Entre o Previsível e o Provável
Quis com o meu último artigo defender que o mercado segue um rumo aleatório ou que a Análise Técnica tem pouca validade ou margem de manobra?
Nem pouco mais ou menos!... Sería no mínimo estranho para um investidor que recorre quase em exclusivo à Análise Técnica para realizar os seus investimentos, como é o meu caso. Pretendi antes balizar a minha opinião entre duas posições extremadas que vão da defesa da pouca ou nenhuma validade da AT à crença absoluta na mesma como se esta regisse o mercado no seu todo, atribuindo-lhe uma capacidade predictiva aparentemente indiscutível.
Não entendo a análise técnica como um mecanismo de previsão. É certo que é assim que esta é normalmente entendida e classificada. No entanto, creio que o futuro de um título ou do mercado em geral não depende da A.T. mas de factores externos e de acontecimentos imprevisíveis (fundamentais, macro-economia, situação política, expectativas e sentimento do mercado... e até, notícias e rumores). São estes os factores que na minha opinião movem os títulos e o mercado em geral. Mas a questão coloca-se na nossa capacidade para avaliar esses factores, os quais interagem entre eles aumentando a complexidade da análise, e portanto de utilizarmos o nosso conhecimento sobre eles no trading.
A minha perspectiva é a de que a AT permite considerar cenários prováveis e perante esses cenários podermos preparar/planear o trading (em exclusivo) ou juntamente com outras ferramentas, melhora-lo em termos de <i>timing</i>.
Mesmo que acreditemos no Random Walk e na Teoria do Mercado Eficiente e que consideremos a validade dos Fundamentais para a avaliação do real valor dos activos ou para a determinação do que está sobre ou subavaliado, um facto é evidente: os activos mantêm-se por significativos períodos de tempo afastados dessas referências.
A AT funciona assim como um <i>shortcut</i> poupando elaborados trabalhos que não estão sequer ao alcance de todos os investidores, ou porque não têm conhecimentos em economico-financeiros suficientes para avaliar os fundamentais, ou porque não têm acesso a informação «de qualidade» e em tempo útil, ou ainda porque não estão na génese dos rumores mas antes são os seus alvos predilectos.
Ou seja, à falta de ferramentas que lidem com as <b>causas</b> poderemos recorrer à AT avaliando as <b>consequências</b> visíveis nos gráficos:
As realidades económicas e políticas, o sentimento do mercado em geral e a actuação dos diversos intervenientes do mercado reflecte-se obrigatoriamente nas cotações e nos volumes. Afirmar que a Análise Técnica não tem qualquer validade é o mesmo que afirmar que os gráficos da cotação e do volume não contêm qualquer informação útil, o que é no mínimo absurdo.
Sou da opinião ainda que a eficácia da Análise Técnica depende muito da capacidade e sensibilidade do Analista. Em parte é uma arte, sim. Da mesma forma que nem todos têm a mesma aptidão para os mesmos desempenhos, nem todos terão a mesma aptidão para detectar suportes, resistências, linhas de tendência, as próprias tendências, o comportamento do volume, padrões e respectivas validades, etc. Obviamente, não é nada que não se melhore com estudo e treino, pelo que não estou a defender que a Análise Técnica seja só para alguns. Mas que alguns a compreendam melhor ou a consigam utilizar com melhores resultados, parece-me natural e coerente com a generalidade das actividades humanas.
Se a Análise Técnica é iminentemente subjectiva, já que nem todos avaliam o mesmo gráfico da mesma forma, tal deve-se à forma mais ou menos objectiva como cada um avalia o gráfico. Este é o grande problema que torna difícil avaliar da validade e eficácia da Análise Técnica em geral - raramente dois analistas defendem o mesmo perante o mesmo gráfico:

A diferente leitura deriva da forma mais ou menos objectiva com que a mesma foi realizada. Se um analista parte para a análise do gráfico com ideias pré-concebidas com base em factores externos ao gráfico (fundamentais, macro-economia, sentimento do mercado, notícias ou rumores), quanto menos objectiva for a análise, mais <i>biased</i> serão as conclusões da análise. De certo forma considero que a Análise Técnica perfeita é a análise que resulta de uma objectivade absoluta (análise com base única e exclusivamente nos preços e volumes) sem qualquer influência externa de qualquer ordem. Digo de certa forma porque coloco reservas quanto à maior ou menor eficácia dessa mesma análise técnica, porque em última instância a análise técnica não prevê o futuro. A maior ou menor eficácia de uma análise «menos objectiva» deverá depender naturalmente da maior ou menor qualidade da informação que influência a análise.
Por outro lado, a AT tem-se vindo a expandir abrangendo por exemplo a análise do sentimento do mercado, perdendo parte dessa pureza e inocência na análise exclusiva das cotações e preços. Tal deve-se a uma evolução natural dado que um dos grandes fundamentos da Análise Técnica é a defesa da repetição de padrões gráficos que reflectem padrões comportamentais. Os padrões comportamentais têm raízes na psicologia e em particular no caso do mercado na psicologia do investidor. Não sendo o aspecto central de hoje, refiro-me apenas para a naturalidade da evolução da Análise Técnica no sentido de abranger a análise de sentimento do mercado de onde nasceram diversos indicadores.
Em tom de resumo, depende da auto-avaliação do investidor e da avaliação dos dados e ferramentas de que dispõe, a conclusão se deverá recorrer em exclusivo à Análise Técnica ou se deverá conjugar a Análise Técnica com outras ferramentas de que dispõe ou ainda se deve pura e simplesmente ignorar a Análise Técnica.
Naturalmente, os resultados passados e a consistência do trading terão uma palavra a dizer quanto à via a seguir.
Eu já escolhi a minha... E você?