Recessão poderá iniciar-se no segundo trimestre

Crise nos Estados Unidos
Recessão poderá iniciar-se no segundo trimestre
O indicador de risco de recessão na América quase duplicou entre Dezembro de 2007 e finais de Janeiro de 2008. Foi divulgado este fim-de-semana pelo Center for Research on Economic and Financial Cycles, da Universidade da Califórnia, em Riverside, no sul daquele estado americano.
Jorge Nascimento Rodrigues
12:29 | Segunda-feira, 10 de Mar de 2008
Link permanente: x
Ron Sachs/EPA
A Administração Bush tem sido incapaz de resolver os graves problemas da economia norte-americana
O indicador do risco de recessão americana passou de um nível moderado de 27% para um alerta de 40%, com base nos dados oficiais conhecidos até final de Fevereiro. Os maus resultados das vendas de produtos manufacturados e de consumo, em quebra acentuada desde Janeiro deste ano, fizeram disparar o alerta de crise.
Aguardam-se, agora, os resultados do índice de produção industrial nos Estados Unidos relativo a Fevereiro, o que será divulgado na próxima segunda feira, 17 de Março. Caso a produção industrial tenha desacelerado significativamente no mês passado, a economia americana poderá ter chegado a um ponto de viragem e o indicador de probabilidade de crise poderá atingir os 50%.
Caso essa probabilidade de 50% se mantenha ou suba durante dois meses consecutivos, poderá ser sintoma de que a economia americana entrou em recessão, ou seja começou a decrescer em termos absolutos. O que ainda não terá ocorrido nos Estados Unidos, onde os valores de crescimento conhecidos até ao final do 4º trimestre de 2007 são ainda positivos, ainda que medíocres (abaixo de 1%).
Os economistas americanos dividem-se entre os que falam de uma situação de estagflação (ou seja, crescimento estagnado próximo de 0% com inflação em alta, como tem ocorrido) que poderá durar até final deste ano, e os que alertam para uma recessão que se poderá iniciar já no segundo trimestre do ano.
Apesar de nos "media", incorrectamente, se ter vindo a falar com alguma ligeireza de "crise" e "recessão" desde meados do segundo semestre do ano passado, essa situação ainda não terá ocorrido. O que, apesar de parecer uma nuance, tem a sua importância, porque isso significa que o pior ainda está para vir.
Alguma confusão tem sido feita entre recessão económica e "crash" bolsista. Inclusive, neste último caso, o afundamento das bolsas é ainda moderado - um "crash" mais grave está ainda por ocorrer. A revista Fortune referia, no ano, passado que o Dow Jones Industrial Average (DJIA), o índice para a principal bolsa norte-americana, necessitaria de uma "correcção" de 18% - ora a quebra bolsita no DJIA, até hoje, é apenas de 9,2%. Ou seja, ainda vai a metade.
A confirmarem-se os prognósticos de risco elevado de recessão no segundo trimestre deste ano, isso significará um atestado muito claro de incompetência política à actual direcção do Banco Central americano, Federal Reserve Board (FED), a à Administração Bush. O que significará que a escolha pelo presidente do FED, Ben Bernanke, de uma política de injecção monetária massiva e de quebra das taxas de juro (que já estão em valores abaixo da inflação, ou seja o dinheiro está a ser emprestado de borla na América) não resulta. O que, aliás, os japoneses sabem desde os anos 1990, por isso se apelida tal política de "morfina japonesa".
O resultado desta política pseudo-keynesiana tem sido o colapso do dólar face a um cabaz de divisas (entre elas o euro), o disparo dos preços (em dólares) das principais "commodities" mundiais (com destaque para o petróleo) e a exportação da inflação americana sobretudo para a Ásia e países árabes exportadores de crude (que têm as suas moedas indexadas ao dólar). Ver artigo no caderno de Economia do Expresso deste fim de semana ("A principal exportação americana").
Aguarda-se, por isso, a decisão que o FED tomará a 18 de Março. Muitos analistas - a quem já alcunham de 'galinhas keynesianas' - "pedem" mais um novo corte de 0,5 pontos percentuais. Mas várias vozes internas, nomeadamente diversos presidentes das reservas federais de cada estado americano, começaram a opor-se a nova baixa das taxas de juro.
A taxa directora americana está nos 3%, abaixo da europeia (4%) e da inglesa (5,25%). Em termos reais, a taxa de juro americana é negativa, pois a inflação já se cifra nos 4,2%. Ou seja, o cidadão americano está a financiar, pelo menos, em 1,2% cada dólar que os bancos ou os devedores pedem emprestado.
O que é o indicador de risco de recessão?
O indicador de probabilidade de recessão em quase tempo real é mantido pela economista Marcelle Chauvet, responsável pelo Center for Research on Economic and Financial Cycles, permitindo medir com um atraso de um a dois meses a temperatura da economia americana.
O modelo previu a entrada em recessão dos Estados Unidos em 2001, muitos meses antes do National Bureau of Economic Research a decretar oficialmente (ironicamente já ela estava no final).
Recessão poderá iniciar-se no segundo trimestre
O indicador de risco de recessão na América quase duplicou entre Dezembro de 2007 e finais de Janeiro de 2008. Foi divulgado este fim-de-semana pelo Center for Research on Economic and Financial Cycles, da Universidade da Califórnia, em Riverside, no sul daquele estado americano.
Jorge Nascimento Rodrigues
12:29 | Segunda-feira, 10 de Mar de 2008
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Ron Sachs/EPA
A Administração Bush tem sido incapaz de resolver os graves problemas da economia norte-americana
O indicador do risco de recessão americana passou de um nível moderado de 27% para um alerta de 40%, com base nos dados oficiais conhecidos até final de Fevereiro. Os maus resultados das vendas de produtos manufacturados e de consumo, em quebra acentuada desde Janeiro deste ano, fizeram disparar o alerta de crise.
Aguardam-se, agora, os resultados do índice de produção industrial nos Estados Unidos relativo a Fevereiro, o que será divulgado na próxima segunda feira, 17 de Março. Caso a produção industrial tenha desacelerado significativamente no mês passado, a economia americana poderá ter chegado a um ponto de viragem e o indicador de probabilidade de crise poderá atingir os 50%.
Caso essa probabilidade de 50% se mantenha ou suba durante dois meses consecutivos, poderá ser sintoma de que a economia americana entrou em recessão, ou seja começou a decrescer em termos absolutos. O que ainda não terá ocorrido nos Estados Unidos, onde os valores de crescimento conhecidos até ao final do 4º trimestre de 2007 são ainda positivos, ainda que medíocres (abaixo de 1%).
Os economistas americanos dividem-se entre os que falam de uma situação de estagflação (ou seja, crescimento estagnado próximo de 0% com inflação em alta, como tem ocorrido) que poderá durar até final deste ano, e os que alertam para uma recessão que se poderá iniciar já no segundo trimestre do ano.
Apesar de nos "media", incorrectamente, se ter vindo a falar com alguma ligeireza de "crise" e "recessão" desde meados do segundo semestre do ano passado, essa situação ainda não terá ocorrido. O que, apesar de parecer uma nuance, tem a sua importância, porque isso significa que o pior ainda está para vir.
Alguma confusão tem sido feita entre recessão económica e "crash" bolsista. Inclusive, neste último caso, o afundamento das bolsas é ainda moderado - um "crash" mais grave está ainda por ocorrer. A revista Fortune referia, no ano, passado que o Dow Jones Industrial Average (DJIA), o índice para a principal bolsa norte-americana, necessitaria de uma "correcção" de 18% - ora a quebra bolsita no DJIA, até hoje, é apenas de 9,2%. Ou seja, ainda vai a metade.
A confirmarem-se os prognósticos de risco elevado de recessão no segundo trimestre deste ano, isso significará um atestado muito claro de incompetência política à actual direcção do Banco Central americano, Federal Reserve Board (FED), a à Administração Bush. O que significará que a escolha pelo presidente do FED, Ben Bernanke, de uma política de injecção monetária massiva e de quebra das taxas de juro (que já estão em valores abaixo da inflação, ou seja o dinheiro está a ser emprestado de borla na América) não resulta. O que, aliás, os japoneses sabem desde os anos 1990, por isso se apelida tal política de "morfina japonesa".
O resultado desta política pseudo-keynesiana tem sido o colapso do dólar face a um cabaz de divisas (entre elas o euro), o disparo dos preços (em dólares) das principais "commodities" mundiais (com destaque para o petróleo) e a exportação da inflação americana sobretudo para a Ásia e países árabes exportadores de crude (que têm as suas moedas indexadas ao dólar). Ver artigo no caderno de Economia do Expresso deste fim de semana ("A principal exportação americana").
Aguarda-se, por isso, a decisão que o FED tomará a 18 de Março. Muitos analistas - a quem já alcunham de 'galinhas keynesianas' - "pedem" mais um novo corte de 0,5 pontos percentuais. Mas várias vozes internas, nomeadamente diversos presidentes das reservas federais de cada estado americano, começaram a opor-se a nova baixa das taxas de juro.
A taxa directora americana está nos 3%, abaixo da europeia (4%) e da inglesa (5,25%). Em termos reais, a taxa de juro americana é negativa, pois a inflação já se cifra nos 4,2%. Ou seja, o cidadão americano está a financiar, pelo menos, em 1,2% cada dólar que os bancos ou os devedores pedem emprestado.
O que é o indicador de risco de recessão?
O indicador de probabilidade de recessão em quase tempo real é mantido pela economista Marcelle Chauvet, responsável pelo Center for Research on Economic and Financial Cycles, permitindo medir com um atraso de um a dois meses a temperatura da economia americana.
O modelo previu a entrada em recessão dos Estados Unidos em 2001, muitos meses antes do National Bureau of Economic Research a decretar oficialmente (ironicamente já ela estava no final).