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MensagemEnviado: 29/4/2008 23:48
por GodsDead_JNEG
Por definição as entidades reguladoras, têm por missão "regular", quero eu dizer com isto que têm a obrigação de impor o controlo tido por necessário sobre as várias partes.
Nós cidadãos, temos como garante, não pensando sequer que eles podem falhar, e eles falham!
No nosso país, e porque somos "más linguas", dizemos mal destas entidades: CMVM, Banco de Portugal, Autoridade da Concorrência...
Teremos razão?
Muitas vezes (senão 99% das vezes) não, mas às temos.
Já se aperceberam dos abusos que os Bancos infligem aos clientes? Seria caso para o Banco de Portugal actuar?
Já se aperceberam que em certas cidades aquela grande superficie é que controla os preços? Seria a vez da Autoridade da Concorrência actuar?
...
Os exemplos são inumeros de entidades criadas para proteger os cidadaão das posições leoninas que são inoperantes.
É minha opinião que existem gente competente em cada uma dessas entidades, mas a grande dúvidade que levanto é se estas entidades terão um grau de independencia capaz de impor uma vontade que vise o bem comum.

Tal como nos EUA agora se apercebem dos erros, será que cá alguma vez vão ser assumidos e colmatados?

Cumprimentos

Avaliar e actuar - Artigo de Opinião

MensagemEnviado: 29/4/2008 23:29
por GodsDead_JNEG
Achei bastante interesante este artigo de opinião do Jornal de Negocios, nele é descrito de uma maneira simplificada como chegamos a esta crise do subprime.

Cumprimentos

Teodora Cardoso
Avaliar e actuar
teodora.cardoso@clix.pt
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No seu suplemento de domingo, o “New York Times” (1)publicou uma descrição detalhada1 do papel das agências de rating na crise financeira a que estamos a assistir. Como era inevitável, essa descrição constitui um verdadeiro libelo acusatório de todo o sistema de regulação financeira que, ...
Como era inevitável, essa descrição constitui um verdadeiro libelo acusatório de todo o sistema de regulação financeira que, ao longo de anos, foi paulatinamente criando o ambiente que levaria ao desencadear da crise e ao seu alastramento. Como o autor explica, a magia das agências de rating consistiu em tornar as hipotecas de alto risco norte-americanas em aplicações desejáveis para investidores que ignoravam tudo a respeito desse mercado e da qualidade dos activos em que investiam, conhecendo apenas o respectivo rating, que as regras prudenciais os obrigavam a respeitar.

Como resulta do texto, que inclui a descrição clara do modus faciendi, proporcionado ao autor pela própria Moody’s, as responsabilidades ultrapassam muito as próprias agências, embora seja extraordinário observar a leviandade com que, já em 2007, elas continuavam a aplicar a uma bolha especulativa parâmetros estatísticos válidos para um mercado regulado, em que as famílias adquiriam uma casa para habitar, à medida do seu rendimento, e em que os empréstimos eram mantidos durante 20 ou 30 anos no balanço das instituições que os concediam. Como observa um ex-gestor da Moody’s citado no artigo, era como usar 100 anos de observações meteorológicas na Antárctida para prever o tempo no Hawai.

Isto era tanto mais irresponsável quanto as agências de rating não podiam ignorar que, devido à própria evolução regulamentar, o produto por elas vendido já não era uma simples informação complementar aos investidores, mas se tinha tornado, no caso dos produtos estruturados, numa verdadeira “licença” que permitia a emissão e colocação de dívida junto de entidades (como fundos de investimento, fundos de pensões, ou seguradoras) que são obrigadas a investir em títulos com notações acima de certos mínimos. É claro que só podia esperar-se o desastre quando, neste clima, as notações eram deixadas ao cuidado de estatísticos e matemáticos a quem não se pedia que soubessem fosse o que fosse a respeito dos mercados subjacentes e a quem, face à enorme procura, eram dados prazos mínimos para produzir a sua avaliação.

Mas é precisamente esta constatação que põe gravemente em causa as entidades reguladoras que, ao longo do tempo, não só foram “subcontratando” às agências de rating responsabilidades que lhes competiam como, assistindo à forma como os mercados evoluíam, não acharam necessário intervir, nem na condução da política monetária, nem no modo como as agências actuavam, nem nos óbvios conflitos de interesses criados.

É também daqui que resulta claro o risco dos desequilíbrios mundiais e da assimetria entre os diversos parceiros quanto à sua correcção. A actual crise mostra a irresponsabilidade da tese americana que defendia que o seu défice de transacções correntes não era mais que o reflexo do desejo do resto do mundo em investir nos Estados Unidos. Contudo, revela também a complacência das autoridades financeiras, nomeadamente europeias, em aceitá-la. Face a essas atitudes, os avisos de organismos internacionais, como o FMI ou o Banco de Pagamentos Internacionais, eram inevitavelmente desprezados, enquanto a economia americana se tornava cada vez mais dependente de financiamentos internacionais cuja motivação estava longe de ser tão racional quanto se fazia crer.

De facto, um problema que se tinha tornado claro na economia americana era a sua dependência do consumo privado. Agora percebe-se também que este não assentava no desafogo das famílias, mas apenas no acesso ao crédito fácil, financiado pela poupança externa. A descida vertiginosa das taxas de juro pela Fed pretende obviar aos resultados catastróficos da subida do custo do crédito para as famílias americanas médias. Além disso, na medida em que precipita a queda do dólar, ajuda a exportar a crise. Este não é, porém, o comportamento que permite sustentar uma potência dominante. Não admira, por isso, que, depois de tantas referências à pax romana que se teria instaurado após o colapso da União Soviética, comecemos agora a ver surgir as que recordam a queda do império romano.

Subsistem, contudo, bons motivos de esperança quanto à capacidade dos Estados Unidos para superar mais esta crise. O principal reside no facto de que, mesmo a nível jornalístico, para já não falar no profissional e no académico, é de lá que continuam a vir as análises críticas mais penetrantes em que as soluções terão de assentar.

(1) Roger Lowenstein, “Triple-A Failure”. New York Times Magazine, 27 Abril 2008.