Banca 2008-02-21 00:05
Teixeira Duarte vai ao aumento de capital do BCP
Arrumadas as espingardas, os donos do BCP contam agora o dinheiro disponível para reforçar os capitais do banco. E alguns dos principais accionistas começam a pôr o dinheiro em cima da mesa. A Teixeira Duarte foi o primeiro.
Sílvia de Oliveira e Maria Ana Barroso
A Teixeira Duarte, accionista de referência do BCP com uma participação de quase 7%, vai acompanhar o aumento de capital de 1,3 mil milhões de euros, anunciado anteontem pela nova equipa de gestão do banco. “Confirmamos que é nossa intenção acompanhar o aumento de capital do BCP, ainda que os termos e condições para tal estejam a ser analisados e a aguardar a obtenção de mais elementos sobre a operação que, por enquanto, ainda não estão disponíveis”, disse ao Diário Económico fonte oficial da construtora.
Também Joe Berardo, a Sonangol e Stanley Ho apoiam a decisão tomada pelo novo presidente do BCP, Carlos Santos Ferreira. O investidor português disse estar interessado em acompanhar a operação, mas ainda assim, remeteu uma decisão definitiva para depois, quando for conhecido o preço do aumento de capital. Já em relação à petrolífera angolana e a Stanley Ho, fontes contactadas pelo Diário Económico garantem a inexistência de dúvidas. “Estes dois accionistas do BCP vão acompanhar o aumento de capital e muito provavelmente aproveitar para aumentar a sua participação”, frisou uma fonte. A Sonangol detém, neste momento, quase 5% do BCP, enquanto o empresário macaense controla pelo menos 2,5%.
Outro accionista que irá investir nesta operação é o Banco Privado Português (BPP). Em declarações ao Diário Económico, João Rendeiro, presidente desta instituição, garantiu que irá ao aumento de capital do BCP e que pretende reforçar a sua participação que, actualmente se fixa nos 2,5%. Para quanto não disse: “Não seria bom para o BPP dizer quando e para quanto vamos reforçar”, sublinhou.
Tal como referiu, anteontem, o novo presidente do BCP, Carlos Santos Ferreira, os accionistas com assento no conselho superior da instituição, que representam cerca de 40% do capital, aprovaram por unanimidade a operação. No entanto, frisou o banqueiro, o apoio dado não significa que irão entrar com dinheiro.
Ontem, o Diário Económico contactou os principais accionistas do BCP, que aplaudiram o plano de recapitalização do banco, bem como a estratégia de crescimento futuro. Alguns dizem preferir esperar pelo anúncio das condições do aumento de capital. Foi o caso do Sabadell. Segundo adiantou o porta-voz do banco espanhol, “enquanto não existir informações concretas sobre a operação de aumento de capital, não faremos qualquer comentário”. No entanto, o mesmo responsável diz que o Sabadell “está muito satisfeito com o trabalho apresentado pela equipa de Carlos Santos Ferreira”.
Já em relação à Eureko e ao BPI, os dois maiores accionistas do BCP, não quiseram, para já, fazer qualquer comentário.
Factura das ‘offshores’ sobe para 700 milhões
Os custos provocados com as alegadas irregularidades na utilização de ‘offshores’ por parte do BCP não param de crescer, tendo atingido um valor agregado de perto de 700 milhões de euros. A maior fatia veio dos 300 milhões de euros abatidos à situação líquida do banco, o que será coberto com o aumento de capital. Segue-se a provisão de 200 milhões de euros, feita em exercícios anteriores, mas referentes à mesma situação. Por outro lado, as actividades das ‘offshores’ ligadas a Goes Ferreira, que também acarretaram perdas relativas à desvalorização de acções do BCP, foram cobertas com 80 milhões de euros. Juntou-se a isto os 116 milhões de euros divulgados ontem, depois de ter sido o Fundo de Pensões do BCP a assumir as perdas nas mãos da Comercial Imobiliária. Esta informação só foi divulgada às 23 horas de terça-feira, dia de apresentação dos resultados de 2007, sendo que na conferência de imprensa este fenómeno não foi explicitado.
Com este saldo, poderá estar encerrado o pesado fardo das ligações “perigosas” do BCP com sociedades ‘offshore’ que utilizou para comprar acções próprias. Carlos Santos Ferreira assumiu não estar à espera de mais surpresas do passado. Mesmo as responsabilidades futuras que possam surgir, ligadas a essas alegadas irregularidades, estão já cobertas por provisões.
Manuel Vicente, Presidente da Sonangol
A petrolífera angolana não se pronunciou oficialmente, mas é praticamente certo que aproveitará a operação para reforçar a sua posição. Tem liquidez e vontade, pelo que esta será a oportunidade perfeita, com a compra de direitos.
Josep Oliu Creus, Presidente do Sabadell
Esperar para ver. “Enquanto não existir informação concreta sobre a operação, não faremos qualquer comentário”, disse fonte oficial do banco catalão. O Sabadell afirma, no entanto, estar “muito satisfeito” com o trabalho de Carlos Santos Ferreira.
Maarten Dijkshoorn, Presidente da Eureko
O maior accionista do BCP, como habitualmente, esconde o jogo. Contactada pelo Diário Económico, fonte oficial da Eureko diz que “não tem qualquer comentário a fazer a essa operação”, não esclarecendo se vai ou não acompanhar o aumento de capital.
António Mexia, Presidente da EDP
A EDP considera o aumento de capital do BCP uma boa medida. Sem revelar se a eléctrica vai a este aumento, António Mexia apenas adiantou que a proposta apresentada pelos órgãos do BCP é “ajustada face às ambições de crescimento.
Joe Berardo, Presidente da Metalgest
Berardo está muito endividado, pelo que não se compromete com o acompanhamento do aumento de capital, mas aplaude a medida. “Tudo depende do preço”, disse ao Diário Económico. E acrescentou: “só sabendo o preço posso decidir”.
João Rendeiro, Presidente do BPP
O aumento de capital não preocupa o accionista que considera o desconto relativamente baixo em relação a outras operações. Quanto a um reforço acima dos 5%, João Rendeiro esclareceu que irá aumentar “de acordo com as condições do mercado”.
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