Elias, os meus "achos" estavam condicionados à mutação da doença para algo de transmissivel como as gripes normais. Algo que aparentemente não é tão impossível quanto isso. São hipoteses aterradoras mas que para já são hipotéticas.
Pata-Hari Escreveu:Da minha parte e tal como o xanax, acho que será dramático. Com um virus com uma taxa de mortalidade de 50% (se se mantiver) e contágio tão fácil quanto uma gripe, acho que as escolas fecham, os serviços publicos fecham, os supermercados fecham.... e que será um total panico.
Pata, sublinho o verbo que utilizaste: acho. Com efeito, quase tudo o que se tem lido e ouvido sobre a gripe das aves tem muito a ver com o que cada um acha e pouco a ver com a realidade. Quase toda a gente opina sobre o assunto e poucos se informam sobre o problema.
E a realidade é esta:
- não há casos registados de gripe das aves em Portugal
- no resto da Europa os poucos casos que houve de aves afectadas envolveram principalmente cisnes-mudos, uma espécie sobretudo residente (embora com indivíduos migradores) e que habita principalmente os lagos, amiúde perto das pessoas, sendo por isso uma ave muitas vezes considerada semi-doméstica
- na Turquia, onde houve casos de morte de seres humanos, veio a apurar-se que as pessoas que morreram tinham guardado as galinhas dentro de casa, havendo por isso um risco elevadíssimo de contágio
- no resto do mundo o número de mortes ascende a algumas centenas, o que, não sendo um facto positivo, está muitíssimo longe de uma situação de pandemia.
Deixo aqui um texto informativo extraído do site da SPEA (www.spea.pt).
Informações sobre a gripe das aves
O tema da gripe das aves e da possível influência das aves selvagens numa eventual pandemia
de gripe tem suscitado muito interesse por parte da comunicação social e da opinião pública,
sobretudo desde o início da migração outonal de 2005. Confrontando-se com nova vaga de
interesse com a passagem de aves migradoras na Primavera de 2006, a SPEA disponibiliza esta
informação como um esforço por divulgar de forma actual e séria estes assuntos, no âmbito das
suas competências, e este texto serve para informar os sócios e o público em geral sobre este
tema.
A informação dada pela SPEA diz respeito à distribuição das aves nas respectivas rotas
migratórias e a informações sobre os surtos recentemente ocorridos, mas não tanto quanto às
probabilidades de essas aves servirem de transportador dos vírus ou assuntos relacionados com
medidas sobre explorações avícolas, questões essas que terão mais a ver com as respectivas
entidades de veterinária e de saúde (ver www.gripedasaves.pt).
Estas são informações com os dados conhecidos à data de 15 de Fevereiro de 2006, que poderão
alterar-se novamente com a rápida evolução das notícias sobre este tema. A situação
desenvolve-se rapidamente de dia para dia e a nossa posição sobre a doença e as medidas de
controlo propostas continuarão a ser desenvolvidas à medida que surjam novos dados:
1. Os acontecimentos indicam que a transmissão da doença se deve essencialmente ao
transporte e comércio de aves domésticas, como parece ter sido o caso dos surtos na
Turquia e na Nigéria. Contudo, não é de desprezar o papel que as aves migradoras podem
ter na transmissão da doença entre países ou regiões.
2. Não existe qualquer registo confirmado de transmissão da doença entre aves selvagens
infectadas e o ser humano; existe até hoje suspeita de um caso na Turquia. O H5N1 não é,
actualmente, contagioso entre humanos e os casos verificados de seres humanos infectados
foram associados a um estreito contacto com aves domésticas infectadas. O risco de seres
humanos contraírem a doença através de uma ave selvagem é remota, a não ser que tenha
existido contacto com aves infectadas ou os seus excrementos.
3. Os casos de gripe aviária encontrados em Grécia, Itália, Eslovénia, Bulgária, Áustria e
Alemanha, foram confirmados como casos de aves contaminadas pela estirpe H5N1. Estas
aves mortas infectadas na Europa são selvagens; são cisnes, provavelmente todos da espécie
Cygnus olor, que ocorrem naqueles países vindas das zonas do Mar Negro. Estas aves não
existem em Portugal no estado selvagem, salvo raríssimas excepções.
4. Nos casos anteriores de H5N1, as aves selvagens normalmente morrem poucos dias depois
de ficarem infectadas. A aparição de aves selvagens mortas na Itália ou Grécia indica que
foram infectados mesmo antes de sair na sua viagem para Norte. Muito provavelmente
estas aves foram infectadas através de aves domésticas ou os seus excrementos (p. ex. existe
na Europa de leste a prática de usar dejectos de aves domésticas como fertilizantes nos
campos agrícolas, onde poderão ocorrer aves selvagens migratórias).
5. No que respeita aos casos de gripe aviária constatados na Nigéria, as aves infectadas foram
aves de capoeira ou domésticas, e não aves selvagens como acontece na Europa. Este surto
do vírus deve estar relacionado com o facto de o governo nigeriano não fechar as portas ao
comércio de aves infectadas e prova os riscos que o transporte não controlado de aves
domésticas representa para a propagação do vírus.
6. Portugal encontra-se no caminho das rotas migratórias Europeias. Diversas aves aquáticas
passam aqui o Inverno antes de regressar ao norte da Europa e Rússia para nidificar no
Verão. Paralelamente, outras espécies de aves que migraram no Outono passado para a
África subsariana começam agora a regressar às suas áreas de nidificação. A principal rota
migratória que nos diz respeito tem origem nas costas ocidentais de África e utilizará o sul
da Península Ibérica como área principal de passagem em direcção às suas zonas de cria na
Europa. Portugal é um país de passagem e cria de algumas destas aves, mas os riscos para a
saúde humana são reduzidos - a estirpe H5N1 do vírus continua a passar de ave a ave, e
muito dificilmente de ave a pessoa, e não existem ainda registos de aves selvagens
contaminadas nesta rota desde os países de origem até Portugal.
7. Apesar de neste momento o risco ser reduzido não é de desprezar a possibilidade de virem
a ocorrer casos de aves contaminadas em Portugal. Por isso a SPEA considera essencial
manter os esquemas de vigilância e de rastreio de contaminação realizados pelas entidades
nacionais (ver www.gripedasaves.pt) e as medidas de bio-segurança na Europa, evitando o
contacto de aves selvagens com as aves domésticas.
8. O transporte de aves domésticas acontece 365 dias ao ano, ao contrário dos movimentos
migratórios das aves selvagens, que se realizam apenas 2 vezes por ano, e esta é a fonte
mais provável dos surtos que têm acontecido em todo o mundo.
Sobre as rotas migratórias
9. As aves migradoras invernantes, especialmente aves aquáticas, que ocorrem em Portugal e
que são possíveis portadores do vírus da gripe aviária, viajam predominantemente a partir
de África e do Sul da Europa em direcção ao Norte, principalmente Sibéria e Rússia.
10. As aves migradoras fazem as suas viagens através de três vias migratórias principais: (i)
uma mais oriental, orientada para o estreito do Bósforo, onde foram detectados os casos de
gripe aviária da Turquia, da Roménia e da Grécia; (ii) uma via central, utilizada por aves
que seguem por Itália para daí transporem o Mediterrâneo desde o Norte de África; e (iii)
uma via ocidental, que passa pela Península Ibérica até ao Norte da Europa, utilizada pelas
as aves que invernam em Portugal e na África ocidental.
11. Na via migratória oriental foram já registados casos de gripe aviária na Grécia, na Turquia e
na Roménia que são do domínio público. Não se sabe ao certo qual a origem desses casos. O
facto de terem ocorrido próximo de zonas de concentração de aves aquáticas torna provável
que possam estar relacionados com aves selvagens. Frisamos que este modo de contágio
não está de forma alguma comprovado, mas não se pode ignorar a possibilidade de ter
acontecido.
12. As duas restantes vias migratórias apresentam, desde meados de Fevereiro de 2006, registo
de ocorrência de vírus da gripe aviária em Itália, Áustria e Alemanha. Em princípio, o facto
de os registos serem pouco numerosas e relativos a uma só espécie traz alguma
tranquilidade.
13. Tanto quanto se sabe, as aves que são infectadas pelo vírus e que contraem a doença
acabam por morrer rapidamente, o que obviamente limita bastante a sua capacidade
migratória. Quer isto dizer que uma ave infectada em África tem probabilidades reduzidas
de chegar até ao nosso país, mas por outro lado as aves podem ser saudáveis e serem
portadoras do vírus.
14. Existem algumas espécies aquáticas migradoras que efectuam migrações fora destas vias
principais acima descritas, por exemplo o zarro (Aythya ferina) e o arrabio (Anas acuta). Para
além destas, outras espécies movimentam-se em toda a região mediterrânica, podendo
viajar das regiões mais orientais para o nosso país. Exemplos destas aves são o flamingo
(Phoenicopterus ruber), o pernilongo (Himantopus himantopus) ou o colhereiro (Platalea
leucorodia). Acresce que existe a possibilidade de existirem movimentos de aves em
consequência de condições climatéricas particulares, como vagas de frio e tempestades.
15. Em resumo, consideramos que a probabilidade de ocorrência de aves migradoras infectadas
em Portugal é neste momento relativamente reduzida, mas não impossível. A
probabilidade de ocorrência nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira é
praticamente nula, pois receberão números perfeitamente residuais de aves migradoras.
Prevenção de focos de contágio
16. Mesmo no caso de ocorrerem registos de infecção na via migratória ocidental é de excluir
qualquer abate de efectivos populacionais de aves selvagens migradoras, que serão inúteis
para o controlo da doença e extremamente difíceis de pôr em prática. Esta posição é
partilhada pela Organização Mundial de Saúde, pela FAO das Nações Unidas e pela
Organização Mundial para o Bem-estar Animal, conforme se pode consultar em
www.birdlife.net. Assim, o abate de aves aquáticas não é de maneira nenhuma uma solução
para ‘controlar’ a doença, antes pelo contrário – promove a dispersão das aves por um
grande número de locais, o que traria consequências negativas no caso do eventual
aparecimento do vírus em Portugal.
17. As técnicas de controlo mais eficientes envolvem uma comprovada segurança biológica,
primeiramente da indústria aviária, de modo a reduzir o contacto entre animais domésticos
e aves selvagens ou com fontes de água infectadas. Estas medidas necessitam ser
complementadas com abates completos e rápidos das aves domésticas infectadas. Devem
ser consideradas medidas adicionais que podem incluir um controlo mais apertado dos
mercados de aves bem como o transporte de aves domésticas. Tais medidas devem ser
introduzidas a nível mundial. Os países onde actualmente não se verifica nenhum caso de
doença deveriam equacionar banir as importações de aves domésticas e de aves selvagens
provenientes de áreas afectadas. Impedir o acesso público a locais infectados é igualmente
uma medida sensata.
18. Para além do impacto da doença na economia e no modo de vida das populações e dos
potenciais riscos para a saúde, existem igualmente potenciais implicações a nível da
conservação das aves. Por exemplo, estima-se que entre 5% e 10% da população mundial de
ganso-de-cabeça-listada Anser indicus desapareceu devidos aos acontecimentos na China.
19. É nossa posição que se deve desde já ter extremo cuidado no manuseamento de aves
selvagens, especialmente as que forem encontradas mortas ou doentes. Isto aplica-se a
caçadores ou a investigadores que trabalhem em contacto directo com aves como medida
preventiva.
Recomendações para observadores de aves
A SPEA tem sido questionada sobre os riscos de transmissão da doença para profissionais ou
amadores, observadores de aves, caçadores ou público em geral. Acresce que a SPEA organiza
diversas iniciativas que envolvem trabalho voluntário, nomeadamente os Censos de Aves
Comuns (CAC), o projecto Novo Atlas das Aves Nidificantes em Portugal e as Contagens de
Aves no Natal e Ano Novo (CANAN), pelo que é nosso dever informar os nossos voluntários
sobre este tema.
O conhecimento actual permite-nos dizer que o risco de contágio de aves selvagens para o
homem é extremamente reduzido, provavelmente mais reduzido do que o risco de ‘importar’ a
doença através de aves domésticas importadas, legal ou ilegalmente. Este grau de risco é
baseado na informação acima descrita sobre as rotas migratórias para a Península Ibérica. Para
além disso é importante notar que não existem registos de transmissão do vírus de aves
selvagens para o homem, sendo os casos conhecidos causados pela proximidade do homem
com aves domesticadas.
No entanto, a situação e o cálculo de risco deve ser constantemente reavaliado e considerado.
Para isso contribuem os rastreios que têm sido conduzidos pela Direcção-Geral de Veterinária e
pelo Instituto da Conservação da Natureza através de amostras de aves aquáticas nas principais
zonas húmidas portuguesas. Para complementar esta informação será extremamente útil que os
observadores de aves estejam alertados para o problema e comuniquem rapidamente às
autoridades casos de grandes mortalidades de aves selvagens nos seus habitats. As aves
aquáticas são as espécies mais sujeitas e vulneráveis a este tipo de infecção. Note-se que é
relativamente normal encontrarem-se aves mortas no campo, logo deve-se usar o bom-senso,
comunicando apenas os casos de mortalidade mais fora do vulgar.
O vírus pode ser transmitido através de secreções nasais e excrementos, logo não se deve nunca
mexer em aves encontradas mortas ou agonizantes. No caso de anilhadores credenciados de
aves, estes devem seguir as recomendações transmitidas pela central portuguesa de anilhagem
de aves (CEMPA).
Frisamos que a probabilidade de o vírus H5N1 ocorrer em aves selvagens em Portugal é neste
momento extremamente reduzida. Continuamos obviamente a acompanhar todos os factos
sobre este tema e actualizaremos esta informação no caso de surgir qualquer aumento do risco.
Informação adicional sobre a gripe das aves
O vírus H5N1 encontra-se em franca expansão, a partir do sudeste asiático em 2003, chegando
neste final de Inverno à Europa e África, depois dos episódios do último Outono na China,
Cazaquistão, Mongólia, várias regiões da Rússia e dos países em redor do Mar Negro. Ainda
não está completamente claro o modo como a doença se tem vindo a espalhar.
Existem numerosas estirpes (pelo menos 144) do vírus da gripe, muitos dos quais presentes em
aves selvagens a níveis muito baixos, mas podem ocorrer mais frequentemente em aves
aquáticas. A maioria destes vírus presentes as populações de aves selvagens são benignos.
As estirpes altamente patogénicas deste vírus podem causar elevados índices de mortalidade
nas aves domésticas mas são muito raros em aves selvagens. O H5N1 é altamente patogénico
mas nunca foi detectado em aves selvagens antes dos acontecimentos no SE Asiático, Rússia e
nos países circundantes ao Mar Negro no final de 2005. É possível que tenha tido origem em
aves domésticas através da mutação de sub-tipos pouco patogénicos e, consequentemente, foi
transmitido das aves domésticas para as aves selvagens.
A transmissão é promovida pelas aves domésticas devido à densidade de aves e o consequente
contacto com fezes e outras secreções através das quais o vírus pode ser transmitido. As práticas
agrícolas do SE asiático onde as aves domésticas se misturam muitas vezes com aves selvagens,
especialmente com patos e gansos, o que terá facilitado a transmissão para as aves aquáticas
migradoras e conduzido ao aparecimento de várias aves mortas.
Não existe qualquer prova de que os seres humanos infectados pelo H5N1 o tenham adquirido
através de aves selvagens. Estas infecções ocorreram em indivíduos que contactaram muito de
perto com aves domésticas. O risco de perigo para a saúde vindo das aves selvagens é
extremamente baixo e pode ser minimizado evitando o contacto com aves doentes ou mortas.
Contudo, existe a possibilidade de o vírus se desenvolver numa estirpe que possa ser
transmissível de ser humano para ser humano. Se este cenário se verificar, o mais provável é
que aconteça no sudoeste asiático, de onde se poderia espalhar rapidamente para o resto do
mundo em forma de pandemia de gripe.