Um “não” racional
1 Mensagem
|Página 1 de 1
Um “não” racional
Um “não” racional
Helena Garrido
Os inteligentes votam “sim”, os estúpidos votam “não”.
Não há maior arrogância e atitude antidemocrática que a assumida por alguns líderes políticos e analistas sobre a decisão dos franceses e holandeses em relação à proposta de Tratado Constitucional. Mais uma triste imagem da distância entre os tecnocratas da Europa, já que líderes escasseiam, e os europeus, a maior ameaça ao futuro da Europa. O pior inimigo de qualquer projecto é aquele que não quer ver os seus problemas.
As reportagens sobre o ambiente em França durante a campanha do referendo revelam uma sociedade com uma vitalidade política que deveria ser motivo de orgulho. Os cinco livros mais vendidos no “top 10” eram sobre a Constituição Europeia. E desde o taxista à empregada do café, todos discutiam a Europa. Não era exactamente isso que se pretendia na declaração de Laeken? Aproximar os cidadãos da Europa? Pois sim, desde que dissessem que “sim”?
Argumentar que quer a Holanda como a França votaram “não” por razões internas, para desvalorizar as suas decisões, é ridículo. As razões ditas “internas”, com o grau de integração que a União já tem, são muito pouco internas. Todos sabem bem que a delegação de poderes é já hoje muito elevada. Com excepção do que se pode considerar o núcleo central da soberania dos estados, a defesa, segurança e justiça, todas as outras matérias estão em diversos graus condicionadas por decisões da União.
Aqueles que integram a zona euro, como Portugal e os países que agora disseram “não”, delegaram também a sua soberania monetária ao BCE, um dos bancos centrais mais independente do mundo. E, ao decidirem entrar para o euro auto-condicionaram a sua margem de manobra em matéria de política orçamental, já bastante limitada na sua componente fiscal pela livre circulação de capitais.
Durão Barroso, na intervenção sobre o “não” holandês, disse que “a Europa não é o problema mas a solução para os problemas dos cidadãos”. O problema é que, neste tempo, os europeus vêem na Europa mais problemas para a sua vida que soluções.
Medo é a palavra para o “não”. Desde o lançamento do euro que os três grandes, Alemanha França e Itália, têm mais desemprego e menos crescimento que na década de 80. A menor generosidade que se impõe ao Estado Social é em parte determinada pelos problemas de crescimento europeus.
As reformas do Estado Social criaram nos europeus um sentimento de insegurança, associado ao projecto europeu que os está a desiludir. Com o euro e o alargamento foi prometida uma prosperidade que, afinal, não está a chegar.
A chave do sucesso da Europa está na economia, no crescimento e no emprego. Mais importante que uma Constituição é preciso pensar seriamente nos obstáculos ao crescimento das economias, evitando abstracções e falsas questões entre liberalismo e não liberalismo.
Se os líderes europeus insistirem em não perceber o “não” estão a dar o maior contributo para o fim do projecto nascido em 1958. É na economia, mais uma vez, que está a solução para os problemas.
____
Helena Garrido é redactora principal do DE
Helena Garrido
Os inteligentes votam “sim”, os estúpidos votam “não”.
Não há maior arrogância e atitude antidemocrática que a assumida por alguns líderes políticos e analistas sobre a decisão dos franceses e holandeses em relação à proposta de Tratado Constitucional. Mais uma triste imagem da distância entre os tecnocratas da Europa, já que líderes escasseiam, e os europeus, a maior ameaça ao futuro da Europa. O pior inimigo de qualquer projecto é aquele que não quer ver os seus problemas.
As reportagens sobre o ambiente em França durante a campanha do referendo revelam uma sociedade com uma vitalidade política que deveria ser motivo de orgulho. Os cinco livros mais vendidos no “top 10” eram sobre a Constituição Europeia. E desde o taxista à empregada do café, todos discutiam a Europa. Não era exactamente isso que se pretendia na declaração de Laeken? Aproximar os cidadãos da Europa? Pois sim, desde que dissessem que “sim”?
Argumentar que quer a Holanda como a França votaram “não” por razões internas, para desvalorizar as suas decisões, é ridículo. As razões ditas “internas”, com o grau de integração que a União já tem, são muito pouco internas. Todos sabem bem que a delegação de poderes é já hoje muito elevada. Com excepção do que se pode considerar o núcleo central da soberania dos estados, a defesa, segurança e justiça, todas as outras matérias estão em diversos graus condicionadas por decisões da União.
Aqueles que integram a zona euro, como Portugal e os países que agora disseram “não”, delegaram também a sua soberania monetária ao BCE, um dos bancos centrais mais independente do mundo. E, ao decidirem entrar para o euro auto-condicionaram a sua margem de manobra em matéria de política orçamental, já bastante limitada na sua componente fiscal pela livre circulação de capitais.
Durão Barroso, na intervenção sobre o “não” holandês, disse que “a Europa não é o problema mas a solução para os problemas dos cidadãos”. O problema é que, neste tempo, os europeus vêem na Europa mais problemas para a sua vida que soluções.
Medo é a palavra para o “não”. Desde o lançamento do euro que os três grandes, Alemanha França e Itália, têm mais desemprego e menos crescimento que na década de 80. A menor generosidade que se impõe ao Estado Social é em parte determinada pelos problemas de crescimento europeus.
As reformas do Estado Social criaram nos europeus um sentimento de insegurança, associado ao projecto europeu que os está a desiludir. Com o euro e o alargamento foi prometida uma prosperidade que, afinal, não está a chegar.
A chave do sucesso da Europa está na economia, no crescimento e no emprego. Mais importante que uma Constituição é preciso pensar seriamente nos obstáculos ao crescimento das economias, evitando abstracções e falsas questões entre liberalismo e não liberalismo.
Se os líderes europeus insistirem em não perceber o “não” estão a dar o maior contributo para o fim do projecto nascido em 1958. É na economia, mais uma vez, que está a solução para os problemas.
____
Helena Garrido é redactora principal do DE
- Mensagens: 3433
- Registado: 5/10/2004 16:59
1 Mensagem
|Página 1 de 1