Caldeirão da Bolsa

A Bial e o padre António Vieira

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Mrs Bird » 7/3/2006 13:34

Convém igualmente dizer que a BIAL, através da sua fundação, tenta estimular a investigação na área da Medicina.

A edição 2006 do Prémio Bial distinguirá, uma vez mais, duas obras nas seguintes modalidades: “Grande Prémio Bial de Medicina” - destinado a galardoar obras nacionais ou internacionais, de índole médica, com tema livre que representem uma investigação de grande repercussão ou que se distingam pela sua qualidade e relevância científica (150 mil euros) – e “Prémio Bial de Medicina Clínica”, que visa distinguir um tema livre de elevada qualidade dirigido à prática de Clínica Geral (50 mil euros). O galardão da Fundação Bial premiará ainda algumas obras com Menção Honrosa (5 mil euros, cada). As obras a concurso terão de ser entregues até 31 de Outubro de 2006.
Fonte: www.bial.pt


Quanto ao professor Vasconcellos e Sá, é com saudade que recordo as suas aulas - que nunca causavam tédio - e apraz-me verificar que se mantém um observador atento da realidade económica deste país, apostando em exemplos de sucesso como forma eficiente de fazer a pedagogia do desenvolvimento.

Que pena não haver um canal de televisão que queira dar-lhe algum tempo de antena...
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A Bial e o padre António Vieira

por marafado » 7/3/2006 12:11

A Bial e o padre António Vieira

Jorge A. Vasconcellos e Sá



Numa indústria dominada por multinacionais, a Bial ocupa o 9º lugar no ‘ranking’ nacional, com vendas de quase 100 milhões de euros e 25% de exportações.

Numa altura em que muito se fala de inovação, a Bial pratica-a.

Contrariando os argumentos tradicionais: de que o mercado é pequeno (como se o nosso mercado interno não fosse a Europa e o externo cada vez mais acessível com a globalização); e de que não há tradição em Portugal (como se se devesse conduzir um automóvel olhando pelo espelho retrovisor).

O sucesso da inovação na Bial é demonstrado pelos resultados. O primeiro medicamento inovador (um anti-epilético) deverá ser comercializado em 2008; segue-se um outro para a doença de Parkinson em 2010; e no pipeline existem outras quatro inovações, a primeira das quais é um anti-hipertensor.

Este sucesso assenta em causas, umas específicas ao departamento de R&D e outras gerais à empresa. As primeiras são quatro. Investimento: 229 milhões de euros entre 2000 e 2009, dos quais 4/5 com fundos próprios, representando em 2005 mais de 20% da facturação. Foco: foram definidas duas únicas áreas de investigação, nomeadamente o sistema nervoso central e a cardiovascular (posteriormente alargada a uma 3ª, a alergologia, aquando da aquisição da filial espanhola). Perseverança: sete mil moléculas foram trabalhadas desde que o departamento de R&D foi criado em 1993, sendo certo que uma inovação farmacêutica demora cerca de 10/13 anos até ser comercializada. E finalmente qualidade: há 79 pessoas na investigação, de 7 nacionalidades diferentes (húngaros, escoceses, russos, etc.), dos quais 17 doutorados.

Depois, este esforço de R&D foi possível devido a causas gerais à empresa que culminaram na sua rentabilidade. Numa indústria dominada por multinacionais, a Bial ocupa o 9º lugar no ‘ranking’ nacional, com vendas de quase 100 milhões de euros e 25% de exportações para todo o mundo.

O sucesso económico alicerçou-se na 1) aposta nas licenças; 2) automação quase total da produção e total do armazém; 3) qualificação dos recursos humanos (quase 50% têm pelo menos o bacharelato); 4) avaliação e incentivos ligados ao desempenho transversalmente aos vários departamentos da empresa; 5) a certificação da qualidade e ambiental; etc.

O facto de não ser (felizmente) caso único na indústria portuguesa, não torna a Bial menos exemplar. Até pelo longo caminho percorrido. O ‘hall’ de entrada mostra uma fotografia de 40 operários a embalar à mão o 1º produto da Bial: um xarope para a tosse. A que se seguiram uns sais de fruto. E assim sucessivamente.

Por tudo isto seria útil, na Bial e em outras empresas portuguesas, organizar visitas de estudo de estudantes. Para que vissem exemplos concretos: de qualidade, não preço. De inovação, não imitação. O que valeria por muitas lições universitárias, já que como dizia Padre António Vieira, as pessoas aprendem mais pelo exemplo do que pelos discursos, mais com os olhos do que com os ouvidos.
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Jorge A. Vasconcellos e Sá, Professor da Universidade Técnica de Lisboa e PhD pela Columbia University
 
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