Mais 2 mil milhões de euros separam o BCP da “linha da vida”
As acções do Banco Comercial Português (BCP) caíram, na sexta-feira, para o valor mais baixo desde Dezembro de 2005, com o mercado a avaliar o banco abaixo dos oito mil milhões de euros, afastando-se assim do limiar dos dez mil milhões de euros que o presidente Paulo Teixeira Pinto apelidou de “linha da vida”.
Pedro Carvalho
pc@mediafin.ptAs acções do Banco Comercial Português (BCP) caíram, na sexta-feira, para o valor mais baixo desde Dezembro de 2005, com o mercado a avaliar o banco abaixo dos oito mil milhões de euros, afastando-se assim do limiar dos dez mil milhões de euros que o presidente Paulo Teixeira Pinto apelidou de "linha da vida".
Quem está à direita dessa linha, ou seja, quem está avaliado pelo mercado em menos de dez mil milhões de euros, "vai desaparecer" e objectivo do BCP ao comprar o BPI é o de ganhar dimensão para transpor essa fronteira.
Depois da euforia dos primeiros dias após o anúncio da oferta pública de aquisição (OPA), em Março, as acções acumularam um ganho de 13% em dois dias, mas desde então não pararam de cair. Desde a OPA, os títulos do maior banco privado nacional já perderam mais de 12% (contra a descida de 3,38% do sector) e os analistas, a justificar esta queda, citam a necessidade do banco ter de rever em alta o valor da contrapartida da OPA sobre o Banco BPI, isto depois de ter encontrado uma forte oposição por parte da administração liderada por Fernando Ulrich.
O BCP propôs-se a pagar 5,70 euros por cada acção não detida do BPI, mas os analistas dizem que a contrapartida – para convencer accionistas como o La Caixa e o Itaú – terá de ir até aos 6,50 euros. A Merrill Lynch é o banco mais agressivo e diz que o preço da OPA poderá ter de chegar mesmo aos 6,70 euros. No entanto, até estes valores poderão ser rejeitados pelos accionistas do BPI. No final de Abril, Ulrich disse aos analistas que, ou o BCP paga um preço "muito, muito" alto na OPA – que terá de ser além do que tudo o que tem sido escrito –, ou o banco vai continuar o seu programa. Já no início deste mês, à margem da cerimónia de comemoração dos 20 anos do BCP_e da abertura da primeira agência, Teixeira Pinto disse que o BCP não irá comprar o BPI "a qualquer preço".
Enquanto os bancos vão trocando palavras e não surge uma revisão da contrapartida, a administração do BPI delineou um Plano de Negócios com metas específicas até ao final da década.
Qualquer dos cenários de revisão do preço da OPA implicaria a necessidade da saída de mais dinheiro do banco e, na bolsa de valores, os investidores também não parecem acreditar na contrapartida actual, já que, mesmo perante o "mini crash" da bolsa, a cotação do BPI_resiste acima dos 5,70 euros. Desde o anúncio da oferta, as acções BPI subiram mais de 20%, num ano em que o banco está a liderar os ganhos do sector com uma subida superior a 48%. Neste período, as acções do BCP perderam 4,72%, enquanto o índice Dow Jones Euro Stoxx Banks cresceu 7,41%.
A queda do BCP, que num espaço de cerca de seis meses tentou comprar o romeno BCR e o BPI, deixa o banco mais vulnerável a uma contra-OPA ou a um ataque vindo do exterior. Na semana passada, o ministro das Finanças deixou claro que a economia portuguesa, e sobretudo a banca, "não está imune" aos movimentos de consolidação no mercado internacional.