Diário de um Especulador
29/5/99 - Psicologia do Mercado
São justamente durante os períodos de baixa que e mais fácil reconhecer
alguns dos mecanismos que regem as decisões dos agentes e investidores do
mercado accionista.
Como dizem os chineses, são nos momentos de crise que adquirimos mais
conhecimento e experiência que devemos aproveitar para construir um futuro
mais seguro.
O mercado accionista mostra que não compramos ou vendemos simplesmente
participações em empresas mas sim que negociamos as expectativas que os
investidores e agentes têm de retorno ou risco nas suas respectivas
carteiras.
São também, nestes momentos de baixa de preços das acções, que alguns passam
a ser árduos defensores dos investimentos de longo prazo.
É inegável que para os grandes investidores, que possuem fluxos contínuos de
capital e estão sempre com disponibilidade para novas compras - Boas ou
Mas - , este é o momento de aproveitar os baixos preços para aumentar as
suas posições. No entanto um falso entendimento do termo " Investimento de
Longo Prazo " pode levar aos pequenos e médios investidores a acreditar que,
segurando as suas posições compradas, poderão garantir lucros no futuro. Na
verdade a hipótese de alavancagem (crescimento rápido) do capital depende
fundamentalmente do timing (momento) das compras e das vendas. Decorrente do
fato de não possuírem fluxos contínuos ( ...Alheios ) de capitais para
investimentos e também por estarem a margem das fontes de informação, os
pequenos investidores ficam aparentemente condenados ao prejuízo ou aos
pequenos ganhos. As alternativas que restam aos pequenos são os fundos de
acções e administração de capital indirecta .
A eterna luta entre a ganância e o medo norteiam as atitudes dos
investidores. A diversidade dos tipos de investidores e seus respectivos
pesos num determinado mercado são elementos que determinam os movimentos dos
preços dos papeis. Outro elemento de fundo psicológico é a memória dos
preços que costumam criar barreiras temporárias para os movimentos de queda
e posteriormente de alta e são conhecidas com níveis de suporte ou
resistência de preços. Estes e outros elementos formam as bases do
desenvolvimento das análises de mercado e do posicionamento " estratégico "
que cada um deve cultivar e adoptar , para melhor explorar o " Mix " do seu
capital .
Cabe a cada um escolher as suas ferramentas e aprofundar os conhecimentos
sobre o tema.
Qualquer indevido , independentemente da ordem de grandeza dos capitais com
que especula , tem que ter claramente presente que a função dos " Mídia " ,
bem ou mal , e informar que uma Sociedade Gestora de Fundos , tem por
função antes de mais remunerar os seus accionistas e que TODO o mercado financeiro no seu conjunto é uma GRANDE INDUSTRIA MULTIDISCIPLINAR , da qual muita gente
depende e nela tem os seus interesses instalados ... QUE NAO SAO NECESSARIAMENTE COINCIDENTES COM O SEU ... ...
" O SEU OBJECTIVO ... " NA SUA POSICAO " , É SÓ UM ... « Ganhar dinheiro
consistentemente » ". Se na sequência disso " ELES " ganham também ... Ok
... se nao " Ai é que já não pode ser nada " .
" O QUE É UM ESPECULADOR E O QUE NAO DEVE SER UM INVESTIDOR "
- Um grande amigo disse-me uma vês uma frase elucidativa sobre este facto
... " Não interessa o que você trabalha ... , interessa o que você ganha " .
Pessoalmente reforço o conceito com a seguinte ideia " Na Bolsa não
interessa com que dinheiro entra , interessa com que dinheiro sai ... " ...
« O que é que quer isto dizer ? » .
- Especular no sentido correcto e objectivo do termo é não só um dever como
uma obrigação de todo o individo inteligente e arguto . Para especular você
não necessita de ser o Warren Buffett nem o Soros . Se o seu vizinho tem
muito dinheiro , um bom carro , uma boa casa ... " e até compra acções "
..., nada mais natural ... , proveito o dele .
AGORA , não pense que por isso , automaticamente ele é um bom especulador
dos mercado financeiros ... no máximo ele poderá ser " um bom especulador "
da sua actividade .
Na Bolsa ... e principalmente na Bolsa , não é a quantidade de meios que é
determinante mas , a eficácia e a eficiência com que se empregam ... o resto
vem por acréscimo .
O especulador " Pacientemente Misturado na Multidão " agradece-lhe os erros
e a gula . Da graças por a sua conta poder comprar o ultimo modelo da BMW ,
por poder restaurar a vivenda , por poder educar os filhos nos melhores
colégios ...
No próximo Bull de Mercado , ele lá estará , ... " Figura sem Rosto " pronto
a devorar a próxima horda de carneiros .
A única coisa que ouvira do especulador é ...
« O Meu Profundo Obrigado » .
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" Quem não sabe , acredita ... ? "
21/6/98
Começa a ser notória a falta de rigor objectiva e desconforto de alguns "Comentadores , Day-trader " , relativamente a conjuntura Macro-Financeira dos mercados de capitais a nível global.
É felizmente notória e também visível , a forma como alguma informação económica tradicional já compreendeu a conjuntura e procura esclarecer sem alarme e com rigor o difícil" Momentum " dos mercados .
O investidor registara a posteriori e como é habitual , quem no momento oportuno estava mais preocupado com receitas de exploração ou com informação credível e pragmática .
Vem no entanto o presente artigo de opinião focar um outro aspecto que julgo de importante utilidade reflectiva e ainda de maior utilidade patrimonial ; o investimento a " longo prazo " sob a forma de acções, e a forma como tem sido entusiasticamente exposto com frequência de forma elucidativamente dogmática e quase herética .
Desiluda-se o leitor , se pensa que o vou refutar. Longe de min querer ser colocado na fogueira da felizmente extinta , inquisição .
Vou no entanto dar-lhe algum " peso e medida " , porque confundir princípios estruturais de investimento oportunos , enquadrados no correcto ciclo de mercado , com passividade inactiva , perante condicionalismos e desenvolvimentos prováveis de alto risco patrimonial , serão por certo oportunos para alguns , mas muito pouco oportunos para a maioria.
Para todos os entusiastas do " Longo Prazo , Cego " que neste momento estarão a afiar as facas , com as enumeras , exaustivas e até recentes comprovações estatísticas de que a observação do investimento passivo de longo prazo é a " melhor formula de investimento do mundo " ... desde já lhes digo o seguinte :
1º A única coisa que está provada é o que aconteceu nos últimos 70 anos . o que " acontecerá " nos próximos 70 , ninguém o sabe ... muito menos a estatística por razões sobejamente conhecidas.
2º Não existe um único investimento alternativo mensurável a que tal principio possa ser aplicado e se existe , faça o favor de demonstrar.
3º A maior parte dos testes realizados reproduzem a realidade de um mercado . Duvido da amplitude geral desse principio de forma extrapolada . E nem adiante que seleccionem as datas que mais lhes convém para demonstrar o contrario porque a realidade é diferente e até nem me impressiono com facilidades estatísticas analíticas não lineares ou lineares.
4º As médias que servem para aferir o conceito são evolutivas . Quer isto dizer que é necessário " ter lata " para esquecer que a composição ponderada de um índice evolui em função do peso de determinadas empresas que nascem , crescem , decrescem e até morrem .
Se nos anos 50 o que era bom para a GM era bom para o Mercado , actualmente o que é bom para a Microsoft ...
5º Por último , ... mas afinal , que raio de perspectiva de investimento é esta em que com o património financeiro em devastação ou risco, se fica impávido e sorridente .
É realmente caso , para efectivamente perguntar ... mas afinal , está a rir do que ?
6º "Aqui ao lado ..." , em Hong Kong , Tóquio ou na Coreia , por certo a teoria terá neste momento muita saída ...
Mas talvez nem valha a pena ir tão longe , bastando para tanto dar somente uma espreitade-la nos Fundos A , B , e C comercializados localmente e em que nos quais , os subscritores devem estar alem de radiantes , extremamente entusiasmados com a referida postura de Longo Prazo.
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A Grande Viagem
1/5/98
Sai do barco num pequeno ancoradouro de uma ilha quase deserta.A direita só praia e Sol e as minhas malas
cheias de "recortes" e recordações.
Ao longe ainda vejo fumegante aquele imponente barco apinhado de gente que se acotovela pelas salas e pelo convés.
Em 1992 quando a viagem começou ,éramos uns poucos ; visionários e audases.Nessa altura toda a gente tinha medo do grande barco e quem nele entrava era olhado com suspeição.
A tripulação também era mais experiente e cortes.
Com o tempo e o afluxo de clientela ,foi sendo substituida por marujos.A maior parte vinda suponho , de barquinhos de recreio.
Foram no entanto monumentais as farras e as festas iniciais de 1993 e 1994 .Em 1995 fizemos uma paragem.
O barco depois de algumas reparações ,seguiu viagem . Em 1996 lá arrancamos de novo.
A tripulação nesta altura aumentou ,sem perder a qualidade.O publico mais informado ,começou a afluir.
A viagem tornou-se ainda mais interessante.Sucediam-se as festas e o convívio era desportivo e saudavel.O mar era calmo e o tempo ameno.
Já em 1997 o ambiente mudou de súbito e radicalmente . Apareceram muitas promoções a bordo.Tambem se começou a incentivar massissamente o público para aderir a viagem .Em 1997 a velha tripulação também já tinha sido toda substituída . Do requinte dos salões foram tirados todos os objectos que não permitissem a entrada de mais e mais gente.Por esta altura todos tinham já perdido o medo de marinhar.
Por entre conversas eram também audíveis e visíveis ,grupos de pessoas que se acotovelavam para ver e ouvir proeminentes senhores "vestidos" de marinheiros .
As senhoras ,suspiravam e os cavalheiros acenavam concordantes com a cabeça.
Certo dia em finais de 1997 fomos contra uma escarpa. Houve certo alvoroço , mas tudo não passou de um susto . Alguns cheliques ,pequenos desmaios aqui e ali alguém a procura de bóias ,mas nada que rapidamente não tenha sido resolvido com palestras e comunicados de esclarecimento em que se dava conta de uma pequena falha técnica.
Mais tarde vim a saber que o comandante nesse dia estava com uma grande bebedeira e que tinha deixado ao leme um grumete .
Em 1998 a situação tornou-se insustentavel.Existiam filas de gente para tudo. Os divertimentos cada vez também eram menos. Era necessário criar mais e mais espasso.Por todo o lado , toda a gente opinava sobre o barco.Devia andar mais depressa,devia andar mais devagar ,devia parar ali,devia parar aqui .
Recordei com nostalgia os convivas e companheiros de viagem de outros tempos , particularmente três proeminentes financeiros aposentados.
Um andava sempre a dizer que quando se tem um ganho inesperado ,deve-se parar para pensar,interiorizar a nova condição e depois prosseguir.
O outro que só lhe interessavam os lucros intermédios dos mercados ."Os grandes Ganhos " tinha por hábito deixa-los para os outros .
O último falava com frequência na Teoria da Útilidade.
-Se tiveres de arriscar cem escudos para ganhar mil contos , arriscas.Se tiveres de arriscar quinhentos contos para ganhar mil contos ,já deves pensar duas vezes.
Foi por esta altura que decidi contar os salva vidas a bordo . Fiquei espantado porque também tinham sido suprimidos para aumentar o espaço.
Tendo sabido por intermédio de um velho e veterano maquinista que não dormia sem um colete ao lado ; desta "pequena paragem "nesta ilha, para meter "mais combustível" foi então que decidi sair.
Ao longe ainda vejo o barco a afastar-se com enorme algazarra , muitos risos e burburinho. A musica é farta e os novos viajantes acotovelam-se pelo convés e pelas salas.
Na calma da pequena ilha olho para um dos jornais do dia anterior.Em letras garrafais estava escrito - " NESTE BARCO ESTA-SE MUITO BEM " - .
Lembrei-me do " nosso " Camilo de Oliveira :
- ESTA-SE ,ESTA-SE ... Esssssssta-se .
