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MensagemEnviado: 15/6/2005 0:32
por __JB__
Frente a frente

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

Eugénio de Andrade

Simplicidade & Beleza

MensagemEnviado: 14/6/2005 23:40
por Toninho,o pedreiro
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.





Eugénio de Andrade

MensagemEnviado: 14/6/2005 22:28
por valves
Eu gosto desta ...

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Simplicidade & Beleza...

MensagemEnviado: 13/6/2005 22:51
por Toninho,o pedreiro
Pêssegos, pêras,laranjas,
morangos,cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
Ó música dos meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.

Não quero, não

MensagemEnviado: 13/6/2005 22:31
por Toninho,o pedreiro
Não quero, não quero não,
ser soldado, nem capitão

Quero um cavalo só meu,
seja baio ou alazão
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.

Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer que não.

não quero, não quero não
ser soldado, nem capitão.

Obrigado Eugénio !!!

MensagemEnviado: 13/6/2005 22:00
por __JB__
Aqui fica mais uma pequena evocação do génio...



À Beira de Água

Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.


Eugénio de Andrade
Os Sulcos da Sede



Adeus

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos eram
os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.


Eugénio de Andrade

O seu sorriso...

MensagemEnviado: 13/6/2005 19:47
por leprechaun
O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
O sorriso foi quem abriu a
porta.
Era um sorriso com
muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa,
ficar
nu dentro daquele
sorriso.
Correr, navegar, morrer
naquele sorriso.


in O Outro Nome da Terra

Imagem

MensagemEnviado: 13/6/2005 16:11
por Ulisses Pereira
"Um amigo é o lugar do mundo onde as maçãs brancas são mais doces".

Eugénio de Andrade provava que a simplicidade na escrita podia ser a melhor das armas. Os seus poemas não o deixarão esquecer.

Ulisses

Eugénio de Andrade

MensagemEnviado: 13/6/2005 16:06
por luiz22
Urgentemente

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade