CEO do Grupo Soares da Costa
“Tudo isto seria impossível sem estabilidade accionista”
Ultrapassado “o problema de natureza accionista”, a Soares da Costa focaliza-se na construção e concessões. Nesta área, a ambição passa também por actuar na energia e nos portos.
Rui Neves
ruineves@mediafin.pt
A Soares da Costa viveu no último ano uma autêntica revolução: mudou de controlo accionista, de management e até de sede. Ao completar este mês o seu primeiro ano à frente da comissão executiva do grupo, que balanço faz do trabalho realizado?
Foi de facto um ano cheio de acontecimentos e que superou as nossas melhores expectativas. Não relativamente à performance da empresa, porque sabíamos onde estávamos e o que estamos a fazer, mas em relação à remobilização da dinâmica interna. E esse é um ponto que, há um ano atrás, me causava alguma preocupação ou era para mim uma das prioridades. Porque os anos anteriores da empresa tinham sido particularmente difíceis. Este processo em que estamos hoje é feito fundamentalmente com a mesma equipa que já cá estava. Portanto, uma parte muito significativa do trabalho foi motivar e remobilizar os esforços da equipa. Desse ponto de vista, as coisas têm corrido muito bem.
A última década da Soares da Costa foi mesmo muito turbulenta. Não se falava de dinâmica mas de sobrevivência da empresa. Como classificaria esse passado recente e o quadro de actuação actual?
A Soares da Costa, não vale a pena escondê-lo, tinha um problema de natureza accionista que condicionava muito a sua capacidade de intervenção no mercado. Era sabido há muito tempo que existia uma motivação de venda por parte do accionista que controlava a maioria do capital. A grande mudança que existiu desse ponto de vista foi: a empresa ao invés de ter um accionista que estava de saída, tem um accionista que não só entrou como reforçou a sua posição e fez uma aposta de estabilidade e de longo prazo na empresa. E isso num grupo com estas características faz a diferença toda. Poderá ter havido outros aspectos na gestão do dia, há estilos diferentes, a empresa está hoje mais aberta para o exterior, tem uma maior agressividade comercial e está numa fase de rejuvenescimento com o recrutamento de novos quadros. Agora tudo isto teria sido extraordinariamente difícil, para não dizer praticamente impossível, se não existisse à partida essa situação de estabilidade accionista.
Quais são as grandes linhas do plano estratégico do grupo para os próximos cinco anos?
A grande linha, de um modo claro, é evoluir daquilo que foi tradicionalmente uma sociedade de construções - independentemente da sua estrutura organizativa ter acabado por ter várias áreas de negócio - para um grupo económico. Isso significa que a construção continuará a ser uma actividade forte do grupo, mas ao lado dela, e como criadoras de valor, têm que se afirmar novas áreas de negócio. A prioridade será a área das concessões de infra-estruturas rodoviárias, de transportes, portos e aeroportos.
O reforço na internacionalização e diversificação do grupo será acompanhado por uma focalização na rentabilidade do negócio, certo?
Queremos colocar a fasquia da rentabilidade num rácio de EBITDA sobre o volume de vendas na ordem dos 13%, o que é o dobro do ponto onde estamos hoje. Queremos também colocar a Soares da Costa naquilo a que chamaria segunda liga ibérica das empresas do nosso sector, sendo que a primeira é constituída por grandes grupos económicos com facturações acima dos três mil milhões de euros. Nós queremos colocar-nos na segunda linha onde está um conjunto de seis ou sete grupos acima dos mil milhões de euros.
À semelhança do que acontece com as grandes construtoras internacionais de sucesso, também a Soares da Costa vai apostar no sector das energias renováveis?
A nossa ideia é, nestes primeiros cinco anos, ganhar competências nessa área em que não temos nenhumas para depois podermos dar um salto. Isso fará parte de uma reflexão que não está ainda feita. Queremos seguramente vir a ter uma participação na área das energias. Achamos que é uma área de negócio que vai ter um espaço importante para nós. S. Tomé é mesmo uma primeira experiência neste domínio [ver página anterior].
E na área portuária, querem trilhar o caminho da Mota-Engil?
Não digo que o façamos da mesma forma que a Mota, mas é uma via para a qual seguramente vamos olhar - isto a nível internacional, sobretudo mercados em que esteja ligado também à actividade de investimento. A Mota entrou numa vertente já de operação. O nosso interesse será entrar numa óptica que envolva também o investimento na infra-estrutura. Andamos a olhar para algumas oportunidades. Pode ser Angola...