Obrigado Ulisses, o artigo é impressionante!
Resina, tal como o Alex Tomás bem disse, o maior sinal do epílogo de um "Bull Market" é quando todo o país inteiro começa a discutir os mercados. No final deste post transcreverei um artigo, onde se podem ver os sinais do final de um "Bull Market" em termos do sentimento dos investidores.
No entanto, é muito difícil fazer uma avaliação objectiva destes sentimentos e se um investidor tem razão antes do tempo pode perder muito dinheiro pois o final de qualquer "Bull Market" são as fases mais explosivas dele.
Não vale a pena tentarmos apanhar exactamente o topo de um "Bull Market". Os sinais técnicos só aparecem algum tempo depois quando importantes suportes são quebrados. Se à mais pequena correcção estamos logo a achar que é o final do "Bull Market" enganamo-nos imensas vezes e apanhamos toda a força do mercado contra nós. Ou seja, temos que estar preparados para sofrer perdas "interessantes" no final de qualquer "Bull Market", pois só depois das correcções assumirem proporpções que consideramos consideráveis e irreversíveis podemos tirar conclusões sobre o final do "Bull Market".
Mas, obviamente, como em qualquer "Bull Market" todas as semanas aparecem dezenas de "adivinhos" a prognosticarem o final do "Bull Market", um dia algum deles acerta. Mas, acredita, não deve ser essa a ambição de qualquer investidor...
E aqui fica a transcrição de um artigo escrito no ano passado e onde podes observar características típicas do final dos "Bull Markets":
"Fez ontem 5 anos que o Nasdaq realizou o seu máximo histórico, culminando uma gigantesca “bolha tecnológica” que deu lugar a um dos mais violentos “Bear Markets” de que há memória. Recordar todo o ambiente que se vivia na altura, parece-me um excelente exercício didáctico pois acredito que virá a ser um óptimo exemplo para se poderem identificar futuros topos do mercado.
Acompanho os mercados há 13 anos e o ano de 2000 foi, sem dúvida, o mais intenso que vivi em Bolsa. Os dias passavam a correr, tal a adrenalina existente no ar e a volatilidade existente no mercado, num ritmo frenético. As noites passavam devagar, tal a ansiedade que o dia seguinte chegasse para viver intensamente aqueles tempos absolutamente loucos.
O Nasdaq – o principal índice tecnológico norte-americano – foi o maior símbolo daquele “Bull Market”, pois os investidores corriam, sofregamente, atrás das acções ligadas ao sector tecnológico. Para terem noção da força daquele “Bull Market”, recordo-vos que entre Outubro de 1998 e Março de 2000, o Nasdaq ganhou mais de 350%. E o ritmo acelerou nos últimos 6 meses onde o Nasdaq duplicou de valor! São números impressionantes para um índice e que mostram bem a loucura que se viveu naquela altura, com centenas de acções a ganharem mais de 1000% em escassos meses.
Esta euforia contagiou quase todas as Bolsas mundiais que viveram um período dourado, para gáudio de muitos intervenientes no mercado: Os investidores porque viam as suas acções subirem, as corretoras porque o volume de negócios disparou beneficiando os seus lucros, os empresários porque puderam colocar novas empresas no mercado a óptimos preços e a Comunicação Social porque as notícias sobre Bolsa eram avidamente procuradas pelos investidores.
Os fóruns de Bolsa na Internet estavam ao rubro, com milhares de utilizadores a trocarem opinião sobre o mercado. Se juntarmos a euforia bolsista à explosão da Internet em Portugal, encontramos a receita mágica que fez, nessa altura, dos fóruns de Bolsa da Internet locais de enorme frenesim. As salas de mercado estavam apinhadas de investidores que queriam ter à sua disposição todos os instrumentos de informação, criando ambientes muito especiais nestes locais.
Os noticiários abriam com notícias de máximos históricos nos mercados e a Bolsa era notícia de primeiras páginas nos jornais. Como sempre, a Imprensa dava destaque àquilo que vendia. E, nessa altura, a Bolsa vendia muito porque todos queriam saber notícias do mercado.
As casas de investimento divulgavam “Price targets” elevadíssimos, muito acima da cotação das acções nessa altura. Em Portugal, ficaram famosos os dois”Price targets” lançados por conceituadas casas de investimento nacionais em relação à PTM e que eram superior a 200 euros.
Parecia fácil ganhar dinheiro em Bolsa. Bastava comprar acções tecnológicas (se tivessem a sigla “.com” parecia que tinham selo de garantia de subida) e esperar que elas disparassem. Era difícil perder dinheiro para quem investia no mercado accionista e todos pareciam autênticos “gurus” dado o acerto das suas análises. A Bolsa era conversa em todo o lado, mesmo entre pessoas que nunca na vida tinham falado sobre o assunto.
Estávamos no final de Fevereiro de 2000. Almoçava com a minha família em casa, acompanhado da minha empregada doméstica e estava a comentar uma notícia que estava a dar na televisão com previsões dos analistas sobre futuras subidas da PT. Eu estava a referir que era um pouco arriscado comprar PT porque estava “esticada”, quando a empregada lá de casa resolveu dar a sua opinião. Trabalhava lá em casa há muitos anos, não sabia ler nem escrever e jamais lhe tinha ouvido uma qualquer palavra sobre a Bolsa.
“A PT está boa é para comprar. Pode dobrar o seu valor em pouco tempo”, disse ela. Ficámos todos incrédulos com o facto de estar a discutir Bolsa connosco e a conversa seguiu animada. Hoje, sei que tive ali um enorme sinal do que estava para acontecer, mas na altura não tive a frieza necessária para perceber que estava perante um forte indício de que estávamos perto de um topo e do final daquela euforia.
Recordo-me como, naquela altura, eram vistos os comentários negativos sobre o mercado: Quem os fazia era tratado como se fosse um louco e chamado de impostor. A esmagadora maioria das pessoas acreditava que as Bolsas ainda iam subir muito e as casas de investimento, analistas e Comunicação Social ajudavam a reforçar essas expectativas.
Para os mercados subirem é preciso que a pressão compradora seja forte, mas se quase todos estavam optimistas já estariam investidos, ou seja, quem restava para comprar e empurrar o mercado para cima? Quase ninguém. E, por isso, a partir daí os mercados começaram a ruir como um baralho de cartas e assistimos a quedas muito violentas durante 2 anos que transformaram esse período num dos mais violentos “Bear Markets” de que há memória, com milhares de acções a caírem mais de 90%, perante o desespero de milhões de investidores espalhados por todo o mundo que viram muitos dos seus sonhos ruírem.
Dada a intensidade de tudo o que aconteceu, ficamos com a sensação que nunca mais vamos assistir a algo daquela dimensão, mas a História dos mercados mostra-nos que até os momentos extremos se repetem, ciclicamente. Não tenho dúvidas que, alguma vez na minha vida, voltarei a assistir a algo semelhante. Só espero que, nessa altura, preste mais atenção às palavras da empregada..."
Um abraço,
Ulisses