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Anotações sobre a barbárie
16/05/2006 14:11
1 - As prisões brasileiras são um escândalo. Se em vez de pessoas fossem crocodilos a viver naquelas condições a gritaria ambientalista seria ensurdecedora, mas como são bandidos...
2 - As rebeliões coordenadas nas prisões e os atentados perpetrados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) contra polícias, agências bancárias e autocarros, que, nesta tarde de segunda-feira, em que vos escrevo, já fizeram 72 vítimas fatais desde sexta-feira, não têm nada a ver com as condições escandalosamente degradantes em que vivem os presos no Brasil. O que motivou as acções do PCC foi a transferência, pelas autoridades penitenciárias, de alguns dos líderes dessa organização criminosa, precisamente para tentar impedir que, de dentro da cadeia, continuassem a dar ordens. Em vão, aparentemente.
3 - A recusa do Governo do Estado de São Paulo em aceitar a ajuda oferecida pela Polícia Federal para controlar a situação é irresponsável - até porque o PCC tem ramificações em pelo menos seis outros estados brasileiros, nalguns deles já há motins de «solidariedade», e o problema paulista pode-se tornar nacional de um momento para o outro. A intervenção da Polícia Federal não seria apenas para tentar resolver um problema em São Paulo, mas também para prevenir a sua propagação Brasil a fora.
4 - O presidente Luís Ignácio Lula da Silva (que o nosso primeiro-ministro toma como um exemplo de boa governação) mostrou mais uma vez que não há limites para o uso demagógico do que quer que seja - sequer das tragédias. Em Viena, onde participou na Cimeira da União Europeia, América Latina e Caribe, perguntado sobre os atentados de São Paulo, teceu considerações tão óbvias quanto inoportunas sobre as virtudes da educação como agente de prevenção da violência, e aproveitou para lançar farpas contra o ex-governador, Geraldo Alkmin (que se demitiu do governo de São Paulo para se lançar candidato da oposição nas próximas presidenciais), deixando insinuado que o «choquede gestão» (como Alkmin chama a estratégia que usou para sanear as finanças de São Paulo) fosse responsável por cortes de investimentos em educação e, portanto, causador da barbárie de São Paulo. Em alternativa, Lula propõe algo tão irresistivelmente lindo e vago quanto um «choque de inclusão» (só não disse onde pretende incluir os senhores que, neste momento, praticam tiro ao alvo contra polícias). Um despudor!
5 - O PCC é o maior aliado do coronel da Polícia Militar de São Paulo, Ubiratan Aguiar - comandante do massacre de 111 internos do presídio de Carandirú, em 1992. Um explica, justifica, fortalece ou dá pretexto ao outro.
6 - Foi o PCC que, nas rebeliões de 2001, rompeu o sagrado tabu que proibia rebeliões em dia de visita e, agora, pelo que se sabe, alguns dos participantes dos atentados contra polícias foram presos autorizados a visitar as famílias no fim de semana do dia das mães (que, no Brasil, se comemorou no passado domingo). Aproveitando-se de cada abertura que se lhes dá, o PCC tornou-se o maior inimigo dos direitos dos presos no Brasil.
7 - Pode alguém imaginar o que será a vida numa prisão controlada pelo PCC?
PS: E eu aqui, preocupado com os carros em cima dos passeios...
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Anotações sobre a barbárie
16/05/2006 14:11
1 - As prisões brasileiras são um escândalo. Se em vez de pessoas fossem crocodilos a viver naquelas condições a gritaria ambientalista seria ensurdecedora, mas como são bandidos...
2 - As rebeliões coordenadas nas prisões e os atentados perpetrados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) contra polícias, agências bancárias e autocarros, que, nesta tarde de segunda-feira, em que vos escrevo, já fizeram 72 vítimas fatais desde sexta-feira, não têm nada a ver com as condições escandalosamente degradantes em que vivem os presos no Brasil. O que motivou as acções do PCC foi a transferência, pelas autoridades penitenciárias, de alguns dos líderes dessa organização criminosa, precisamente para tentar impedir que, de dentro da cadeia, continuassem a dar ordens. Em vão, aparentemente.
3 - A recusa do Governo do Estado de São Paulo em aceitar a ajuda oferecida pela Polícia Federal para controlar a situação é irresponsável - até porque o PCC tem ramificações em pelo menos seis outros estados brasileiros, nalguns deles já há motins de «solidariedade», e o problema paulista pode-se tornar nacional de um momento para o outro. A intervenção da Polícia Federal não seria apenas para tentar resolver um problema em São Paulo, mas também para prevenir a sua propagação Brasil a fora.
4 - O presidente Luís Ignácio Lula da Silva (que o nosso primeiro-ministro toma como um exemplo de boa governação) mostrou mais uma vez que não há limites para o uso demagógico do que quer que seja - sequer das tragédias. Em Viena, onde participou na Cimeira da União Europeia, América Latina e Caribe, perguntado sobre os atentados de São Paulo, teceu considerações tão óbvias quanto inoportunas sobre as virtudes da educação como agente de prevenção da violência, e aproveitou para lançar farpas contra o ex-governador, Geraldo Alkmin (que se demitiu do governo de São Paulo para se lançar candidato da oposição nas próximas presidenciais), deixando insinuado que o «choquede gestão» (como Alkmin chama a estratégia que usou para sanear as finanças de São Paulo) fosse responsável por cortes de investimentos em educação e, portanto, causador da barbárie de São Paulo. Em alternativa, Lula propõe algo tão irresistivelmente lindo e vago quanto um «choque de inclusão» (só não disse onde pretende incluir os senhores que, neste momento, praticam tiro ao alvo contra polícias). Um despudor!
5 - O PCC é o maior aliado do coronel da Polícia Militar de São Paulo, Ubiratan Aguiar - comandante do massacre de 111 internos do presídio de Carandirú, em 1992. Um explica, justifica, fortalece ou dá pretexto ao outro.
6 - Foi o PCC que, nas rebeliões de 2001, rompeu o sagrado tabu que proibia rebeliões em dia de visita e, agora, pelo que se sabe, alguns dos participantes dos atentados contra polícias foram presos autorizados a visitar as famílias no fim de semana do dia das mães (que, no Brasil, se comemorou no passado domingo). Aproveitando-se de cada abertura que se lhes dá, o PCC tornou-se o maior inimigo dos direitos dos presos no Brasil.
7 - Pode alguém imaginar o que será a vida numa prisão controlada pelo PCC?
PS: E eu aqui, preocupado com os carros em cima dos passeios...
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