Reformado, eu?
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Reformado, eu?
Reformado, eu?
Hoje, qualquer cidadão activo que se preze e em plena estado das suas faculdades tem uma reforma.
17-06-2005, João Duque
A reforma deixou de ser a compensação do desgaste provocado pela actividade que se teve. É hoje vista como compensação do desgaste da profissão que se tem. Por isso, quem não tem um reforma é porque a sua profissão actual o não desgasta. E se assim é nem salário deveria ter!
Há algo de chique no reformado. As reformas hoje são como as cãs no trintão! Dão charme e todos percebem que quem as ostenta não está “fora de prazo”. E por isso eu também quero estar na moda! De tal modo que estou a pensar que me desdobrem o salário em duas componentes: a do salário propriamente dito e a da reforma. Embora, para ser chique a valer, quero que a componente reforma seja muito maior do que a componente salário. E para evitar um prejuízo pela perda dos dois terços de uma das componentes proponho que o salário seja muito baixo. E entre uma reforma ou um vencimento sempre é melhor a primeira.
Mais seriamente, o que talvez alguns portugueses ainda se não tenham apercebido, é que estalou uma guerra entre duas gerações: a dos mais novos com a dos mais velhos. Os mais novos já compreenderam que o actual sistema não é sustentável e que terão um futuro tenebroso. Terão pela frente quatro trabalhos, a saber: 1) manter um exército de reformados muitos deles activos por muitos e bons anos; 2) preparar as suas reformas, amealhando, em sistema independente, mas mantendo o actual que não será utilizável à data da reforma porque já foi delapidado; 3) amortizar as dívidas das gerações anteriores que hoje já perfazem mais de 60% do PIB anual de Portugal; 4) pagar toda a reconstrução e reposição dos equipamentos e infra-estruturas que a geração dos mais velhos antecipou em utilização. A cumular todos estes problemas a geração mais nova ainda reclama o facto dos mais velhos, reformados no activo, lhes usurparem os lugares de topo nas organizações!
Como irão fazer face os mais novos a estes hercúleos desafios? A forma imediata é a de declaração de guerra aos reformados, limitando-lhes as mordomias e mais tarde as próprias pensões.
Os mais velhos argumentarão que esse endividamento foi feito para construção de infra-estruturas e investimento necessário à geração de riqueza superior ao investimento e com benefício das gerações mais novas. Porém, estamos a descobrir que parte desse endividamento antecipado é para dispêndio de consumos individuais egoístas e que nada têm que ver com o investimento e a geração de riqueza social de efeitos de longo prazo.
Ora é muito difícil pedir a uma geração que pague as dívidas dos seus antepassados quando essas dívidas foram contraídas para bens individuais e de consumo. Peçam a um filho que pague as dívidas da última viagem de arromba ao Brasil contraídas pelo falecido pai e observem a sua resposta! Agora peçam ao mesmo que pague as dívidas contraídas pelo falecido pai e relativas à casa de praia. Qual a diferença?
A geração do poder das últimas duas décadas que está hoje aposentada e reformada foi solidária com os que nunca tinham contribuído para um regime de capitalização e reforma. Mas foi também demasiado perdulária com a atribuição de esquemas de reforma que chocam hoje os que se vêm a braços com muitos encargos e poucos rendimentos. O pior é que a estrutura demográfica actual irá ainda descompensar o sistema no futuro e a geração no poder já não é a mesma. E será tanto mais impiedosa para com os mais velhos quanto mais nova for a cúpula dirigente e mais injusta achar a situação.
José Sócrates, engenheiro, 47 anos
Hoje, qualquer cidadão activo que se preze e em plena estado das suas faculdades tem uma reforma.
17-06-2005, João Duque
A reforma deixou de ser a compensação do desgaste provocado pela actividade que se teve. É hoje vista como compensação do desgaste da profissão que se tem. Por isso, quem não tem um reforma é porque a sua profissão actual o não desgasta. E se assim é nem salário deveria ter!
Há algo de chique no reformado. As reformas hoje são como as cãs no trintão! Dão charme e todos percebem que quem as ostenta não está “fora de prazo”. E por isso eu também quero estar na moda! De tal modo que estou a pensar que me desdobrem o salário em duas componentes: a do salário propriamente dito e a da reforma. Embora, para ser chique a valer, quero que a componente reforma seja muito maior do que a componente salário. E para evitar um prejuízo pela perda dos dois terços de uma das componentes proponho que o salário seja muito baixo. E entre uma reforma ou um vencimento sempre é melhor a primeira.
Mais seriamente, o que talvez alguns portugueses ainda se não tenham apercebido, é que estalou uma guerra entre duas gerações: a dos mais novos com a dos mais velhos. Os mais novos já compreenderam que o actual sistema não é sustentável e que terão um futuro tenebroso. Terão pela frente quatro trabalhos, a saber: 1) manter um exército de reformados muitos deles activos por muitos e bons anos; 2) preparar as suas reformas, amealhando, em sistema independente, mas mantendo o actual que não será utilizável à data da reforma porque já foi delapidado; 3) amortizar as dívidas das gerações anteriores que hoje já perfazem mais de 60% do PIB anual de Portugal; 4) pagar toda a reconstrução e reposição dos equipamentos e infra-estruturas que a geração dos mais velhos antecipou em utilização. A cumular todos estes problemas a geração mais nova ainda reclama o facto dos mais velhos, reformados no activo, lhes usurparem os lugares de topo nas organizações!
Como irão fazer face os mais novos a estes hercúleos desafios? A forma imediata é a de declaração de guerra aos reformados, limitando-lhes as mordomias e mais tarde as próprias pensões.
Os mais velhos argumentarão que esse endividamento foi feito para construção de infra-estruturas e investimento necessário à geração de riqueza superior ao investimento e com benefício das gerações mais novas. Porém, estamos a descobrir que parte desse endividamento antecipado é para dispêndio de consumos individuais egoístas e que nada têm que ver com o investimento e a geração de riqueza social de efeitos de longo prazo.
Ora é muito difícil pedir a uma geração que pague as dívidas dos seus antepassados quando essas dívidas foram contraídas para bens individuais e de consumo. Peçam a um filho que pague as dívidas da última viagem de arromba ao Brasil contraídas pelo falecido pai e observem a sua resposta! Agora peçam ao mesmo que pague as dívidas contraídas pelo falecido pai e relativas à casa de praia. Qual a diferença?
A geração do poder das últimas duas décadas que está hoje aposentada e reformada foi solidária com os que nunca tinham contribuído para um regime de capitalização e reforma. Mas foi também demasiado perdulária com a atribuição de esquemas de reforma que chocam hoje os que se vêm a braços com muitos encargos e poucos rendimentos. O pior é que a estrutura demográfica actual irá ainda descompensar o sistema no futuro e a geração no poder já não é a mesma. E será tanto mais impiedosa para com os mais velhos quanto mais nova for a cúpula dirigente e mais injusta achar a situação.
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