Obrigado por partilharem as vossas experiências. Desculpem só responder agora mas tenho andado a tentar "combater o vício".
Em relação ao que o
asgardd e o
artista disseram sobre controlar as emoções, concordo com tudo, aliás, eu vou sempre jogando e parando para ver como as coisas estão a correr (ao nível do entusiasmo) e gostava só de sublinhar que ter uma estratégia pode, em certos casos muito específicos, implicar ter stops muito alargados. Por exemplo, em mercados bear por vezes verificam-se subidas enormes num só dia. É preciso neste caso ter confiança nos nossos shorts e assumirmos o risco para depois recuperarmos dois ou três dias depois. Os stops apertados estão longe de serem a única maneira de lidar com as emoções. Digo isto só porque muitas vezes se enfatizam os stops, mas essa não é a questão principal.
A grande questão para mim é que, quando vou delineando uma estratégia, às vezes durante meses ou semanas, vou desenvolvendo uma
visão alargada, sobre os mercados, a economia, aquela empresa, o método, etc. Mas quando "aposto", por vezes parece que tudo se esvai, e fica só aquela ansiedade: "vou ganhar ou perder", por vezes o "pânico" impera, outras vezes é a "euforia". E é isso, ver só aquele momento desintegrado de tudo o resto, que já me fez perder imenso dinheiro!! Deixar-se controlar pelas emoções é no fundo perder a visão alargada, tanto na bolsa como na vida (por exemplo numa discussão).
Em resposta ao
GOE e ao
Bala, eu acho que ter esse "bichinho" é algo não só saudável mas produtivo. Uma pessoa que se entusiasme por um jogo ou actividade torna-se eficiente, se alguém não tiver o "bichinho" do que quer que seja, mais vale não estar lá, porque dificilmente se tornará bom nessa área.
Agora a diferença que vejo entre um entusiasmo saudável e um vício é esta: o primeiro melhora a nossa vida, a nossa relação com as pessoas e sentimo-nos bem connosco próprios. O vício afasta-nos do que é mais importante. Por exemplo, se uma pessoa nem sequer aprecia o fim de semana, é porque algo da sua vida está a mirrar.
Eu gosto muito dos filmes do Roberto Benigni, há um chamado, Il Mostro, onde o personagem principal, para combater o desejo sexual que sente, começa a pensar na bolsa e em temas económicos. De facto isto é uma das coisas que sinto: quanto mais me sinto ligado à bolsa mais desce o entusiasmo pela envolvência afectiva, pela entusiasmo de partilhar segredos e confidências, serões passados a olhar para as estrelas trocando gestos cheios de significado, enfim, por tudo o que faz uma relação a dois profunda e rica. É como se a adrenalina de ganhar e perder dinheiro tornasse invisível a delicada e subtil beleza das Princesas.
Acho que isto tem uma explicação biológica, porque, tanto nos homens como nas mulheres, o medo é incompatível com o estado de confiança que leva ao dar e receber afectos. Ou seja, ou se tem adrenalina ou serotonina a bombar nas veias, uma anula a outra (excepto em casos raros). E não tem só a ver com ver a beleza das Princesas: jogar na bolsa coloca-nos em "risco" logo ficamos inaptos para apreciar um belo pôr do sol, um dia calmo na praia, uma festa de aniversário, etc.
Se somarmos isto tudo vemos que estes vícios (em qualquer jogo) de facto reduzem em muito a qualidade da vida de uma pessoa. Enquanto que antes um passeio no parque podia ser um objecto de grande prazer, agora só ali, em frente ao computador, é que conseguimos livrar-nos da ânsia que nos invade diariamente.
O segundo aspecto que mostra a distinção que existe entre o bichinho saudável e o vício é que o vício corrompe: rouba-nos a integridade. Um exemplo prático: uma das coisas que mais me custa é ver a devastação das nossas florestas e a substituição dos nossos pinhais e matas variadas por eucaliptais. Olhar para a natureza com uma visão puramente economicista é, quanto a mim, uma receita para o desastre. E no entanto, que acções é que fui comprar? Sonae indústria! Porquê? Porque queria obter um lucro rápido. E isto aconteceu várias vezes ao longo de vários meses.
Da mesma forma estou disposto a investir em empresas petrolíferas, para aproveitar os lucros gigantescos que têm obtido, mesmo sendo a favor do investimento em energias renováveis, acho que até estaria disposto a investir nas grandes empresas de construção militar!!!
Bolas! Se isto não é uma desintegração e uma incoerência interior, então o que é que é? Quer dizer, anda uma pessoa aqui a falar mal da guerra no Iraque e depois investe na Boeing e na Lockheed Martin! E eu sei dos lobbies que se criaram depois da segunda grande guerra eo imapcto que isso teve na política americana! É de loucos. É claro que se pode dizer: mas o meu objectivo é ganhar dinheiro, não é incentivar a guerra ou os lobbies militares. Talvez essa seja a perspectiva acertada, mas, no meu caso, não me sinto bem com a minha consciência. Aconteceu-me o mesmo no tempo dos videojogos, sabia que devia estudar (estava lá o meu futuro) mas no entanto...
Resumindo: acho que há muitas maneiras de estar na bolsa, eu ainda tenho de encontrar a minha, uma que seja íntegra e não me roube o esplendor da vida.