Paulo Azevedo - Um falso ponderado
1 Mensagem
|Página 1 de 1
Paulo Azevedo - Um falso ponderado
Paulo Azevedo - Um falso ponderado
É o filho do meio do clã Azevedo. E aos 37 anos de idade é considerado como um dos melhores gestores portugueses. Percebe-se porquê. Paulo, o gestor dos tempos modernos de modos simples e o “tipo porreiro”, como os amigos o tratam, gere milhões e tem sobre si o estigma do novo homem Sonae. Um dado é certo, Paulo podia ser gestor em Portugal, ou no estrangeiro.
22-04-2005, Elisabete Felismino
“Pai, você foi meu herói, meu bandido
Hoje é mais, muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sózinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
Pai, paz.”
Fábio Júnior
Montreal. Canadá. Março de 2004. O presidente da Domtar, empresa canadiana interessada na privatização da Portucel fala do grupo concorrente português, a Sonae, e tece os melhores elogios ao empresário. Simpático, um senhor. Os elogios são para Paulo Azevedo, o homem que impressionou os canadianos.
Do outro lado do mundo, tal como cá, Paulo Azevedo deixa marcas. Aquele seu jeito simples, descontraído, o olhar simpático e o sorriso “gaiato” que lhe baila amiúde nos lábios são a antítese do tradicional empresário português. Paulo, 37 anos, faz parte de uma nova geração de gestores portugueses. E António Borges, o vice-presidente da Goldman Sachs não lhe poupa elogios: “Como o Paulo só haverão mais 3 ou 4 empresários em Portugal”. São os homens do futuro. E curiosamente passaram todos pelo estrangeiro no seu período de formação.
Filho do meio de uma família convencional, pai engenheiro químico e mãe farmacêutica, Paulo “emigra” aos 13 anos para um colégio interno em Inglaterra. Vivia-se o período da revolução em Portugal e o miúdo início da adolescência que estudava no Porto no colégio inglês, vê-se de armas e bagagens fora de casa. Hoje, Paulo Azevedo recorda esse tempo com saudade, ainda que admita que tenham existido noites em que uma “pessoa fica mais tristinha”, mas sublinha que “foi uma experiência muito engraçada”. “Era um colégio só de rapazes e as casas eram hierarquizadas, cada um de nós fazia um pouco de tudo. Foi uma experiência muito enriquecedora, aprende-se a sobreviver. E fazíamos muito desporto”, recorda. Uma prática que o Paulo nunca havia de deixar. Futebol e rugby são jogos que adora praticar, ainda que o próprio reconheça que já se “devia ter deixado disso”, mas o gostinho está lá. Aliás, o mesmo que o leva a jogar ténis e squash. E dizem os adversários, ou colegas de equipa, “é de uma entrega total”. Mas as idas ao Solinca são também uma prática corrente e quando o tempo aperta, não é difícil encontrá-lo a correr pelas ruas da Foz, no Porto, perto de casa, por volta da meia-noite com o seu cão.
Depois de Inglaterra, prossegue a sua carreira académica na Suíça. Por influência do pai, ou talvez não, envereda por engenharia química. “O meu pai sempre teve muita influência no que fiz, mas não foi por sua vontade expressa que fiz o mesmo curso que ele”, afirma. Não se sabe se foi ou não, mas a grande verdade é que é na gestão que o Paulo há-de dar cartas.
Francisco Pinto Balsemão cedo percebeu o gestor que se estava a talhar. E foi assim que um dia lhe propôs trocar o grupo Sonae pela Imprensa. Paulo Azevedo recorda esse episódio: “Ainda muito novo, estava mesmo a começar e acho que ele o disse na brincadeira, de qualquer forma senti-me lisonjeado”. Paulo Azevedo tinha então em mãos o dossiê da TVI que a Sonae havia de “perder” para a Media Capital.
Na Sonaecom, o tratamento é informal. Muitos dos seus colaboradores tratam-no por tu e a gravata não faz parte do dia a dia destes homens. O Paulo, de resto, cultiva o informalismo. Mas nem por isso deixa de ser exigente. Muito pelo contrário. Quem com ele trabalha diz que “as reuniões com ele são sempre do mais produtivo que existe, não existem conversas ocas, essas ficam para os almoços, ou para os momentos de descontracção”. Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque.
Adepto da formação contínua, o Paulo acha que esta é tão importante como a formação académica, se não mais. Quando de repente se vê com uma empresa de telecomunicações ao colo, Paulo ingressa em Stanford onde tira um curso de tecnologias de informação. Hoje, diz, continuo-a a formar-se, mas “mais em áreas de liderança, no redesenho do modelo das estratégias”.
Afinal de contas, hoje tem outras missões. Administrador da Sonae SGPS e presidente da Sonaecom, são áreas que não pode descurar. Apesar do seu jeito simples e de se falar cada vez mais em modelos de gestão simplificados, Paulo Azevedo diz que “gosta de sistemas organizativos complexos, o que aparentemente é visto como uma contradição”. E dá como exemplo, o caso que melhor conhece: “a Sonaecom já conseguiu ser muito inovadora, teve um crescimento explosivo e muito rigoroso e quando foi preciso eficácia, arregaçamos as mangas e deitámos mãos ao controlo de custos. Isto é um exemplo de um gesto organizativo”.
Amigos e colaboradores são incapazes de lhe apontar um defeito, mas o Paulo, esse conhece-se como ninguém e embora não goste de falar de si, sempre deixa escapar que “é bastante ambicioso”. No caso dele, garantem os amigos “isso é tudo menos um defeito”. Ainda sobre si, sempre adianta que é “muito racional, muito analítico”, mas as suas decisões são também “muito intuitivas”. “Curiosamente só me apercebo disso à posteriori. Aliás, todos os perfis psicológicos que faço, revelam que ‘sou um falso ponderado’”, confessa.
Sobre o espírito “homem Sonae”, o Paulo faz uma revelação curiosa: “Creio que, neste momento, existe já uma diversidade de ‘homens Sonae’, e isso é bom”. É a evolução dos tempos aplicada ao estilo Sonae, o que tem efeitos benéficos”. E reconhece: “Se calhar dentro da Sonae somos os mais informais, e os mais criativos”.
Mas da sua estada na Europa, o Paulo não trouxe, só a capacidade de gestão, pois foi na Suíça que conheceu Nicole, a mulher, com quem tem três filhos. José Marquitos, até há bem pouco tempo um homem Sonae e administrador do Público, diz que “o Paulo tem na família a veia inspiradora e os irmãos e os pais são também um importante pilar”. O próprio Paulo garante que toda a família vai “a maior parte dos fins de semana para o Marco de Canavezes”, onde todos se reúnem.
Amigo de seu amigo, Paulo tem amigos dentro e fora da Sonae. Aliás, o seu núcleo de amigos é bastante diversificado. Osório de Castro, advogado do grupo, e seu padrinho de casamento é um deles. Os outros são dois ex-homens Sonae, José Marquitos e Carlos Moreira da Silva, ex- CEO da Sonae Indústria. De resto, diz quem o conhece bem “que os amigos dentro da empresa nunca tiveram tratamento especial”. A justiça, é pois outra das características deste homem. O mesmo que vai ao dragão ver o “seu” Porto e que, na final de Sevilha, não teve pejo em arrancar da camisola do F.C.P., o símbolo da Portugal Telecom. Afinal, não podia fazer publicidade ao seu grande concorrente. É ainda o mesmo que durante o Europeu no estádio do Dragão, assistiu a um jogo da Alemanha na companhia do filho, devidamente equipado, e ele, Paulo, de cara pintada com as cores vermelha, amarela e preta. Depois de Portugal, vinha a Alemanha, a terra natal de Nicole.
Artur Santos Silva, Presidente não executivo do Banco Português de Investimento elogia-o longamente: “É dos mais talentosos gestores que o país tem. Sempre trabalhou no duro e portanto está por mérito próprio no topo do grupo Sonae”. E prossegue: “Paulo Azevedo é capaz de estudar todo e qualquer assunto e de o dominar, como aliás eu próprio tive oportunidade de verificar há dez anos atrás, quando pela primeira vez, a Sonae e o BPI estudaram conjuntamente um dossiê sobre telecomunicações”. Aliás, acrescenta Artur Santos Silva, não podemos esquecer que “estudou também em profundidade o dossiê da Portucel do qual a Sonae acabou por ser excluída”. O tal negócio de que a Sonae SGPS saiu com uma vitória financeira.
E para que não restem grandes dúvidas da dimensão humana de Paulo Azevedo, o banqueiro acrescenta: “Não conheço o Paulo muito bem, aquilo que digo é pelo que vejo de reuniões que temos tido e sobretudo de pessoas que me falam e que trabalham directamente com ele. É culto, extremamente inteligente, afectivo e um homem extremamente simples”.
Moreira da Silva e António Borges consideram-no um “homem invulgar, extremamente culto e inteligente”.
Adepto de férias aventureiras, Paulo Azevedo tem nos últimos tempos optado pelos tradicionais resorts, “as crianças a isso obrigam”, mas confessa que gosta mais “de férias sempre em movimento”.
Curiosa e bem demonstrativa desta sua forma de estar foi a lua de mel que acabou por ter. Paulo e a mulher pegaram numa velhinha Combi Volkswagen e partiram rumo à Europa acampando aqui e ali. Foram quase dois meses de aventura.
Apesar de gostar de uns bons jantares, principalmente de uma boa cozinha francesa, Marquitos diz que “costumo gozar com o Paulo por ele comer imensas vezes por dia e sempre iogurtes e bananas, visto que eu sou fã de tripas à moda do Porto e de cozidos à portuguesa”. E adianta: “Ultimamente temos ido de férias juntos para a neve e o Paulo é sempre o elemento aglutinador”. E acrescenta: “E sobretudo leva sempre boa música no seu Ipod.” Paulo Azevedo é bastante ecléctico no estilo de música, mas é fã de música brasileira.
Marquitos recorda ainda que é das poucas pessoas que pode fumar no gabinete do homem forte da Sonaecom.
Episódios curiosos na vida deste homem estão mais ligados ao seu início de carreira dentro do grupo. Muitas vezes, havia quem não o reconhecesse e a verdade é que Paulo Azevedo nunca puxou dos galões. Uma postura que muitos outros, eventualmente não teriam.
Para trás e dentro da Sonae, bem ao estilo das carreiras em zigue-zague, Paulo Azevedo integrou a Sonae Indústria, Sonae Distribuição no projecto inicial da Max-Mat. Estava nessa altura em part-time na empresa. Mais tarde regressa a tempo inteiro com a responsabilidade de planeamento e controlo de gestão. Segue-se a reorganização do grupo e a nomeação para a administração da Modelo - Continente, até que finalmente entra nas tecnologias de informação, na constituição da Optimus.
PS: O gestor Paulo Azevedo é, por acaso, filho de Belmiro de Azevedo.
Parecidos, mas pouco...
“Quando cheguei ao MBA, não senti grandes dificuldades. Grande parte daquilo que nos ensinavam eu tinha visto meu pai fazer a vida toda”. É assim de forma prática que Paulo Azevedo, aborda a questão de ter um pai que dá pelo nome de Belmiro de Azevedo. Apesar do peso que esse nome lhe pudesse acarretar, quem conhece bem o filho do meio do engenheiro, como é tratado Belmiro dentro da Sonae, diz que este “sempre se soube resguardar”. Fontes próximas aos dois garantem que o “Paulo pode mesmo chegar mais longe que Belmiro”. Paulo, diz que é “um privilégio ter um líder como eng. Belmiro, que acredita muito na formação”. António Borges, diz que o filho de Belmiro, que “podia exercer um cargo de gestão em qualquer importante multinacional, tem sabido como ninguém gerir o facto de trabalhar com o pai”. Ou seja, “é realmente invulgar como o Paulo sabe gerir muito bem a gestão dependente, sem nunca esquecer que o grupo tem um líder e que esse líder é o seu pai”.
Em termos empresariais, António Borges diz que são “como a água e o vinho”. Belmiro faz parte da geração dos empresários fundadores e o Paulo “é o gestor que constrói as suas equipas e põe qualquer negócio em andamento”. E adianta: “O Paulo é ponderado nas suas decisões, mas é um gestor que arrisca, que gosta de fazer apostas, no fundo, que gosta de gerir com tudo o que isso implica”.
Amigos próximos garantem que os dois têm uma capacidade invulgar de trabalho, mas aqui talvez o pai seja mais forte, e rematam: “O eng. Belmiro é um tractor, o Paulo é mais débil fisicamente”.
De resto, o Paulo é mais conciliador e sobretudo melhor ouvinte. Belmiro de Azevedo é conhecido pelo seu temperamento emotivo, mas há quem garanta que, com a entrada do Paulo no conselho de administração, “Belmiro de Azevedo é um homem diferente, mais ponderado, se é que este é um adjectivo que se pode aplicar ao homem que gosta de dizer o que lhe vai na alma”.
Para muitos dos que o rodeiam, a sucessão do grupo Sonae não parece levantar muitas dúvidas. É que, afinal, um dos melhores gestores portugueses, veste a camisola Sonae e é filho do patrão. Belmiro que se cuide.
É o filho do meio do clã Azevedo. E aos 37 anos de idade é considerado como um dos melhores gestores portugueses. Percebe-se porquê. Paulo, o gestor dos tempos modernos de modos simples e o “tipo porreiro”, como os amigos o tratam, gere milhões e tem sobre si o estigma do novo homem Sonae. Um dado é certo, Paulo podia ser gestor em Portugal, ou no estrangeiro.
22-04-2005, Elisabete Felismino
“Pai, você foi meu herói, meu bandido
Hoje é mais, muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sózinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
Pai, paz.”
Fábio Júnior
Montreal. Canadá. Março de 2004. O presidente da Domtar, empresa canadiana interessada na privatização da Portucel fala do grupo concorrente português, a Sonae, e tece os melhores elogios ao empresário. Simpático, um senhor. Os elogios são para Paulo Azevedo, o homem que impressionou os canadianos.
Do outro lado do mundo, tal como cá, Paulo Azevedo deixa marcas. Aquele seu jeito simples, descontraído, o olhar simpático e o sorriso “gaiato” que lhe baila amiúde nos lábios são a antítese do tradicional empresário português. Paulo, 37 anos, faz parte de uma nova geração de gestores portugueses. E António Borges, o vice-presidente da Goldman Sachs não lhe poupa elogios: “Como o Paulo só haverão mais 3 ou 4 empresários em Portugal”. São os homens do futuro. E curiosamente passaram todos pelo estrangeiro no seu período de formação.
Filho do meio de uma família convencional, pai engenheiro químico e mãe farmacêutica, Paulo “emigra” aos 13 anos para um colégio interno em Inglaterra. Vivia-se o período da revolução em Portugal e o miúdo início da adolescência que estudava no Porto no colégio inglês, vê-se de armas e bagagens fora de casa. Hoje, Paulo Azevedo recorda esse tempo com saudade, ainda que admita que tenham existido noites em que uma “pessoa fica mais tristinha”, mas sublinha que “foi uma experiência muito engraçada”. “Era um colégio só de rapazes e as casas eram hierarquizadas, cada um de nós fazia um pouco de tudo. Foi uma experiência muito enriquecedora, aprende-se a sobreviver. E fazíamos muito desporto”, recorda. Uma prática que o Paulo nunca havia de deixar. Futebol e rugby são jogos que adora praticar, ainda que o próprio reconheça que já se “devia ter deixado disso”, mas o gostinho está lá. Aliás, o mesmo que o leva a jogar ténis e squash. E dizem os adversários, ou colegas de equipa, “é de uma entrega total”. Mas as idas ao Solinca são também uma prática corrente e quando o tempo aperta, não é difícil encontrá-lo a correr pelas ruas da Foz, no Porto, perto de casa, por volta da meia-noite com o seu cão.
Depois de Inglaterra, prossegue a sua carreira académica na Suíça. Por influência do pai, ou talvez não, envereda por engenharia química. “O meu pai sempre teve muita influência no que fiz, mas não foi por sua vontade expressa que fiz o mesmo curso que ele”, afirma. Não se sabe se foi ou não, mas a grande verdade é que é na gestão que o Paulo há-de dar cartas.
Francisco Pinto Balsemão cedo percebeu o gestor que se estava a talhar. E foi assim que um dia lhe propôs trocar o grupo Sonae pela Imprensa. Paulo Azevedo recorda esse episódio: “Ainda muito novo, estava mesmo a começar e acho que ele o disse na brincadeira, de qualquer forma senti-me lisonjeado”. Paulo Azevedo tinha então em mãos o dossiê da TVI que a Sonae havia de “perder” para a Media Capital.
Na Sonaecom, o tratamento é informal. Muitos dos seus colaboradores tratam-no por tu e a gravata não faz parte do dia a dia destes homens. O Paulo, de resto, cultiva o informalismo. Mas nem por isso deixa de ser exigente. Muito pelo contrário. Quem com ele trabalha diz que “as reuniões com ele são sempre do mais produtivo que existe, não existem conversas ocas, essas ficam para os almoços, ou para os momentos de descontracção”. Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque.
Adepto da formação contínua, o Paulo acha que esta é tão importante como a formação académica, se não mais. Quando de repente se vê com uma empresa de telecomunicações ao colo, Paulo ingressa em Stanford onde tira um curso de tecnologias de informação. Hoje, diz, continuo-a a formar-se, mas “mais em áreas de liderança, no redesenho do modelo das estratégias”.
Afinal de contas, hoje tem outras missões. Administrador da Sonae SGPS e presidente da Sonaecom, são áreas que não pode descurar. Apesar do seu jeito simples e de se falar cada vez mais em modelos de gestão simplificados, Paulo Azevedo diz que “gosta de sistemas organizativos complexos, o que aparentemente é visto como uma contradição”. E dá como exemplo, o caso que melhor conhece: “a Sonaecom já conseguiu ser muito inovadora, teve um crescimento explosivo e muito rigoroso e quando foi preciso eficácia, arregaçamos as mangas e deitámos mãos ao controlo de custos. Isto é um exemplo de um gesto organizativo”.
Amigos e colaboradores são incapazes de lhe apontar um defeito, mas o Paulo, esse conhece-se como ninguém e embora não goste de falar de si, sempre deixa escapar que “é bastante ambicioso”. No caso dele, garantem os amigos “isso é tudo menos um defeito”. Ainda sobre si, sempre adianta que é “muito racional, muito analítico”, mas as suas decisões são também “muito intuitivas”. “Curiosamente só me apercebo disso à posteriori. Aliás, todos os perfis psicológicos que faço, revelam que ‘sou um falso ponderado’”, confessa.
Sobre o espírito “homem Sonae”, o Paulo faz uma revelação curiosa: “Creio que, neste momento, existe já uma diversidade de ‘homens Sonae’, e isso é bom”. É a evolução dos tempos aplicada ao estilo Sonae, o que tem efeitos benéficos”. E reconhece: “Se calhar dentro da Sonae somos os mais informais, e os mais criativos”.
Mas da sua estada na Europa, o Paulo não trouxe, só a capacidade de gestão, pois foi na Suíça que conheceu Nicole, a mulher, com quem tem três filhos. José Marquitos, até há bem pouco tempo um homem Sonae e administrador do Público, diz que “o Paulo tem na família a veia inspiradora e os irmãos e os pais são também um importante pilar”. O próprio Paulo garante que toda a família vai “a maior parte dos fins de semana para o Marco de Canavezes”, onde todos se reúnem.
Amigo de seu amigo, Paulo tem amigos dentro e fora da Sonae. Aliás, o seu núcleo de amigos é bastante diversificado. Osório de Castro, advogado do grupo, e seu padrinho de casamento é um deles. Os outros são dois ex-homens Sonae, José Marquitos e Carlos Moreira da Silva, ex- CEO da Sonae Indústria. De resto, diz quem o conhece bem “que os amigos dentro da empresa nunca tiveram tratamento especial”. A justiça, é pois outra das características deste homem. O mesmo que vai ao dragão ver o “seu” Porto e que, na final de Sevilha, não teve pejo em arrancar da camisola do F.C.P., o símbolo da Portugal Telecom. Afinal, não podia fazer publicidade ao seu grande concorrente. É ainda o mesmo que durante o Europeu no estádio do Dragão, assistiu a um jogo da Alemanha na companhia do filho, devidamente equipado, e ele, Paulo, de cara pintada com as cores vermelha, amarela e preta. Depois de Portugal, vinha a Alemanha, a terra natal de Nicole.
Artur Santos Silva, Presidente não executivo do Banco Português de Investimento elogia-o longamente: “É dos mais talentosos gestores que o país tem. Sempre trabalhou no duro e portanto está por mérito próprio no topo do grupo Sonae”. E prossegue: “Paulo Azevedo é capaz de estudar todo e qualquer assunto e de o dominar, como aliás eu próprio tive oportunidade de verificar há dez anos atrás, quando pela primeira vez, a Sonae e o BPI estudaram conjuntamente um dossiê sobre telecomunicações”. Aliás, acrescenta Artur Santos Silva, não podemos esquecer que “estudou também em profundidade o dossiê da Portucel do qual a Sonae acabou por ser excluída”. O tal negócio de que a Sonae SGPS saiu com uma vitória financeira.
E para que não restem grandes dúvidas da dimensão humana de Paulo Azevedo, o banqueiro acrescenta: “Não conheço o Paulo muito bem, aquilo que digo é pelo que vejo de reuniões que temos tido e sobretudo de pessoas que me falam e que trabalham directamente com ele. É culto, extremamente inteligente, afectivo e um homem extremamente simples”.
Moreira da Silva e António Borges consideram-no um “homem invulgar, extremamente culto e inteligente”.
Adepto de férias aventureiras, Paulo Azevedo tem nos últimos tempos optado pelos tradicionais resorts, “as crianças a isso obrigam”, mas confessa que gosta mais “de férias sempre em movimento”.
Curiosa e bem demonstrativa desta sua forma de estar foi a lua de mel que acabou por ter. Paulo e a mulher pegaram numa velhinha Combi Volkswagen e partiram rumo à Europa acampando aqui e ali. Foram quase dois meses de aventura.
Apesar de gostar de uns bons jantares, principalmente de uma boa cozinha francesa, Marquitos diz que “costumo gozar com o Paulo por ele comer imensas vezes por dia e sempre iogurtes e bananas, visto que eu sou fã de tripas à moda do Porto e de cozidos à portuguesa”. E adianta: “Ultimamente temos ido de férias juntos para a neve e o Paulo é sempre o elemento aglutinador”. E acrescenta: “E sobretudo leva sempre boa música no seu Ipod.” Paulo Azevedo é bastante ecléctico no estilo de música, mas é fã de música brasileira.
Marquitos recorda ainda que é das poucas pessoas que pode fumar no gabinete do homem forte da Sonaecom.
Episódios curiosos na vida deste homem estão mais ligados ao seu início de carreira dentro do grupo. Muitas vezes, havia quem não o reconhecesse e a verdade é que Paulo Azevedo nunca puxou dos galões. Uma postura que muitos outros, eventualmente não teriam.
Para trás e dentro da Sonae, bem ao estilo das carreiras em zigue-zague, Paulo Azevedo integrou a Sonae Indústria, Sonae Distribuição no projecto inicial da Max-Mat. Estava nessa altura em part-time na empresa. Mais tarde regressa a tempo inteiro com a responsabilidade de planeamento e controlo de gestão. Segue-se a reorganização do grupo e a nomeação para a administração da Modelo - Continente, até que finalmente entra nas tecnologias de informação, na constituição da Optimus.
PS: O gestor Paulo Azevedo é, por acaso, filho de Belmiro de Azevedo.
Parecidos, mas pouco...
“Quando cheguei ao MBA, não senti grandes dificuldades. Grande parte daquilo que nos ensinavam eu tinha visto meu pai fazer a vida toda”. É assim de forma prática que Paulo Azevedo, aborda a questão de ter um pai que dá pelo nome de Belmiro de Azevedo. Apesar do peso que esse nome lhe pudesse acarretar, quem conhece bem o filho do meio do engenheiro, como é tratado Belmiro dentro da Sonae, diz que este “sempre se soube resguardar”. Fontes próximas aos dois garantem que o “Paulo pode mesmo chegar mais longe que Belmiro”. Paulo, diz que é “um privilégio ter um líder como eng. Belmiro, que acredita muito na formação”. António Borges, diz que o filho de Belmiro, que “podia exercer um cargo de gestão em qualquer importante multinacional, tem sabido como ninguém gerir o facto de trabalhar com o pai”. Ou seja, “é realmente invulgar como o Paulo sabe gerir muito bem a gestão dependente, sem nunca esquecer que o grupo tem um líder e que esse líder é o seu pai”.
Em termos empresariais, António Borges diz que são “como a água e o vinho”. Belmiro faz parte da geração dos empresários fundadores e o Paulo “é o gestor que constrói as suas equipas e põe qualquer negócio em andamento”. E adianta: “O Paulo é ponderado nas suas decisões, mas é um gestor que arrisca, que gosta de fazer apostas, no fundo, que gosta de gerir com tudo o que isso implica”.
Amigos próximos garantem que os dois têm uma capacidade invulgar de trabalho, mas aqui talvez o pai seja mais forte, e rematam: “O eng. Belmiro é um tractor, o Paulo é mais débil fisicamente”.
De resto, o Paulo é mais conciliador e sobretudo melhor ouvinte. Belmiro de Azevedo é conhecido pelo seu temperamento emotivo, mas há quem garanta que, com a entrada do Paulo no conselho de administração, “Belmiro de Azevedo é um homem diferente, mais ponderado, se é que este é um adjectivo que se pode aplicar ao homem que gosta de dizer o que lhe vai na alma”.
Para muitos dos que o rodeiam, a sucessão do grupo Sonae não parece levantar muitas dúvidas. É que, afinal, um dos melhores gestores portugueses, veste a camisola Sonae e é filho do patrão. Belmiro que se cuide.
- Mensagens: 1700
- Registado: 26/11/2004 23:00
- Localização: Belém-Lisboa
1 Mensagem
|Página 1 de 1
Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: Abade19, alentejo41, Ano nimus, bpcolaco, Burbano, darkreflection, fosgass2020, Google Adsense [Bot], Goya777, icemetal, jls1, Kooc, latbal, malakas, Manchini888, Mavericks7, Mr.Warrior, MR32, nunorpsilva, O Magriço, PAULOJOAO, Phil2014, Simplório, StockRider!, tami, zeginocarvalho e 165 visitantes