José Diogo Madeira
País, vende-se
(29-06-2005 - 13:59)
País, vende-se
Eu acredito que as pessoas, quando acedem a informação económica e financeira, querem mesmo é saber como se ganha dinheiro e como se pode poupar nos impostos, juros, rendas e afins. Temas mais institucionais, estilo Orçamento Rectificativo, interessam apenas a uma reduzida «clique» de líderes empresariais e políticos. E, ainda assim, nem as publicações especializadas em «finanças pessoais» vendem grande coisa. É pouca a cultura de investimento, num País onde os rendimentos não permitem poupanças e onde o Estado continua tão previdente. Mas, desgraças à parte, o português até tem jeito para o negócio. Onde há oportunidade, lá encontramos um tuga. Para confirmar isto, basta lembrar as filas intermináveis para trocar as últimas moedas de escudo em euros e as numerosas sociedades de amigos, que se formam para preencher os boletins do Euromilhões.
Isto a propósito da dificuldade em construir negócios rentáveis em Portugal. Anda meio mundo a revolver o cérebro na busca daquela ideia fantástica, com o fito de se tornar milionário. Ora a questão é que, nos dias que correm, muito dificilmente compensa investir na economia real portuguesa. Basta atentar a uma qualquer tabela de rendibilidades de fundos de investimento internacionais para notar que há uma série de fundos de acções de mercados emergentes que apresentam rendibilidades anualizadas acima dos 40%. Idem, idem para fundos de acções de pequenas e médias companhias europeias, para fundos que investem em acções de companhias petrolíferas, etc e etc. Daqui resulta uma questão mortífera: qual é o louco que vai meter um chavo numa empresa portuguesa, quando pode ganhar 30 ou 40% ao ano, com um investimento inteligente nos mercados bolsistas? E sem ter que enfrentar burocracias, complicações fiscais, problemas laborais e sabe-se lá que mais desventuras.
Um exemplo mais claro. Imagine que ganha 100 mil euros num qualquer sorteio da Santa Casa. O que vai fazer ao dinheiro? Abrir o seu próprio restaurante? Um franchising? Montar uma pequena empresa na área de serviços? Ah, sente-se cheio de confiança e quer arriscar! Muito bem, força, vá em frente. Co me ce por inscrever a sua empresa no RNPC, faça a escritura, inscreva-a nas Finanças. Trate de encontrar instalações, contratar os primeiros colaboradores, sair em busca dos fornecedores e dos clientes. Salte da cama todos os dias, enfrente o trânsito, combata as adversidades, os atrasos na entrega dos equipamentos, as dificuldades na cobrança de facturas, anime os empregados desmotivados... Que fascinante é, isto de ser empreendedor. Agora pense bem? alguém lhe oferece um serviço de gestão de patrimónios que, embora com algum risco, lhe permite ganhar 10, 15 ou 20% ao ano. Capitalizável. Os seus 100 mil euros, em 20 anos, podem valer mais de três milhões de euros. Pois, mais vale pensar duas vezes! Se calhar é mais prudente agarrar-se ao seu actual emprego e ir construindo, discreta e comodamente, a sua fortuna pessoal. Sem chatices, complicações e provavelmente com menos risco do que se meter num negócio que pode dar para o torto e ainda o deixar endividado.
Isto é complicado de dizer, mas é mesmo assim: vale a pena investir em Portugal? Quando se compara o trabalho, as dificuldades, os entraves que complicam a vida empresarial portuguesa, com as facilidades de multiplicar capital através de meia dúzia de cliques - o investimento «online» é uma hoje uma verdadeira «commodity» - quem é que arrisca? Às vezes, julgo que os empreendedores e empresários portugueses são uns loucos românticos. Que não fazem conta ao retorno do seu capital, que não contabilizam os cabelos brancos que estão a ganhar e que, muitas vezes, se dedicam aos seus negócios mais por carolice do que por racionalidade económica. Considerando as dificuldades porque passa, actualmente, a economia portuguesa - e que se vão manter nos próximos dois ou três anos (esta é a versão optimista) - e quando ouço os meus amigos empresários a contarem as dificuldades porque passam para conseguirem pagar os salários no final do mês, só os incentivo a venderem rapidamente as suas empresas e a porem-se ao fresco. E, quando projecto esta ideia para o plano macroeconómico, até fico a pensar que, se calhar, fazia sentido negociarmos com os espanhóis a transformação de Portugal numa Província de Madrid, desde que em contrapartida eles nos ofereçam a sua dinâmica económica. É que, ainda esta semana, o Deustche Bank veio dizer que, em 2025, a Espanha será uma nação mais rica que a Inglaterra e a Alemanha. Nós, com sorte, estaremos empatados com a Ucrânia.