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«Mercados financeiros estão numa fase de medo»

MensagemEnviado: 11/7/2005 12:04
por pedras11
O euro entrou num movimento de descida, defende Paulo Pinto, administrador da corretora DIF. O especialista em investimento refere ainda que o que caracteriza os mercados é sempre o medo ou a ganância. «Agora estamos numa fase de medo», diz o gestor.

Na perspectiva do investimento estrangeiro, o valor das moedas é fundamental¿

Sem dúvida, mas aqui colocam-se outras questões mais profundas que esta. A subida do euro dos últimos dois anos é mais por demérito do dólar do que por causa do seu próprio mérito e a descida do euro nestes últimos dois meses é mais por demérito do euro que por mérito do dólar. Se não há mérito na valorização das moedas para que adquiram alguma importância a nível mundial, há sempre o perigo do mundo na sua totalidade se focar numa coisa que lhe ofereça mais garantias. E essa outra coisa que lhe pode oferecer mais garantias, pode ser, justamente, o ouro.

Ou seja, quando os países estão a investir num mercado, investem porque acreditam nas empresas e acreditam no país. Mas agora se equacionarmos isso em relação aos Estados Unidos e perguntarmos porque é que a sua moeda não se valoriza, a resposta é que esse país tem a maior dívida do mundo. Aliás, a dívida dos Estados Unidos é superior à dívida acumulada do resto do mundo inteiro. E é uma dívida que, ao contrário do que seria desejável, que era ter uma tendência descendente, o seu crescimento é exponencial. Portanto se um país tem cada vez mais dívida e se vive na base do crédito do mundo, isso só acontece porque o mundo tem confiança nos Estados Unidos.

Mas a confiança perde-se de um dia para o outro e, havendo o perigo do mundo perder a confiança no dólar, a situação económica mundial, ficará ainda mais periclitante, porque estamos todos à espera que sejam eles a tirar-nos da recessão, mas pode acontecer estarmos a apostar no cavalo errado. E já há quem pense assim, ou o dólar estaria a valorizar sem ser por demérito do euro.

Se esquecermos tudo o resto, o dólar está a fazer o percurso inverso do petróleo: as valorizações das últimas semanas são uma correcção num movimento que é de descida.

Os Estados Unidos beneficiam então da actual situação difícil da União Europeia¿

Para já, acho mais importante a questão do orçamento, do que a Constituição Europeia que, no fundo foi o que veio originar este clima. É mais importante porque dele depende o destino que se quer dar à Europa. Não deixa de ser curioso que Lisboa tenha uma estratégia para se tornar a economia mais competitiva da Europa até 2010 e, a meio desse caminho, a Europa ter metade do seu orçamento ainda dedicado à agricultura: 43% do orçamento para 5% da população e 5% da população que está no sector primário!

Se se está a pensar em termos de competitividade, não é possível canalizar 40% do orçamento para a agricultura! Este tipo de questões leva os investidores a desistirem de apostar no euro.

O que uns têm em dívida, a Europa tem em falta de visão estratégica¿
Exactamente. E mais uma vez a questão está na percepção que os investidores têm. Se a percepção se cingir ao nível do endividamento, os investidores impõem um nível de endividamento e optam pela Europa que tem uma dívida menor, mas se a percepção for de visão estratégica, eles pensarão que será uma questão de tempo até a dívida europeia crescer e apostam na segurança dada pelos Estados Unidos.

É então o medo que caracteriza os mercados actuais?

Aquilo que caracteriza os mercados é sempre o medo ou a ganância, Agora estamos numa fase de medo.


O Estado não fez rigorosamente nada para reduzir custos, tudo o que foi feito foi da perspectiva das receitas e as condições económicas actuais, nacionais e europeias, não me parece que vão permitir grande margem de expansão das receitas.