Editorial > 2005-04-26 13:59
O país mudou?
António Costa
O país está mergulhado numa crise económica e social - a política já lá vai - da qual não sairá tão cedo. E os números do Banco de Portugal relativos ao primeiro trimestre de 2005 deixam perceber que se estávamos mal, pior ficámos.
É que, por mais discursos de optimismo, a retoma da economia nacional está mais dependente da correcção de problemas estruturais do que da confiança dos agentes económicos.
Traçado um quadro muito geral, é possível chegar à conclusão de que, nos últimos três/quatro anos, nada de estrutural mudou. O Governo de coligação Durão/Portas ensaiou uma política de austeridade, depois do regabofe do último executivo de Guterres. Mas foi sol de pouca dura e demasiado centrado na política orçamental. Do lado da economia, pouco ou nada. Assim, o que mudou, foi para pior. O défice orçamental anda hoje na casa dos 6% da riqueza criada, o défice externo voltou a aumentar, bastando para isso uma pequena, muito pequena, recuperação do consumo, e o desemprego bateu o tecto dos 7%, antecipando-se que por aí ficará pelo menos ao longo de 2005. Ou seja, o país mudou para pior. No entanto, para quem ouviu a intervenção de Jorge Sampaio, ontem na Assembleia da República, por ocasião dos 31 anos do 25 de Abril, o retrato é outro.
É preciso salientar os avisos de Jorge Sampaio. Falou dos sacrifícios - que têm de ser repartidos por todos - e da necessidade da revisão do Pacto de Estabilidade não induzir uma política de laxismo orçamental. Portanto, alguns dos alertas deixados em anos anteriores estavam lá. Mas o tom, esse, foi diferente, mais suave do que as circunstâncias económicas, sociais, mas também políticas impunham. Porque o país mudou para pior.
O Governo de José Sócrates ouviu o discurso que queria. E subscreveria cada uma das suas páginas. Sampaio chamou a atenção para problemas aos quais urge dar resposta, mas não foi incisivo, como em outros momentos, a identificar os seus responsáveis. Disse que cada um dos intervenientes políticos deveria assumir as suas responsabilidades, mas foi mais a pensar no passado recente e menos no futuro próximo.
Jorge Sampaio, como ele próprio o reconheceu, exerce o cargo de Presidente da República numa fase particularmente difícil. Do País e do mundo. E no último ano esteve no centro da decisão política. Deu continuidade a um governo de coligação PSD/CDS-PP e, passados quatro meses, demitiu-o. Abrindo a porta a um novo ciclo político, com a maioria absoluta de Sócrates.
Percebe-se, neste quadro, o fio condutor da intervenção do Presidente da República. Defendeu as suas opções e deixou o seu julgamento para a história. No seu último discurso do 25 de Abril, quis ser pacificador e não quis abrir novas feridas. Mas o momento exigia outra intervenção.
arcosta@economicasgps.com
Comentários
Hugo Zão
Ai, que pessimismo, o Eng. Sócrates está farto de dizer que, com a restauração da confiança na economia, a coisa agora vai...
O Independente
Como se sabe, o Dr Jorge Sampaio é socialista e essa tendência sempre foi evidente ao longo das suas Presidências...diz que é o Presidente de todos os Portugueses mas eu não concordo. Pelo menos meu não é! Nem nunca foi. Sócrates tem uma divida para com o Presidente, já que foi ele que conseguiu a ambicionada Maioria absoluta. A sua estratégia foi elaborada com grande mestria e os lideres do PS e do PSD caíram como patos. Em 60 dias de Governo com Maioria absoluta nada de novo se vê, a não ser a revogação de legislação aprovada pelo anterior Governo, seja boa ou má. Agora vem o Exmo Sr Presidente da República pedir sacrificios. Mas o que é que temos passado até agora? Querem mais sacrificios? Para quê? Peçam sacrificios a quem não passou (nem passa) por eles e enriquece com as dificuldades dos outros. É exactamente por esses oportunistas que se deve começar. Analisem os sinais exteriores de riqueza dos Médicos, Advogados, Politicos, Autarcas, Jogadores de Futebol (inadmissivel que gozem beneficios fiscais por profissão de desgaste rápido), Empresários de todos os sectores, Trabalhadores por conta própria, etc etc etc. Controlem todos esses senhores que vivem à grande e ostentam relevantes bens materiais em nome de soc. de leasing e de empresas em Off-Shore. Verificarão que tudo será mais justo e grande parte do défice será colmatado. Para estas desigualdades o Sr Presidente não lança o alerta...cala-se e assobia para o ar. É por estas e por outras que considero a figura do Presidente perfeitamente dispensável no panorama nacional...de pouco serve, a não ser para umas visitas de Estado e de representação. Assim vai este Portugalzinho...mal, como sempre.
vg
O PR está em fim de mandato e a a justificar-se.Ele sabe ,como todos nós ,os que sabemos,que o "Titanic afunda e a orquestra toca a valsa do plano".Quem vier ,a seguir, que trate
nocas
Vocês já me estão a irritar com esta ladaínha recorrente do Presidente da República que não intervém, ou que devia ter intervido, ou que é dispensável... Antes de escreverem a primeira coisa que vos passa pela cabeça (isto vale para o autor e para os comentaristas), estudem, ESTUDEM meus senhores! Os poderes do Presidente da República estão definidos na Constituição, temos um sistema semi-presidencial de pendor parlamentar. O Presidente não é o paizinho para castigar o governo e, sobretudo, NÃO GOVERNA, pelo que se agradece que intervenha apenas o estritamente necessário. Estamos bem servidos com este sistema, não precisamos de "saber quem manda" como diz o Manuel Monteiro, nem precisamos de primas donnas estilo Soares ou Cavaco Silva. Que seca!
arthur
Caro: sr A.Costa Continuar a pedir sacrificios ao "povão" é um ultraje... este carpir vem sendo usado desde o inicio do consulado de SALAZAR ..Basta... de usarem e abusarem das mesmas "bestas" de carga!!!Os acrificios que comecem pelos responsaveis da nossa eterna desgraça.
mocas
quer dizer então que este PR não é o mesmo que havia em finais de novembro passado?
arthur
Noquinhas... não se irrete... olhe pela sua suadinha... O PR... efectivamente ( ao contario do que pensa) é o "nosso" paizinho.. só que, como todos os bons pais, deve tratar todos os filhinhos por IGUAL... Não acha ou SECAS?
cCheli&Chela
Décimo Sétimo ou Oitavo episódio da Abrilada: o PR demite um governo com maioria na Assembleia, porque o PM não tinha "estaleca", não coordenava os Ministros, enfim uma triste amostra do que deve ser um governo democrático. Meteu lá um tecnológico que, para além de prometer 150.000 empregos, vai empregar todos os tecnólogos deste país. Não se sabe bem a fazer o quê..Bom já sabemos: vão dar corpo ao tal plano tecnológico que, faz-se, fazendo... O tal défice de que falaste, Presidente Sampaio, esse, vai ser óbviamente atacado por outro plano a 5,10, ou 20 anos, o chamado Plano Emergente de Ataque Tecnológico e Financeiro ao Excesso de Despesa Público (PEATFDP). Tenhamos ainda consciência que nos Negócios Estrangeiros anda por lá uma personagem que, depois de dizer raios e coriscos dos Yankees, acabou por ir beijar a mão à Condoleeza. Aguardam-se cenas dos próximos capítulos....
A VÍTIMA
NÃO QUERO AINDA FALAR SOBRE O GOVERNO DE SÓCRATES. É CEDO. MAS NÃO LHA DOU SEIS MESES PARA PENSAR EM COMEÇAR A FA- ZER. MAS AO SR. PR, DIGO-LHE, BASTA. SACRIFICIOS A QUEM? O SR. EM 2 MANDATOS DEIXOUY ENRIQUECER TODA A ESCUMALHA QUE NUNCA PRODUZIU NADA DE NADA, DEIXOU ASSALTAR O BOLSO DOS PEQUENOS, SEM LEVANTAR UM DEDO E VEM AGORA DE CRAVO AO PEITO, QUANDO ESTÁ PARA SAIR COM TODOS OS DIREITOS QUE LHE DÁ O CARGO, POR NÃO ATACAR QUEM DEVIA .PEDIR SACRI- FÍCIOS AOS ÚNICOS SACRIFICADOS ETERNOS DESTA COISA QUE CHAMAMOS PORTUGAL É COMO O NOSSO LEAL ESCUDEIRO A QUEM PA- GAMOS DINHEIRO E HONRARIAS NOS ESPE- TAR UMA RAJADA DE TIROS DE BAZUCA PELAS COSTAS.
M.Ferreira
Realmente também acho que que o que se escreve neste espaço NÃO DEVE IRRITAR NINGUÉM. Estando ou não de acordo, podemos expressar a nossa opinião e... ponto final. Agora que o snr. Editorialista António Costa é "useiro e veseiro" em provocações, isso já os leitores se deram conta. É assim que o "homem" pensa, é assim que ele escreve, é assim que que ele demonstra o seu facciosismo. "Regabofe", como o snr. A.Costa diz, só o dos governos socialistas (e dos socialistas em geral - incluindo o snr.P.R.). Os "OUTROS" são todos uns "santinhos"!. O "homem" está a precisar de uma "reciclagem". Meu caro snr. "Independente": o senhor surpreendeu-me com a parte final do seu comentário!!. Afinal (excluindo o que diz sobre o P.R. actual)- e se mo permite - eu subscrevo o que diz. Mas lá que admirado estou, ai isso estou. Não costumo ler, escritas por si, coisas destas..., ainda bem..