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Acordo entre Abertis e Brisa não impede lançamento de OPA

MensagemEnviado: 3/4/2006 7:55
por luiz22
Auto-Estradas > 2006-04-03 06:30

Acordo entre Abertis e Brisa não impede lançamento de OPA

Alexandra Noronha



Maior concessionária espanhola configura-se cada vez mais como potencial interessada na empresa liderada por Vasco de Mello.

O acordo estratégico existente entre a Brisa e a Abertis não constitui nenhum impedimento ao lançamento de uma OPA sobre a concessionária de Vasco de Mello pela rival espanhola, segundo conseguiu apurar o Diário Económico. Este acordo foi estabelecido para explorar a interoperabilidade nas portagens e novas oportunidades de negócio, principalmente na Península Ibérica.
Recorde-se que as duas concessionárias firmaram a parceria por causa da filial asturiana da concessionária ENA, cuja privatização se desenrolou em 2002. A Brisa e a Abertis acabaram por desistir do concurso, discordando de alguns dos parâmetros estabelecidos, nomeadamente o preço base de 1,1 mil milhões de euros. O concurso acabaria ser ganho pelo consórcio da Sacyr Vallehermoso.
Depois disso, a Brisa tem optado por desinvestir da Abertis, onde já teve uma posição de 5,77%, mas que agora se reduz a 1%. Apesar disso, a concessionária de Vasco de Mello continua a afirmar que a parceria se mantém, ainda que nunca tenha dado grandes frutos.
Por sua vez, a concessionária espanhola já demonstrou várias vezes o seu interesse pelo negócio da Brisa, referindo que não pretendia alienar os 10,08% que detém no capital da maior concessionária portuguesa.

Compra da Brisa teria que ser pouco alavancada
Uma possível OPA sobre a Brisa seria diferente em vários aspectos das outras operações do género que têm animado o mercado nacional. Uma das razões mais importantes prende-se com o nível de endividamento da empresa, que, ainda que esteja dentro dos limites impostos pelo contrato de concessão que a Brisa tem com o Estado, tem um nível bastante elevado, de mais de dois mil milhões de euros.
Segundo analistas contactados pelo Diário Económico, para comprar a Brisa é necessário uma empresa que tenha ‘cash-flow’ disponível e que recorra ao menor endividamento possível para financiar a operação. A Abertis consegue reunir todas essas condições.
Por outro lado, uma oferta espanhola é reforçada pelas alterações que se adivinham na lei do país vizinho, que vai deixar de oferecer condições tão vantajosas às aquisições no estrangeiro. Estas mudanças podem precipitar uma oferta num futuro próximo.
Outra questão, também abordada pelos analistas, é a possibilidade da OPA não ser hostil, ou seja, de um acordo entre uma empresa oferente e o grupo Mello, que controla mais de 30% do capital da concessionária. Por outro lado, esta posição pode ser um obstáculo a uma possível OPA hostil, em conjunto com o BCP, tradicional aliado do grupo e que em conjunto controlariam mais de 40% do capital da maior concessionária de auto-estradas nacional.

Abertis vs Brisa

- A Abertis é um colosso mundial das concessões rodoviárias, estando presente em 16 países e em vários tipos de negócios.

- A Brisa gere mais de mil quilómetros de estradas em Portugal e está agora a iniciar uma estratégia de internacionalização, mais desenvolvida no Brasil, ainda que esteja agora a apostar no Leste.

- A Abertis obteve resultados operacionais de mais de 1,5 mil milhões de euros em 2004.

- Em 2005, a Brisa registou resultados operacionais de 577 milhões de euros e lucros de 297 milhões de euros, devido, principalmente, ao encaixe da venda da posição na Abertis e à desvalorização da Oni.


OS POSSIVEIS INTERESSADOS NO LANÇAMENTO DE UMA OPA SOBRE A BRISA

1 - Cintra já gere duas Scuts em Portugal
A Cintra, uma das maiores concessionárias de auto-estradas em Espanha, está também entre os potenciais interessados nos activos da Brisa. A concessionária, participada da construtora Ferrovial, conhece bem o mercado nacional das auto-estradas, onde está presente através da Euroscut, que gere duas estradas, uma no Norte e outra no Algarve. A Cintra gere ainda 21 estradas, com uma extensão total de dois mil quilómetros em Espanha, na Irlanda, no Canadá, nos EUA e no Chile, sendo uma das tradicionais concorrentes das empresas portuguesas nos concursos internacionais. A empresa apostou ainda no negócio dos parques de estacionamento, que tem em Espanha, Andorra e Porto Rico.


2 - Mota-Engil pode encontrar problemas de concorrência
Os activos da Brisa poderiam ser atraentes para o concorrente mais directo da concessionária de Vasco de Mello, a Mota-Engil, principal accionista do grupo Aenor, a segunda maior concessionária de auto-estradas nacional. Mas a questão dificilmente teria um parecer positivo da Autoridade da Concorrência, visto que constituiria quase um monopólio nas auto-estradas nacionais, de mais de 1500 quilómetros concessionados à mesma empresa. A questão do chumbo da compra de 40% das Auto-Estradas do Atlântico pela Brisa mostrou que a entidade regulada por Abel Mateus está atenta. Mas António Mota também já demonstrou que é bastante persistente nos seus objectivos, ainda que, para já , não tenha referido a compra da Brisa como um deles.


3 - Sacyr nega interesse na compra da Brisa
A construtora espanhola Sacyr Vallehermoso foi apontada como uma das potenciais candidatas ao lançamento de uma OPA sobre a Brisa, rumor que a empresa negou de imediato.
A Sacyr tem uma enorme variedade de interesses e um dos maiores concentra-se exactamente na área das concessões rodoviárias, através da participada Itinere que gere quase três mil quilómetros de auto-estradas em todo o mundo, entre Espanha, Chile, Brasil e Portugal, onde está presente via Somague nas Auto-Estradas do Atlântico por exemplo. Uma das razões que poderia travar a compra da Brisa pela Sacyr é o alto endividamento da empresa espanhola, que, conjugado com o da Brisa, criaria uma situação insustentável.