto, as novas máquinas industriais das lavandarias já consomem menores quantidades de água e energia, utilizando, muitas vezes, detergentes biodegradáveis sem fosfatos.
Uma análise de custos pode, ainda, ser importante. Muitos pais têm a possibilidade de comparar as despesas associadas à utilização dos dois tipos de produtos e parece não haver dúvidas de que a reutilização sai bem mais "em conta", mesmo com os custos da lavagem (água e energia) e dos detergentes. No entanto, existe sempre o factor tempo, cada vez mais considerado, e que pode fazer recair a escolha nas fraldas descartáveis.
Mas não nos esqueçamos que um dos aspectos principais é o bem-estar e a segurança da criança. Neste sentido, são também levantadas inúmeras justificações. Por exemplo, muitos dos aditivos utilizados para melhorar as qualidades anti-alérgicas e de suavidade das fraldas descartáveis, são puramente artifícios de marketing. Existem, também, alguns relatórios que indicam que alguns corantes e fragrâncias aplicadas podem originar dores de cabeça, tonturas, irritações e erupções cutâneas, para além de casos, felizmente mais esporádicos, de queimaduras e intoxicações. Registos de bebés que conseguem arrancar fragmentos de plástico das fraldas, colocando-os na boca e nariz, correndo o risco de asfixia e outros de ferimentos provocados pela fricção de plástico na pele, já ocorreram igualmente.
Para além de todos estes problemas graves, as frequentes "dermatites da fralda", devidas à humidade excessiva e prolongada e à falta de arejamento, sofreram um aumento com a crescente utilização das fraldas descartáveis. É que com a utilização de géis ultra absorventes, a segurança de que a criança não se vai sentir molhada, prolonga o tempo de mudança da fralda e, deste modo, o tempo de contacto com a urina, e a capacidade de absorção destes polímeros pode ser prejudicial por retirar a humidade natural da pele. Contudo, parece estar provado que a utilização das fraldas tradicionais em infantários e enfermarias aumenta a proliferação de infecções, já que nestes casos, apesar de lavadas, as fraldas são usadas por mais do que uma criança. É por este motivo que muitas instituições exigem a utilização de fraldas descartáveis, o que se revela um problema para pais que optem por outra alternativa.
Assiste-se, hoje, ao desenvolvimento de soluções mistas, como o de fraldas de algodão cujo interior é revestido por uma película absorvente descartável. Aliás, as actuais fraldas de algodão já nada têm a ver com as tradicionais - são formadas por várias camadas de tecido para aumentar a capacidade de absorção, dispensaram os alfinetes e aderiram aos velcros, abandonaram os formatos inespecíficos e adquiram formas anatómicas e até se especializaram nas diferentes idades dos destinatários.
Depois de tudo isto, parece não existir uma única resposta para a questão inicial: "O que é preferível, fraldas de algodão ou descartáveis?". Existem pais que utilizam ambos os produtos, dependendo da situação, mas parece que o mais lógico será pensar no tipo de problemas ambientais (a falta de água ou a acumulação de resíduos) que cada região enfrenta e fazer a escolha em sua função. O que é evidente é a inexistência de qualquer recomendação a nível governamental no sentido de orientar as atitudes individuais.