O primado da política
Editorial > 2005-05-31 14:00
O primado da política
Pedro Marques Pereira
A Galp entrou ontem numa nova fase da sua vida, com um novo presidente e uma nova administração. Desafortunadamente, a nova fase da vida da Galp parece-se demasiado com a anterior: mudam os nomes mas permanece a incómoda sensação de que, no que toca às empresas controladas pelo Estado, a táctica política tem sempre primazia sobre a estratégia de gestão.
É preocupante que um ministro escolha a equipa de gestão para uma empresa da dimensão da Galp sem que antes tenha definido o plano que pretende colocar em prática. É - ou pelo menos deveria ser - ainda mais estranho que uma equipa de gestão aceite liderar uma empresa sem saber os objectivos que se pretende atingir. Conceda-se, pois, a Manuel Pinho, o benefício da dúvida. Acredite-se que o ministro da Economia já terá definido as suas ideias sobre o modelo que quer implementar no sector e a forma como irá ultrapassar os inúmeros obstáculos que minam o caminho.
Ainda assim, as nomeações levantam questões para as quais seria bom que houvesse uma resposta. Até porque, é bom não esquecer, os maiores accionistas da Galp somos nós, os contribuintes.
Murteira Nabo é um gestor com carreira feita e não fica mal no cargo de ‘chairman’ da Galp. Marques Gonçalves desenvolveu carreira numa multinacional da indústria automóvel, um bom currículo para o CEO de uma empresa com interesses espalhados por diversas partes do globo.
Já Fernando Gomes, um dos membros da nova comissão executiva, custa mais a engolir. A avaliação do seu mandato como presidente da Câmara do Porto foi feita pelos próprios munícipes quando deram a autarquia a Rui Rio. A sua experiência no Governo de António Guterres, dificilmente poderia ter corrido pior. Não se lhe reconhecem excepcionais méritos de gestão e muito menos de diplomacia, numa altura em que o futuro da empresa passa por um processo negocial decisivo com os italianos da Eni.
Seria fácil compreender a escolha se Fernando Gomes ficasse remetido a um lugar sem pelouro, de comissário político. No entanto, sabe-se agora, Gomes vai liderar as pastas mais determinantes para o crescimento da empresa, como a exploração de petróleo e a Galp Power, a unidade que vai assumir a concorrência com a EDP na produção de electricidade e, possivelmente, no gás. Ficará ainda responsável pela gestão do património imobiliário do grupo, a única área em que a experiência passada de Fernando Gomes tem alguma relevância. Resta saber se um passado de autarca é a melhor referência para um gestor de imobiliário.
O primado da política
Pedro Marques Pereira
A Galp entrou ontem numa nova fase da sua vida, com um novo presidente e uma nova administração. Desafortunadamente, a nova fase da vida da Galp parece-se demasiado com a anterior: mudam os nomes mas permanece a incómoda sensação de que, no que toca às empresas controladas pelo Estado, a táctica política tem sempre primazia sobre a estratégia de gestão.
É preocupante que um ministro escolha a equipa de gestão para uma empresa da dimensão da Galp sem que antes tenha definido o plano que pretende colocar em prática. É - ou pelo menos deveria ser - ainda mais estranho que uma equipa de gestão aceite liderar uma empresa sem saber os objectivos que se pretende atingir. Conceda-se, pois, a Manuel Pinho, o benefício da dúvida. Acredite-se que o ministro da Economia já terá definido as suas ideias sobre o modelo que quer implementar no sector e a forma como irá ultrapassar os inúmeros obstáculos que minam o caminho.
Ainda assim, as nomeações levantam questões para as quais seria bom que houvesse uma resposta. Até porque, é bom não esquecer, os maiores accionistas da Galp somos nós, os contribuintes.
Murteira Nabo é um gestor com carreira feita e não fica mal no cargo de ‘chairman’ da Galp. Marques Gonçalves desenvolveu carreira numa multinacional da indústria automóvel, um bom currículo para o CEO de uma empresa com interesses espalhados por diversas partes do globo.
Já Fernando Gomes, um dos membros da nova comissão executiva, custa mais a engolir. A avaliação do seu mandato como presidente da Câmara do Porto foi feita pelos próprios munícipes quando deram a autarquia a Rui Rio. A sua experiência no Governo de António Guterres, dificilmente poderia ter corrido pior. Não se lhe reconhecem excepcionais méritos de gestão e muito menos de diplomacia, numa altura em que o futuro da empresa passa por um processo negocial decisivo com os italianos da Eni.
Seria fácil compreender a escolha se Fernando Gomes ficasse remetido a um lugar sem pelouro, de comissário político. No entanto, sabe-se agora, Gomes vai liderar as pastas mais determinantes para o crescimento da empresa, como a exploração de petróleo e a Galp Power, a unidade que vai assumir a concorrência com a EDP na produção de electricidade e, possivelmente, no gás. Ficará ainda responsável pela gestão do património imobiliário do grupo, a única área em que a experiência passada de Fernando Gomes tem alguma relevância. Resta saber se um passado de autarca é a melhor referência para um gestor de imobiliário.