"A onça ouro poderia alcançar US$ 1.000"Para especialista, os preços das matérias-primas devem continuar a
aumentar por muito tempo ainda, em função da não-renovação das fontes
e do crescimento da demanda
Cécile Prudhomme
Jim Rogers, 63, criou o fundo especulativo Quantum junto com George
Soros em 1973, e, após ter feito fortuna, aposentou-se aos 37 anos.
Vinte anos mais tarde - durante os quais ele deu duas voltas ao mundo,
de moto e de carro -, ele retornou aos mercados financeiros, criando
no quadro da sua sociedade, a Beeland, um fundo especializado nas
matérias-primas.
Uma estrela nos Estados Unidos, Rogers foi um dos primeiros, no final
dos anos 90, a prever uma extensa fase de aumentos das cotações das
matérias-primas.
Em entrevista a "Le Monde", ele faz um balanço da atual situação da
economia mundial e analisa os desdobramentos da explosão dos preços
das matérias-primas, e principalmente a do petróleo.
Le Monde - Considerando a disparada das cotações das matérias-primas,
o senhor permanece tão otimista quanto antes neste ponto?
Jim Rogers - Eu não mudei minha opinião. As matérias-primas bateram
recordes históricos, mas os recordes são feitos para ser superados.
Essa tendência à elevação das cotações vai prosseguir. A onça ouro
poderia alcançar US$ 1.000 (R$ 2.057,90) - 1 onça equivale a 28,35g de
ouro; na quinta-feira, 4 de maio, ela valia US$ 673,50 (R$ 1.386).
No passado, a mais breve das fases de aumentos das cotações das
matérias-primas durou quinze anos, e a mais longa 23 anos. Se a
história for mesmo um bom fator de referência, a tendência à alta do
mercado pode se prolongar até 2014 ou 2022.
Fundamentalmente, o que me leva a pensar que o ciclo de aumentos vai
prosseguir continua sendo a mesma teoria do desequilíbrio entre a
oferta e a demanda. Do lado da oferta, não existe nenhuma nova fonte
de abastecimento. As reservas de petróleo estão em declínio, enquanto as minas de cobre
vão se esgotando. Apenas uma única mina de chumbo foi aberta em 25
anos. Ninguém investiu nas capacidades de produção no último quarto de
século e é por isso que a oferta vem diminuindo. E, diante disso, a
demanda continua a aumentar.
É simples.
Le Monde - Será que a elevação das taxas de juros pelo mundo afora, e
mais especificamente no Japão, não apresenta o risco de desencadear um
krach nos mercados das matérias-primas?
Jim Rogers - Todo dia, US$ 6 trilhões (R$ 12,35 trilhões) são
movimentados no mercado do petróleo. Os fundos especulativos (hedge
funds), dos quais alguns dizem que eles tornam esses mercados
arriscados, não podem influenciar essas movimentações, nem
manipulá-las. Uma vez que para isso, eles precisariam de US$ 3
trilhões, enquanto a indústria dos fundos especulativos, como um todo,
pesa apenas US$ 1 trilhão. Então, US$ 3 trilhões, ninguém os tem.
Os hedge funds, que emprestam dinheiro do Japão, onde as taxas são
muito baixas, investem-no em seguida, na sua maioria, nas obrigações
dos países ocidentais, e muito pouco nos mercados de matérias-primas.
Na verdade, haverá certamente uma correção sobre as matérias-primas,
assim como costuma ocorrer em todas as grandes fases de aumentos dos
mercados financeiros, mas isso não deterá a tendência.
Àqueles que acham os preços nos mercados do petróleo, do cobre, muito
altos demais, e que temem uma reviravolta no mercado das
matérias-primas, direi oseguinte: "Se vocês acham mesmo isso, por que
falar a respeito à imprensa? Vendam logo tudo".
Le Monde - Um dos argumentos que o levava também a pensar que as
cotações iriam progredir era o desenvolvimento de departamentos
dedicados às matérias-primas dentro dos grandes bancos internacionais.
Hoje, eles parecem estar bem equipados. Não seria isso um sinal de que
o fim dos aumentos está próximo?
Jim Rogers - Você acha mesmo que tanta gente acompanha assim este
mercado? Tome, por exemplo, o "Wall Street Journal": ele dedica a este
mercado apenas 8 parágrafos, contra várias páginas para as ações e as
obrigações. O mesmo acontece com o "Financial Times". Existem mais de
70.000 fundos investidos em ações e em obrigações, contra menos de
10.000 para as matérias-primas. Esta categoria de investimentos vai
continuar a se desenvolver e reforçar a tendência de alta do mercado.
Le Monde - Quais serão os sinais que mostrarão que o ciclo de aumentos
das cotações chegou ao seu fim?
Jim Rogers - Um dia, o mundo produzirá mais petróleo do que ele
consumirá; extrairá mais cobre do que realmente precisará; haverá uma
grande quantidade de fundos de investimentos voltados para as
matérias-primas. Um dia, isso deverá ocorrer, mas esse processo levará
tempo. Em 2019, talvez. Então, nós avaliaremos isso de forma mais precisa.
in
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... u1960.jhtm