petar Escreveu:Bons dias.
A ver se se anima isto um pouco.
Uma pergunta relativa à análise técnica de gráfico e ao pagamento de dividendos (agora que a época começa).
Imaginemos que temos esta nossa acção que está mesmo sobre o suporte e nós a ver pra onde vai a banda..
Agora, hoje estamos em Cum dividend e tudo parece bem. Ela está a reagir bem ao suporte.
Amanha, dia de ex-div, ela é ajustada de -5% (parecem os dividendos da JMT

). Naturalmente ela quebra o suporte.
Qual o impacto nas análises? Devemos fazer a correcção dos dividendos ou não? Haverá um efeito psicológico nos mercados?
Abraços,
P
PS: o mesmo se pode aplicar a stock splits, reverse splits, aumentos de capital...
QUERER AJUSTAR UM DIVIDENDO, SERIA O MESMO QUE QUERER AJUSTAR RESULTADOS DA EMPRESA…
QUEM TEM A IDEIA LOUCA DE AJUSTAR DIVIDENDOS NO GRÁFICO, TEM DE TER A MESMA IDEIA LOUCA DE AJUSTAR OS FREE-CASH-FLOWS GERADOS PELA EMPRESA.
A relação entre dividendos, resultados e o preço da acção, será sempre tida em conta pelo mercado e a todo o tempo. Não necessita de ajustes no preço das acções.
Teoricamente o preço da acção é traduzido pela seguinte expressão:
Preço da Acção=(P/E)resultados
Em que P é o preço da acção e E os resultados por acção.
A teoria em que se baseia este pressuposto, é que o preço da acção é sempre fundamentado pelo valor dos resultados. E é verdade.
A única coisa que acontece é que o preço da acção varia de acordo com as expectativas desses resultados serem afectados e logo o valor da expressão ser alterado.
Isto é fácil de compreender se reduzimos a complexidade (aparente) do mercado de capitais a um simples negocio de “esquina”.
O nosso negócio de esquina ira valer para nós aquilo que ele consegue produzir em termos de resultados que de alguma forma possam influir agora ou no futuro para nós (claro descontando sempre o custo ponderado do capital). Quer isto dizer que cada acção ou quota do meu negocio de esquina será o Net Present Value do FCF da empresa (que já inclui o custo ponderado do capital) deduzido de todas as responsabilidades e acrescido de eventuais créditos fiscais e outros direitos que será então dividido por cada parte representativa do capital (acções ou quotas). Esse será o valor justo de cada acção.
Acontece que o futuro é baseado em estimativas de resultados, e o preço da acção da quota é então baseado nessas estimativas. Como estimativas não são certezas e cada um terá certamente as suas, o valor justo de cada acção varia de acordo com a apreciação que cada um faz desse valor.
Claro que no curto prazo, existem outros factores que influencia o próprio preço da acção, sendo que o próprio movimento da acção é catalizador dessa própria tendência sem que nada de fundamental se tenha alterado. Mas uma coisa é certa, no longo prazo, o preço da acção ira reflectir sempre o seu valor fundamental porque o mercado saberá sempre avaliar correctamente o valor da acção e essa avaliação é tão mais assertiva quanto mais próximo estiver de o acontecimento. Se no espaço longinco o mercado pode dar um desconto maior, quando se aproximar do evento, esse desconto tenderá a zero.
Se o preço de uma acção estiver a 10Euros e todos souberem que a empresa vai distribuir um dividendo por acção de 11Euros, alguém acha que o mercado iria preçar a acção a 10Euros?
Tentando resumir sem complicar mais e indo ao mais simples de tudo:
Os dividendos não devem ser ajustados por três simples razoes:
1- Descontar o dividendo num gráfico de preço, seria o mesmo que alguém decidir criar um deflector ao mesmo para efeitos da inflação. O que é claramente errado.
2- O dividendo configura uma remuneração (conhecida) do accionista que é descontada no seu preço ao longo de todo o tempo em que é conhecido o seu valor.
3- Existem enormes técnicas de extracção de dividendos sem receber o dividendo e isso reflecte-se inequivocamente no gráfico. Por exemplo, muitos accionista optam por vender a acção antes do dividendo e recomprar no dia seguinte na esperança de um ajuste de valor, evitando assim uma tributação de 20%. Ora, logo aqui o próprio mercado ajusta-se ao evento. Aceitar o ajuste de um dividendo, seria o mesmo que aceitar o ajuste da inflação, da alteração da politica fiscal (tributação de rendimentos de capitais –cat. E – e incrementos patrimoniais – cat. G) ou outro qualquer evento que se traduzisse em efectiva alteração do influxo ou exfluxo de dinheiro para o accionistas.
Embora existam alguns quixotescos que considerem que quando for provável que um evento crie benefícios económicos futuros que fluam para o accionista e que possam ser mesurados com fiabilidade (ex-dividendos), estes devem ser descontados (reconhecidos) no preço (gráfico de preço), do mesmo modo acham que quando seja provável um exfluxo que possa ser mesurado com fiabilidade deva ser reconhecido. Ora, isto é completamente non-sense pelo acima exposto e acho que nem mercê discussão.
Os stocksplit e um aumento de capital, pelo contrario, devem ser consideradas no gráfico, pois trata-se de ajustes na emissão de acções (acções em circulação) e não de preço de mercado – esse esta sempre no gráfico e não precisa de ajustes - (embora obviamente no caso de um stock split ou AC, por via do efeito diluição, o preço seja ajustado forçosamente)… Há quem ache ainda, e não erradamente, que os sharebuybacks e similares devem também ser incorporados no gráfico, uma vez que reduz (na sua extinção) as shares outstading.
P.S. Embora exista muita gente e até dados públicos com ajustes a dividendos.
P.P.S. Esta discussão dava pano para mangas… Mas seria inócua face ao seu objectivo