Gato por lebre
Publicado 30 Agosto 2005 14:29
Luísa Bessa
Gato por lebre
lbessa@mediafin.pt
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Já pensávamos ter visto tudo no mercado de capitais, desde a euforia dos anos 80 ao “gato por lebre” do professor Cavaco Silva, que precipitou o crash de 1987 a nível nacional. Mas afinal não. O que se passou ontem com a Media Capital é no mínimo surpreendente.
Já pensávamos ter visto tudo no mercado de capitais, desde a euforia dos anos 80 ao "gato por lebre" do professor Cavaco Silva, que precipitou o crash de 1987 a nível nacional. Mas afinal não. O que se passou ontem com a Media Capital é no mínimo surpreendente.
Um comunicado de uma auto-designada empresa de capital de risco, de nome LP Brothers, enviado ao final da manhã para algumas redacções, entre as quais a do Jornal de Negócios, anunciava "a intenção de lançar uma OPA ao título Media Capital", que seria comunicada nos próximos dias à CMVM.
Apesar da ausência de "track record" da LP Brothers e do carácter insólito do anúncio, a Euronext suspendeu a negociação do título, que só retomou uma hora mais tarde, depois de a Media Capital ter comunicado aos investidores não ter conhecimento do lançamento de qualquer OPA sobre a empresa.
Depois da paragem forçada, o papel da empresa de media, que tivera uma manhã com pouca negociação, valorizou-se 7%, beneficiando do ambiente especulativo.
Um pormenor que não pode passar despercebido é que o responsável da LP-Bothers, citado pela agência Reuters, afirma deter já 5% da Media Capital, algo que, a ser verdade, nunca foi comunicado ao mercado, apesar de se tratar de uma participação qualificada, que obriga a notificação.
Fica assim a suspeita de ter havido manipulação do mercado. Ainda bem que a CMVM, depois de tanto contra-informação a passar sob a s suas barbas, decidiu investigar "a credibilidade e a origem" do comunicado pré-anunciando o lançamento da OPA. Pena é que tenha sido demasiado tarde, já depois de o mercado ter encerrado.
É verdade que a Media Capital se tornou um tema onde se concentram as emoções de várias almas lusas. Onde há muita emoção falta a racionalidade. E o mercado de capitais não está à margem das polémicas, além de ansiar pelas OPAs e contra-OPAS que dão sal e negócios à bolsa. Como ainda não é certo que a tomada de posição da Prisa dê direito a OPA, por que não jogar desde já numa contra-OPA?
A emoção no mercado, contudo, não se compara com as pulsões nacionalistas que emergem a propósito da anunciada entrada da Prisa na televisão que já nos deu o "Big Brother" e a "Quinta das Celebridades" e promete prosseguir com oferta do mesmo nível.
Depois dos alertas de Marques Mendes aos favores governamentais à entrada da Prisa na TVI, facilitando o prolongamento das licenças, nada como Alberto João Jardim para falar claro e denunciar que "os espanhós estão a tomar conta de Portugal" com o beneplácito do Governo.
Parece que Alberto João Jardim tem andado distraído. Os espanhóis já estão "a tomar conta" há muito tempo mas é porque os portugueses deixam. Perdem tanto tempo a discutir a ameaça espanhola, que nem lhes sobra para fazer o mesmo. E para voltar ao princípio desta história, até a LP Bothers tem a sede em Badajoz...
Luísa Bessa
Gato por lebre
lbessa@mediafin.pt
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Já pensávamos ter visto tudo no mercado de capitais, desde a euforia dos anos 80 ao “gato por lebre” do professor Cavaco Silva, que precipitou o crash de 1987 a nível nacional. Mas afinal não. O que se passou ontem com a Media Capital é no mínimo surpreendente.
Já pensávamos ter visto tudo no mercado de capitais, desde a euforia dos anos 80 ao "gato por lebre" do professor Cavaco Silva, que precipitou o crash de 1987 a nível nacional. Mas afinal não. O que se passou ontem com a Media Capital é no mínimo surpreendente.
Um comunicado de uma auto-designada empresa de capital de risco, de nome LP Brothers, enviado ao final da manhã para algumas redacções, entre as quais a do Jornal de Negócios, anunciava "a intenção de lançar uma OPA ao título Media Capital", que seria comunicada nos próximos dias à CMVM.
Apesar da ausência de "track record" da LP Brothers e do carácter insólito do anúncio, a Euronext suspendeu a negociação do título, que só retomou uma hora mais tarde, depois de a Media Capital ter comunicado aos investidores não ter conhecimento do lançamento de qualquer OPA sobre a empresa.
Depois da paragem forçada, o papel da empresa de media, que tivera uma manhã com pouca negociação, valorizou-se 7%, beneficiando do ambiente especulativo.
Um pormenor que não pode passar despercebido é que o responsável da LP-Bothers, citado pela agência Reuters, afirma deter já 5% da Media Capital, algo que, a ser verdade, nunca foi comunicado ao mercado, apesar de se tratar de uma participação qualificada, que obriga a notificação.
Fica assim a suspeita de ter havido manipulação do mercado. Ainda bem que a CMVM, depois de tanto contra-informação a passar sob a s suas barbas, decidiu investigar "a credibilidade e a origem" do comunicado pré-anunciando o lançamento da OPA. Pena é que tenha sido demasiado tarde, já depois de o mercado ter encerrado.
É verdade que a Media Capital se tornou um tema onde se concentram as emoções de várias almas lusas. Onde há muita emoção falta a racionalidade. E o mercado de capitais não está à margem das polémicas, além de ansiar pelas OPAs e contra-OPAS que dão sal e negócios à bolsa. Como ainda não é certo que a tomada de posição da Prisa dê direito a OPA, por que não jogar desde já numa contra-OPA?
A emoção no mercado, contudo, não se compara com as pulsões nacionalistas que emergem a propósito da anunciada entrada da Prisa na televisão que já nos deu o "Big Brother" e a "Quinta das Celebridades" e promete prosseguir com oferta do mesmo nível.
Depois dos alertas de Marques Mendes aos favores governamentais à entrada da Prisa na TVI, facilitando o prolongamento das licenças, nada como Alberto João Jardim para falar claro e denunciar que "os espanhós estão a tomar conta de Portugal" com o beneplácito do Governo.
Parece que Alberto João Jardim tem andado distraído. Os espanhóis já estão "a tomar conta" há muito tempo mas é porque os portugueses deixam. Perdem tanto tempo a discutir a ameaça espanhola, que nem lhes sobra para fazer o mesmo. E para voltar ao princípio desta história, até a LP Bothers tem a sede em Badajoz...