Analistas avaliam operação que arranca quarta-feira
Entrada da EDP na bolsa brasileira é um «bom» passo estratégico
[ 2005/07/12 | 19:35 ] Alda Martins
A Energias do Brasil, subsidiária da EDP para o Brasil, passará a ser cotada na bolsa brasileira a partir desta quarta-feira. Com a entrada no BOVESPA, índice de referência brasileiro, a empresa espera encaixar até 352 milhões de euros (mil milhões de reais).
A operação foi coordenada pelo banco UBS, com ajuda do Itaú BBA e Pactual, que estimam que o preço do papel ficará entre 22 e 28 reais por acção (até ao momento do fecho desta peça ainda tinha sido divulgado o preço de lançamento). A entrada em bolsa acontece esta quarta-feira pelas 10:00 horas locais, 14:00 em Lisboa.
Segundo Cristina Garcia, analista da casa de investimento Lopes e Filhos no Brasil, «se o preço sugerido entre os 22 e os 28 reais for aceite, isto é, se a operação for até à média de 25, os índices dela comparados com outras empresas do sector são satisfatórios».
Para a analista brasileira, «o que aconteceu até à semana passada, é que as acções do sector energético caíram muito por causa dos problemas políticos aqui no Brasil. O risco político estava muito elevado.»
Do ponto de vista estratégico, para Marcelo Costa, da Standard&Poors no Brasil, a entrada da Energias do Brasil na bolsa brasileira «é um movimento bastante positivo» e em linha com o sector energético brasileiro.
«Alguns grupos eléctricos do Brasil têm mais ou menos o formato societário que a Energias do Brasil está a adquirir, ou seja uma holding que controla os activos da geração, distribuição e uma pequena unidade de comercialização. Isto permite criar mais e maiores sinergias», acrescenta o analista.
A transparência é um dos pontos de encontro entre analistas brasileiro e portugueses.
«Do ponto de vista do valor acrescentado para a holding e para as subsidiárias, e na questão da transparência, achamos que esta entrada é muito boa», afirma Marcelo Costa.
Entrada noutro mercado dá visibilidade
A visibilidade é outra das vantagens, diz Sónia Baldeira, analista da Caixa BI. «A presença no Brasil vai dar mais visibilidade aos activos do país e, potencialmente cria mais valor para a empresa naquele país», mas relativamente a um eventual impacto desta entrada para o BOVESPA, a analista diz que «ainda é cedo para dizer. Em qualquer caso, a Energias do Brasil era apontado como um factor que poderia favorecer a EDP cá».
Para outro analista a transparência também é um dos pontos fortes, mas recusa igualmente um impacto directo nos títulos da eléctrica em Portugal. «A avaliação do activo no Brasil torna-se mais transparente, mas as acções não vão subir necessariamente» e acrescenta que «do ponto de vista estratégico é também uma boa opção porque ganha ali uma moeda de troca para qualquer operação que queira fazer».
Mas por enquanto, segundo Sónia Baldeira, as atenções estão postas na reunião do Conselho de Ministros marcada para a próxima 5ª feira onde deverão ser debatidas as linhas orientadoras para o sector energético, que obviamente envolvem a EDP.
E aqui, diz a analista «a melhor solução para a empresa era a anterior», referindo-se ao célebre chumbo de Bruxelas que permitia à eléctrica ficar com o controle do negócio do gás natural, que passava da Galp, empresa onde a EDP também detém uma particiapação. E conclui: «não vale a pena especular. Vamos ter de esperar».
Um analista que preferiu ficar anónimo arrisca um futuro provável para a eléctrica nacional: «uma das coisas que a EDP vai fazer mais cedo ou mais tarde é largar o negócio das telecomunicações. É um negócio que não dá ou não dará nada ou nas mãos da EDP e mais tarde ou mais cedo vai vender. E faz bem».
Para o analista, «depois do chumbo de Bruxelas, agora é escolher o mal menor. Acredito que o que vai acontecer é que a Galp também vai ter um negócio de retalho de electricidade. Isto faz sentido na lógica de que se fala de aumentar a concorrência.»
As acções da EDP fecharam a ganhar 0,48% para os 2,09 euros.