Portal apareceu na Internet há dez anos
Amazon: uma década da maior loja on-line do mundo
16.07.2005 - 07h49 Pedro RibeiroPÚBLICO
Há dez anos a Amazon.com colocou o seu sítio on-line. Desde o primeiro dia descrevia-se imodestamente como "a maior livraria da Terra", oferecendo um catálogo de um milhão de títulos. A página inicial tinha o aspecto espartano dos primórdios da World Wide Web - texto, alguns links, um único gráfico (a letra A estilizada).
Nessa altura, a startup fundada por Jeff Bezos em Seattle vendia apenas livros. Relativamente poucos: em 1996, festejou efusivamente o marco de dois mil livros por dia.
A sua clientela era composta de pioneiros da Internet - o seu best seller em 1996 ainda era um livro sobre como construir sites na Web. Mas logo nessa altura o potencial da Amazon era claro: no seu primeiro mês de operações, registou vendas em todos os 50 estados dos EUA e em 45 outros países.
Hoje, só o sexto volume da colecção Harry Potter teve mais de 1,4 milhões de encomendas. A Amazon americana tem 31 categorias de produtos - vende livros, mas também lagostas, bicicletas, jóias ou jogos de computador. Tem mais cinco lojas em outros tantos países.
O seu volume de negócios ultrapassa os 5700 milhões de euros anuais. A Amazon tornou-se uma marca global. Muitos utilizadores da Internet terão feito as suas primeiras compras on-line numa das lojas de Jeff Bezos.
Com Google, Yahoo e E-Bay, a Amazon é um dos sobreviventes da era da euforia da Internet. E é o nome mais associado ao e-comércio; a E-Bay tem um volume de negócios (e de lucros) muito superior, mas funciona apenas como uma espécie de bazar virtual, um mercado onde utilizadores negoceiam directamente uns com os outros.
Quando Jeff Bezos começou o seu negócio, a sua intenção era apenas vender livros. Mas o próprio Bezos conta que desde o início consumidores lhe perguntavam porque não vender outros produtos - discos, programas de computador, filmes.
A primeira expansão para outras áreas foi em 1998. Nessa altura, a marca Amazon já estava tão bem estabelecida que em apenas duas semanas a firma ultrapassou as vendas do concorrente que era então líder de mercado, CD Now.
No ano anterior, a Amazon fizera a sua primeira oferta pública de acções; quem tenha comprado uma acção nessa altura veria o seu investimento valorizado 2100 por cento hoje.
Acrescentando mais e mais categorias de produtos, o ritmo das vendas da Amazon foi crescendo exponencialmente. Em 2000, o fim da bolha das dot-com pôs em causa a sobrevivência da firma.
Mas a Amazon sobreviveu, e a partir de 2003 conseguiu provar a viabilidade do modelo do comércio electrónico: pela primeira vez registou lucros.
À medida que a empresa atingiu a maturidade, o seu crescimento reduziu-se. Mas mesmo assim com níveis impressionantes: as suas vendas subiram 150 por cento desde 2002.
Enorme base de dados
Hoje a Amazon é mais que uma loja. É uma gigantesca base de dados sobre hábitos de consumo.
A vantagem inicial do modelo de negócio da Amazon estava na dimensão do seu catálogo e na gestão de inventário. Ao contrário de livrarias tradicionais, a Amazon podia oferecer um catálogo quase ilimitado de títulos, sem se preocupar com problemas de armazenamento.
Isso permitia-lhe oferecer grandes descontos em relação às livrarias tradicionais (muitas das quais, sobretudo as mais pequenas, foram arruinadas pela competição on-line). A eficiência dos serviços postais americanos permitia à Amazon servir clientes em todo o lado, uma vantagem enorme sobretudo nas zonas longe de grandes centros urbanos.
Quando o gigante da distribuição livreira dos EUA, a Barnes and Noble, entrou na Internet, em 1998, muitos analistas julgavam que os dias da Amazon estavam contados.
Mas a firma de Bezos resistiu. A Barnes and Noble não estava preparada para competir com o eficaz motor de busca da Amazon, nem com a sua equipa de "especialistas", que escreviam milhares e milhares de críticas no seu site.
O trabalho destes críticos tornou-se progressivamente automatizado e interactivo. Em vez de críticas escritas por funcionários da Amazon, a empresa estimula hoje os seus clientes a escrever os seus próprios textos. Gerou-se uma espécie de comunidade, que a Amazon incentiva atribuindo prémios e distinções aos seus clientes mais produtivos.
As guerras das patentes
Mais ainda: a sofisticação do seu software permite à Amazon sugerir aos seus clientes mais produtos a comprar. Tem uma lista de "recomendações", e constantes conselhos do género "outros clientes que compraram este produto também compraram..." ou "se você gostou disto, também irá gostar de...".
A Amazon tornou-se totalmente personalizada: cada utilizador tem uma página diferente, concebida de acordo com os seus gostos. Para a Amazon, isto é uma forma de potenciar as vendas. Para alguns críticos, é uma forma de afunilamento dos gostos - a Amazon só sugere aos seus clientes produtos semelhantes aos que ele já comprou ou pesquisou.
Isso de resto é outro fenómeno da maturidade da Amazon: a empresa passou a ter críticos. A devoção do grupo de fanáticos da Internet que formava o "núcleo duro" dos clientes da Amazon nos primórdios esvaiu-se à medida que a audiência se tornou global. Em 1999, por exemplo, tornou-se público que a Amazon cobrava às editoras por colocar os seus produtos em locais visíveis da sua página na Internet - uma prática semelhante à de qualquer supermercado, que cobra por "visibilidade de prateleira", mas que enfureceu muitos "fiéis".
A Amazon hostilizou essa comunidade também pela sua política feroz de monopolizar os conceitos do e-comércio através do registo de patentes: a firma tenta obter patentes para tudo o que faz no seu site, incluindo a famosa guerra para registar o conceito de one click shopping ("comprar com um clique"). Ainda esta semana, a Amazon obteve mais uma patente - para a "apresentação contextual de informação sobre encomendas relacionadas durante uma pesquisa num católogo electrónico". Foram precisas cinco tentativas em quatro anos para obter esta patente.
De um site para um grupo de entusiastas da Internet, a Amazon transformou-se num colosso do comércio mundial, uma referência no comércio electrónico tão incontornável como o seu vizinho de Seattle, Microsoft, no mundo do software.
E o colosso deverá continuar a crescer. Jeff Bezos promete continuar a acrescentar mais lojas e produtos. A firma Forrester Research prevê que o volume total de vendas on-line cresça este ano mais 22 por cento -só nos EUA. No resto do mundo, o crescimento deverá ser ainda maior